As eleições europeias deixaram um gosto amargo nos partidos da direita. Sem nunca falarem em derrota, tanto o PSD como o CDS-PP reconheceram que ficaram aquém do desejado e assistiram em silêncio ao desfecho eleitoral, que pintou o mapa português de cor de rosa. A missão agora é reconquistar o eleitorado a tempo das legislativas, marcadas para daqui a pouco mais de quatro meses, e, para isso, os dois partidos apostam numa nova estratégia política para evitar novo ‘falhanço’ em outubro.
O calendário é apertado e não há tempo a perder. “É bastante difícil para a direita inverter o resultado destas eleições. O que pode acontecer é o PSD e CDS-PP conseguirem melhorar o resultado e garantir uma boa representatividade da direita em outubro”, afirma ao Jornal Económico o investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais (ICS), António Costa Pinto. Também José Adelino Maltez, catedrático da Universidade de Lisboa, considera que a tarefa é difícil, mas que até outubro “muita coisa pode acontecer”.
Imeditamente depois de serem conhecidos os resultados oficiais das europeias – 21,94% dos votos no PSD e 6,19% no CDS –, o líder social-democrata, Rui Rio, veio dizer que “não vale a pena tapar o sol com a peneira” e que a elevada taxa de abstenção é prova de que é necessário mudanças na forma de fazer campanhas e convencer os eleitores a irem votar.
Para Rio, não são mais as arruadas e os comícios que atraem votos. “Não atingimos os objetivos pretendidos para estas eleições (...) Fizemos uma campanha de uma forma tradicional, como se faz há muitos anos. Temos de ser capazes de arranjar novas formas de fazer campanha e fazer política. Devemos atuar diferente. Ser criativos nas campanhas e no dia a dia”, defendeu, apontando já uma nova estratégia para as legislativas.
Também no CDS-PP, os resultados pouco animadores forçaram a uma mudança política. Pouco depois de serem conhecidos os resultados, convocou o Conselho Nacional para uma reunião extraordinária nesta quinta-feira, que ainda decorria à hora de fecho da edição, sendo já conhecida a demissão do presidente da concelhia de Ovar, FernandoCamelo Almeida, por discordar da manutenção de AssunçãoCristas na presidência do partido.
Em comparação com as eleições de 2014, nas quais o PSD e o CDS-PP concorreram em coligação, apenas em Vila Real e na Madeira a direita conseguiu contrariar a vitória do PS. Já os distritos de Viana do Castelo, Braga, Bragança, Aveiro, Viseu e Leiria, que há cinco anos tinham votado maioritariamente na coligação da direita, deram este ano o voto ao rival PS.
Costa Pinto sublinha que a situação é especialmente crítica se tevemos em conta o contexto político e económico em que decorreram as duas eleições. “Convém notar que, em 2014, estávamos ainda num contexto de saída da austeridade e de Pedro Passos Coelho [então primeiro-ministro]”, lembra, salientando que a direita partiu para estas eleições “numa conjuntura muito difícil”. “O balanço dos quatro anos da governação do PS com as esquerdas surpreendeu os portugueses. Os resultados económicos foram francamente positivos, enquanto a direita continuava com uma política mais austera, e o PS capitalizou politicamente isso nas eleições, embora que de uma forma modesta”, explica.