A metalomecânica, que tem sido o motor do crescimento das exportações portuguesas, que é responsável por mais de 30% dos bens vendidos ao exterior, está a ser ameaçada de estrangulamento pela política definida pela Comissão Europeia para proteger o setor do aço.
Parece um paradoxo, mas explica-se: a União Europeia (UE) estava preocupada com a ascensão fulgurante dos produtores asiáticos, particularmente da Índia e China, do setor da siderurgia e do domínio que passaram a ter sobre o mercado global. Assim, decidiu em 2018 e criou em 2019 um sistema de quotas anuais para a importação de aço de países terceiros, impondo taxas de 25% às quantidades que ultrapassassem os limites definidos.
Depois, com a pandemia de covid-19, a UE definiu um conjunto de matérias-primas que considera críticas para a sua autonomia. O aço foi uma delas.
“Eu diria que a Europa estagnou do ponto de vista da produção de aço. E certamente ficou para trás do ponto de vista tecnológico”, diz o presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), Vítor Neves, ao Jornal Económico (JE).
Na UE, a produção siderúrgica concentra-se na Alemanha, em Espanha, na Holanda e em França. Na Europa, acrescenta-se o Reino Unido. Mas 80% da produção é dominada por capital asiático.
Esta foi primeira ação da Comissão Europeia no sentido de proteger a indústria europeia da produção de aço, mas vai escalar, no quadro da guerra comercial iniciada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e da crispação com as políticas comerciais chinesas. A justificação é que os produtores chineses fazem dumping, vendem abaixo do custo.
A medida de salvaguarda existente acaba em junho de 2026, mas a ideia é que seja substituída por uma medida permanente que pode entrar em vigor a partir de janeiro, substituindo de imediato a medida de salvaguarda. Com isto, as taxas duplicam, para 50%, e as quotas deixem de ser por país e passam a ser agregadas, tudo o que vem de fora da UE.
“Acresce a isto que existem processos de antidumping a correr”, aponta Paulo Sousa, CEO da Colep Packaging. “Um que já foi concluído, nomeadamente com a China, impõe taxas em alguns materiais, por exemplo, na folha de flandres, material que utilizamos para a indústria de embalagens. Aplicam-se taxas que vão desde os 14% aos 60%”, explica. São taxas que acrescem às outras, reforça António Pedro Antunes, CEO da Metalogalva.
Já se preveem aumentos de 25% nos preços por tonelada de aço na Europa no próximo ano.
Metalomecânica : Campeão nacional ameaçado de estrangulamento
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O setor responsável por mais de 30% das exportações portuguesas está a ser ameaçado pela política protecionista decidida pela Comissão Europeia. Mais taxas e concorrência desleal vão ter um “impacto fortíssimo”, avisam os industriais, que pressionam o Governo.