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CEO da Mota-Engil. "Até ao final do ano vamos atingir um volume de negócios de 5 mil milhões"

Em entrevista ao JE, o CEO da Mota-Engil – que esta quarta-feira apresentou resultados até setembro – diz que espera fechar o ano com um volume de negócios de, pelo menos, 5 mil milhões de euros. Sobre a atual crise política, reconhece que é um "contexto esdrúxulo" que "não é benéfico" para as empresas. Mas a Mota-Engil tem uma carteira de projetos que o deixa descansado.

Quais serão os principais destaques daquilo que vai ser o resto do ano de 2023 e depois 2024 para a Mota-Engil? O que é que nós podemos esperar?

No terceiro trimestre, como viu no Trade Update que publicámos [terça-feira], atingimos o recorde em termos de volume de negócios. Ou seja, nunca tínhamos atingido um volume de negócios tão alto num ano inteiro. E conseguimos atingi-lo nos primeiros nove meses do ano, em linha com aquilo que são as nossas margens históricas em termos operacionais. No EBITDA, continuamos a ter um EBITDA que nós estipulamos como sendo dos melhores da indústria. Mas mais importante que isso, do que esse crescimento, é que estamos na trajetória ascendente em termos de resultados líquidos do grupo. Como penso que o Nuno sabe, em 2026 nós temos o objectivo de atingir uma margem líquida de 3%, resultado atribuível ao grupo. E aquilo que temos vindo a dizer é que nós temos um caminho até 2026, um caminho que seja sustentável, mas sempre numa trajectória ascendente. Pelo que este resultado que nós temos neste trimestre indicia isso mesmo, indicia que estamos nessa trajetória ascendente.

Essa trajectória ascendente reflecte o quê?

O que isso reflete é a nossa estratégia, que temos vindo a comunicar, de execução com rentabilidade. Nós hoje temos uma carteira de encomendas saudável, muito saudável, não só em termos de dimensão, mas sobretudo em termos de perfil de cashflow, em termos de rentabilidade. E o grande desafio que temos e que tivemos para este ano é o da execução dessa carteira e de fazer o delivery em termos da rentabilidade com que nos comprometemos, pelo que para o final deste ano a expectativa que temos é a de atingir um volume de negócios que vá atingir pelo menos 5 mil milhões de euros. Ou seja, a trajectória trajectória ascendente irá continuar. Também temos a expectativa de continuar a manter e a entregar as margens em termos operacionais que temos vindo a entregar aos nossos acionistas e ao mercado. Mas, acima de tudo, reforçar, em termos de rentabilidade líquida, aquilo que é o nosso comprometimento na trajetória ascendente até 2026.

E além destas vertentes?

Tão importante como isto é algo a que esta gestão tem dado muita atenção: a dívida. Nós não fizemos o disclosure da dívida porque não o podemos fazer agora no trimestre. Mas fizemos o disclosure de dois rácios que são muito importantes e que evidenciam, de facto, que esta estratégia está a ter resultado. O nosso rácio da dívida líquida sobre o EBITDA está abaixo das duas vezes, ou seja, mantemo-nos abaixo das duas vezes quer no objectivo para 2026, que já tínhamos atingido em 2022, e a partir de então nós comprometemo-nos todos os anos em fazer esse delivery de ter esse rácio abaixo das duas vezes.

Qual é o outro? 

E tão importante como esse é o rácio da dívida bruta, que está abaixo das quatro vezes. Também era um objectivo para 2026 e que já no semestre o tínhamos atingido. Nesse sentido, e baseado na carteira de encomendas que temos neste momento – que apesar do consumo da carteira pela atividade, não só mantivemos, como reforçamos em 1.000 milhões – é que para o próximo ano iremos ter um crescimento novamente face ao exercício de 2023. Mas mais importante que o crescimento em termos absolutos, é continuar a entregar aquilo que é o principal objetivo: maior rentabilidade líquida. Mantermo-nos em termos de rentabilidade operacional, reforçar aquilo que é a nossa atividade fora da engenharia de construção, em concreto no ambiente, explorar novas oportunidades e, acima de tudo, ou tão importante, mantermo-nos em termos de balanço e de gestão financeira com a dívida controlada, diminuindo os rácios de dívida e aumentando a autonomia financeira do grupo, que é o maior sinal da fortaleza e da saúde do balanço do grupo.

Tudo junto, estão bastante otimistas para a atividade do grupo em 2024, certo? 

Por tudo isto estamos muito positivos para o ano de 2024, porque acreditamos não só em todas as oportunidades que existem nos diversos mercados onde estamos a operar, mas sobretudo porque temos a vantagem de estar com uma carteira de encomendas muito confortável, com muita qualidade e que nos permite ser muito mais seletivos na nossa atividade comercial e procurar angariar carteiras com ainda maior qualidade. Por isso, 2024 será um ano – na minha perspetiva – muito positivo para a Mota-Engil também.

O contexto internacional, geopolítico e macroeconómico, em 2024 não vos preocupa nem um bocadinho?

O contexto geopolítico e em termos macroeconómicos, nomeadamente este de taxas de juro elevadas e inflação ainda elevada, é um contexto que, apesar de não ser novidade porque já o tínhamos desde o ano passado, é um contexto que agora se viu agravado por esta crise no Médio Oriente. Obviamente que nós temos que estar e estamos muito atentos a todas essas ameaças. Mas nós também acreditamos que é no contexto das ameaças que surgem as maiores oportunidades e, seguramente, nós, que é aquilo que tem sido a nossa história, vamos saber aproveitar algumas dessas oportunidades. Mas mais importante do que isso – e é o que nos reforça em termos de tranquilidade – é que a carteira de encomendas que temos neste momento nos salvaguarda para o ano de 2024 e 2025. Estamos a falar de uma carteira de encomendas não só de contratos assinados, mas de contratos que estão financiados.

Então qual é o desafio para esses dois anos?

O grande desafio para 2024 e 2025, para além desta gestão criteriosa a nível de contexto geopolítico e criteriosa a nível de de subida de taxas de juro, é o da execução dessa carteira que temos contratada. Tal como foi o desafio para este ano, que foi  o de executar a carteira, materializar aquilo que estamos obrigados a fazer. Ou seja, é operar. Por outro lado, todos sabemos que nas crises económicas, a indústria da construção tem sempre um comportamento um pouco mais lento, não só a entrar em crise, mas também depois é aquela que sai mais rapidamente por força da necessidade de investimentos, daquilo que é o modelo tradicional de investimentos em infraestruturas. E se quisermos ver um exemplo disso, basta ver o salto – diria quântico – que tivemos na nossa carteira de encomendas no ano de 2021, sobretudo, mas também algo no ano 2020, em plena crise do Covid. O Covid, na realidade, acabou não por beneficiar o grupo, mas o grupo soube aproveitar, por força da crise pandémica global, soube aproveitar em diversas geografias o investimento e o salto que se deu em termos de investimento de infraestruturas.

Temos visto a performance da Mota-Engil em várias geografias, com vários projetos espalhados um pouco por todo o lado. E o ambiente de negócios em Portugal? Nesta passagem para 2024, tudo aponta para um ano um pouco mais retraído em Portugal.

Antes de falar de 2024, eu queria reforçar que este ano nós tivemos – e os números que hoje apresentamos têm uma nota positiva e de esperança – é que nós crescemos 30% na Europa. Embora o grande crescimento tenha acontecido na América Latina, a Europa – que basicamente conta com o mercado português e com o mercado polaco – teve um crescimento muito expressivo de 30%. E é de realçar esse facto, até um ano em que, diria, não houve grandes novidades em termos de grandes projetos, mas o que denota é que há aqui uma consistência e uma resiliência, nomeadamente no que diz respeito ao sector da construção. E eu estou a falar de 30% só na engenharia de construção aqui na Europa.

E quanto ao contexto que vivemos por cá?

Para responder à sua questão: ora repare, é claro que todo este contexto que hoje vivemos não é benéfico. Não vale a pena dizer que é benéfico porque não é. Nem para o país, nem para a economia e, consequentemente, nem para as empresas. Independentemente disso, nós temos a nossa carteira de encomendas para 2024 já estabelecida para o mercado português. É uma carteira que – à semelhança do resto da carteira do grupo – é muito, muito positiva em termos de rentabilidade e em termos de perfil de projectos. E, a par disso, acreditamos que há uma série de outros projetos que estão neste momento previstos para ir a concurso e outros que já estão concursados. Que nós temos muita expectativa de vir a ter sucesso e de vir a participar nos mesmos. Por isso, apesar deste contexto, algo esdrúxulo que estamos a viver, a nossa perspetiva continua a ser uma perspetiva positiva para o mercado português, naquilo que a nós nos diz respeito.

No capítulo dos grandes projetos. A Mota-Engil tinha boas possibilidades de entrar no projeto do aeroporto do Montijo, certo? 

Nós contamos sempre participar nos projetos que são os projetos icónicos em Portugal.

Que agora estão parados, mais ou menos paralisados.

No caso específico do aeroporto, sim. Mas na realidade – como o Nuno sabe – o projeto do Montijo nunca avançou por força do problema do chumbo do Município do Seixal e do Município da Moita. E depois, infelizmente, passado um mês iniciou o período do Covid e foi o que foi. Mas o que eu quero dizer em relação a esse projeto e a outros projetos é que, seja qual for o projeto em Portugal que se faça em termos de infraestruturas, e com a importância que eles têm, nós queremos sempre ser um ator nesses projetos e temos sempre essa expectativa.

Qual é o projeto que mais o entusiasma atualmente na Mota-Engil?

Olhe, eu vou ser sincero: a nível da engenharia e construção, obviamente que todos estes projetos, digamos, de ferrovia que nós temos vindo a fazer. Nós hoje somos, provavelmente, o maior construtor ferroviário europeu, porque a par dos projetos do México, do famoso Tren Maia, que são projetos gigantescos, a par do projeto que estamos a fazer na Nigéria, que é a nossa maior obra de sempre, um ferrocarril, a par do corredor do Lobito, de que agora somos os concessionários. Estes projetos, de facto, são aquilo que enche mais o olho e que, por outro lado, nos nos dá uma capacidade, uma experiência e uma competitividade que nos irá beneficiar, acredito eu, naquilo que é o grande projeto aqui em Portugal, que será a Alta Velocidade. Por isso a área ferroviária, sem dúvida, a nível da engenharia e construção é hoje o nosso diamante mais luminoso.

Há mais alguma?

Por outro lado, há uma área pela qual eu tenho, não carinho, mas pela qual tenho uma grande crença para o futuro, que é a área do ambiente. Eu acho que a nossa área do ambiente – a qual reforçámos recentemente, apesar de a transação ainda não estar concluída, pelo acordo de saída dos nossos sócios espanhóis – é uma área que para nós será fundamental. Não só em Portugal, por toda a dinâmica, por toda a exigência e por toda a evolução que o setor está a traçar e irá traçar ainda no futuro – devido à cada vez maior exigência em termos de metas ambientais, em termos de exigência de políticas ambientais – mas também porque acreditamos que nos outros mercados onde estamos, onde temos uma presença importante, isso será também importante. Mas, sobretudo em Portugal, achamos que é uma área não só do futuro, mas que vai ter uma transformação total, em que várias oportunidades irão surgir. Oportunidades que, provavelmente, hoje ainda não antevemos, mas com a qual nós temos uma posição, diria que que singular e inigualável, pelo facto de sermos o maior operador ambiental em Portugal.