A maioria das gestoras de empresas em Portugal, cerca de 60%, acredita que, no máximo, na próxima década, haverá igualdade de género na administração das organizações. A conclusão é do “Global Female Leaders Outlook”, elaborado pela KPMG e enviado ao Jornal Económico (JE).
Para quase todas as C-Level, administradoras ou diretoras de departamento entrevistadas (91%), que o escrutínio em torno deste tema, que ultimamente parece ter arrefecido, aumentará nos próximos três anos.
Por outro lado, praticamente metade das gestoras nacionais mostra-se pouco, ou nada, confiante em relação ao crescimento do PIB de Portugal nos próximos três anos. Mesmo dentro das suas empresas, a maioria espera um crescimento entre 0,01 e 4,99% na faturação, identificando como riscos de maior relevo as subidas na inflação e taxas de juro (16%), questões regulatórias (14%) e ameaças à cibersegurança (12%).
Susana Abreu, administradora da KPMG Portugal, considera que conclusões a retirar em três áreas: igualdade de género, perspetivas económicas e impacto do ESG. “Há uma ou duas décadas talvez fosse uma conquista longínqua, mas os dados que apresentamos neste estudo mostram a confiança das líderes portuguesas numa efetiva igualdade de género na administração das empresas no máximo nos próximos dez-15 anos”, destaca.
Segundo a executiva da consultora, o reconhecimento da importância da diversidade de género, em lugares de topo nas empresas é, cada vez mais, visto como uma fonte de “riqueza e multidisciplinariedade aos órgãos de decisão nas organizações”, como demonstram os 75% de mulheres, globalmente, que creem que este fator contribui para os objetivos de crescimento do negócio.
Quando se olha para as estimativas de crescimento do próprio país o otimismo não é tanto. “Há a sublinhar a pouca confiança que a quase maioria das inquiridas nacionais tem em relação ao crescimento da economia portuguesa nos próximos três anos, uma tendência que contrasta com a opinião que têm em relação à economia mundial, com apenas 31% a mostrar algum ceticismo em relação à sua evolução positiva”, alerta a ainda partner de Auditoria e Assurance da KPMG Portugal.
Questionada sobre os critérios ESG e como o ‘G’ de Governance volta a mostrar-se como o parente pobre destas siglas, Susana Abreu reconhece que, neste estudo, 39% diz que nos próximos três anos tenciona centrar-se nas questões ambientais e de proteção do clima, 29% nos temas sociais e apenas 22% na governação (abaixo dos 26% em 2022).
“Parece indicar um menor foco no “G”. Mas é preciso notar que as empresas cotadas já tinham exigências relevantes em termos de estrutura e práticas de governo das sociedades, sendo estes temas relatados obrigatoriamente no relatório sobre o governo das sociedades”, esclarece, sobre o processo de tomada de decisões nas empresas e aos sistemas e processos através dos quais as decisões são implementadas.
E declara: “O governo das sociedades é assim um elemento critico que pode afetar o perfil de risco e o desempenho de longo prazo de uma empresa. Por essa razão, não creio ser possível ser bem-sucedido nas dimensões E - Environmental e S - Social sem o G”.
O inquérito internacional, no qual Portugal participou com o quarto maior número de entrevistas entre 53 países, ocorreu durante o primeiro semestre e envolveu 850 participantes, que responderam a perguntas do foro pessoal e profissional. Por exemplo, aproximadamente 90% das inquiridas em Portugal e 80% a nível global acha que a sua carga de trabalho tem vindo a aumentar devido ao contexto geopolítico e às crises socioeconómicas, como a pandemia, e 64% assinalou que isso está interferir diretamente na vida familiar e privada.