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A semana de afirmação da alternativa da China

Geopolítica : A China afirma-se pela diferença em relação aos Estados Unidos, congregando apoios que vão além dos párias e dos deserdados de Donald Trump. Fê-lo esta semana, acrescentando uma demonstração de poder militar, para militares e vizinhos verem.

São duas imagens diferentes da mesma semana, dois instantâneos com um propósito complementar e com a ideia de assinalar uma mudança de era ou, pelo menos, a afirmação de uma ordem concorrente.
Primeiro, a foto marcante do 25º encontro do Conselho de Chefes de Estado da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla inglesa), que decorreu em Tianjin, na China, junta o presidente da China, Xi Jinping, ladeado pelo presidente da Federão Russa, Vladimir Putin, e pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
Estão sorridentes. Demonstra apoio a um pária, Putin, isolado pelo Ocidente na guerra que provocou ao invadir a Ucrânia, mas também a Modi, depois de Donald Trump ter anunciado a imposição de tarifas extraordinárias de 50% sobre os produtos importados da Índia, penalizando-a porque compra petróleo à Rússia.
Os Estados Unidos repelem a Índia, a China abraça-a, mesmo tendo em conta as tensões fronteiriças e as posições divergentes em questões de política regional.
“O slogan de campanha de Donald Trump – Make America Great Again – constituiu um sinal de que lidava mal com o fim do mundo unipolar e da hegemonia norte-americana e que considerava dispor de condições para voltar a colocar o país como a casa no topo da colina. No entanto, a sua política externa está longe de ir nesse sentido”, diz ao Jornal Económico José Filipe Pinto, professor catedrático da Universidade Lusófona.
“Trump ainda não percebeu que a influência americana no mundo deve ser conseguida por atração e não através de coerção. Daí a imposição de tarifas que penalizam muitos dos seus tradicionais aliados e que, como se viu no caso da Índia, os leva a aproximarem-se de outras ordens”, explica.
Refira-se que este foi o maior encontro da SCO, no qual participaram os 10 membros da organização, três países com o estatuto de observadores e, também, 12 “países parceiros de diálogo”. São asiáticos, mas também do Médio Oriente, de África e da Europa.
Três dias depois, Xi Jinping organizou uma demonstração de força, uma parada militar na icónica praça de Tiananmen, em Pequim, onde desfilaram 12 mil militares chineses e outros mil de 17 países diferentes. Na tribuna, o presidente chinês, e os convidados de honra foram Putin, de novo, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, outro pária. O desfile militar, apresentando novidades como mísseis hipersónicos e veículos não tripulados para ar, terra e mar, foi para o Ocidente ver, mas também para que os países da região tivessem este poder em conta.
Donald Trump reagiu através da sua rede social, como é seu timbre, cumprimentando os três chefes de Estado, mas dizendo que, na ocasião, conspiravam contra os Estados Unidos. A União Europeia também reagiu, apontando o dedo a Xi, que estaria a pôr em causa a ordem internacional. Este respondeu dizendo que não cede a pressões.
No entanto, a foto que marca este dia e que nos diz mais do que as da parada, foi tirada a seguir, quando Xi Jinping liderava uma coluna de chefes de Estado rumo ao banquete que se seguiu à cerimónia. Além de Putin e Jong-un, reconhecem-se os presidentes do Cazaquistão, do Uzbequistão, da Bielorrússia, entre outros. Estiveram presentes 26 chefes de Estado e de governo, num sinal de colaboração e de unidade do chamado Sul Global.

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