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Investidores aguardam reembolsos do dinheiro aplicado em bio refinaria de Leiria

A empresa Bio Green Woods está em PER – Processo Especial de Revitalização. Plataforma de ‘crowdlending’ Goparity diz que “nada fazia antecipar” este desfecho “nem a situação financeira da empresa” no momento das campanhas que angariaram mais de 700 mil euros.

Há investidores a aguardar os reembolsos do que emprestaram para o projeto de construção da “primeira bio refinaria de última geração” em Portugal, cuja empresa promotora se encontra em dificuldades financeiras. Entre os mais de sete mil investidores na fábrica da Bio Green Woods (BGW), há quem se sinta “lesado”, mas a plataforma de crowdlending Goparity, através da qual investiram, diz ao Jornal Económico (JE) que nada fazia prever um desfecho destes.

“O processo da Bio Green Woods tomou um rumo que nada fazia antecipar, nem a situação financeira da empresa no momento da análise, nem o conjunto de investidores e equipa que levou o projeto a cabo. Infelizmente, por circunstâncias que não controlamos, uma série de eventos, relacionados com a gestão da empresa e acionistas, culminou num PER – Plano Especial de Revitalização decretado no verão de 2023”, respondeu ao JE a Goparity.

A BGW fez nove empréstimos na Goparity. As últimas atualizações no calendário da plataforma mostram que a nona campanha Bio Green Woods (IX) abriu a 25 de outubro do ano passado e logo no mês seguinte, a 3 de novembro de 2022, o projeto ficou 100% financiado por 595 investidores que angariam mais 75 mil euros necessários.

A primeira tranche do pagamento terá ocorrido a 7 de dezembro e, a partir daí, não há mais informações disponíveis. A previsão é que os pagamentos aos investidores ocorressem mensalmente durante cinco anos com juros de 6,95%. A GoParity categorizava a iniciativa com um nível de risco C+. Assim, as nove campanhas conseguiram recolher 725 mil euros, de mais de sete mil investidores, abaixo do objetivo de um milhão de euros.

“A Goparity, em representação dos seus utilizadores, apresentou devidamente a sua reclamação de créditos neste processo, que contemplava e reconhece também as garantias, penhores mobiliários, sobre os ativos adquiridos com o financiamento”, revela fonte oficial ao JE.

A unidade em Alvaiázere, que estava em funcionamento desde maio do ano passado e deveria ser financiada em 16 milhões de euros (equity, emissão de dívida, subsídios do Estado e campanhas de crowdlending) propunha-se a produzir todos os anos oito mil toneladas de carvão vegetal e briquetes e 50 toneladas de óleo de eucalipto, entre outros produtos, segundo o jornal regional “Região de Leiria“.

Há, pelo menos, várias semanas que o website da BGW se encontra “em construção” e os números de telefone nos contactos que são disponibilizados não estão atribuídos. “Temos vindo a manter uma comunicação ativa e frequente com a empresa sendo que, sempre que existe alguma atualização, a mesma é comunicada aos investidores”, adianta a empresa cofundada e liderada por Nuno Brito Jorge, acrescentando que a comunicação é realizada via email e no campo ‘Atualizações’ na página do projeto em cada área de utilizador.

A startup da Casa do Impacto esclarece ainda que recebeu 103 perguntas de utilizadores da app de investimento sustentável sobre este projeto – respondeu a todas – e que a BGW também esteve em contacto com os investidores há cerca de três meses. Ou seja, todos os investidores foram devidamente informados da entrada no PER.

“Neste, como em qualquer outro projeto onde possam ocorrer atrasos ou problemas nos pagamentos, a Goparity enceta todos os esforços possíveis no processo de recuperação de dívida (em representação dos nossos utilizadores) e assim o continuaremos a fazer”, afirma a entidade autorizada e regulada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A GoParity remete outras dúvidas dos investidores para a própria BGW ou para a administradora judicial nomeada, Graciana Figueiredo, no âmbito do Processo 2328/23.2T8LRA – PER, que corre seus termos pelo Juízo de Comércio – Juiz 1 do Tribunal Judicial da Comarca de Leiria. O JE tentou contactar o então CEO, Sérgio Silva, mas até à edição e publicação deste artigo não foi possível obter comentários.

“Um projeto de futuro”

O anterior Governo foi uma das instituições que mostrou interesse no trabalho desenvolvido pela BGW, como mostram as imagens da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, numa visita à sede da empresa, em Oliveira de Frades, no verão de 2020. O promotor, Sérgio Silva, recebeu também a secretária de Estado da Valorização do Interior (agora secretária de Estado do Desenvolvimento Regional), Isabel Ferreira.

“Um projeto de futuro baseado na economia circular e com forte aposta nos territórios do Interior. Obrigada por nos mostrarem o que fazem e por aproveitarem alguns dos melhores recursos que o Interior tem”, descrevia a governante, de acordo com a publicação na rede social X (ex-Twitter).

 

 

Fundada em 2005, a BGW recebeu ainda um investimento de mais de 4 milhões de euros de fundos geridos pela BlueCrow para desenvolver o seu projeto nacional de destilação de madeira e biomassa para produzir carvão vegetal (alegadamente 100% ecológico e com elevado teor de carbono fixo), gás suscetível de ser convertido em energia elétrica e produtos químicos de origem