O Governo prepara-se para lançar um leilão para atribuir a potência da ligação da antiga central a carvão da EDP em Sines, que tinha um ponto de ligação com 1.256 megawatts (MW). O objetivo é atribuir esta potência à produção de energias renováveis na zona de Sines.
"Da potência disponível em Sines, associada à antiga central termoelétrica a carvão, encontram-se reservados 800 MW destinados à promoção do uso local de energias renováveis, a qual é utilizada nos termos a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da energia. Neste âmbito, encontra-se em definição os termos do procedimento concorrencial a lançar", segundo a resposta do gabinete de imprensa do ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC).
"A potência remanescente foi reafetada às zonas de rede do Alentejo e Algarve", disse a tutela sobre os 456 MW que ficaram de fora do leilão.
"Com o encerramento da Central Termoelétrica a Carvão de Sines, a Licença de Produção associada foi extinta, pelo que a EDP não detém atualmente quaisquer direitos associados ao ponto de ligação da antiga Central a Carvão, nem posição preferencial num eventual procedimento concorrencial", segundo o MAAC.
Vários projetos para a zona já submeteram os seus pedidos de avaliação de impacte ambiental: central fotovoltaica do Cercal (223 MVA), central de Santiago do Cacém (1.200 MWp) e central eólica Morgavel (49 MW), ascendendo a quase 1,5 gigawatts.
Além do mais, existem projetos para o eólico offshore na calha para o mar ao largo de Sines: 1,5 gigawatts do total de 10 gigawatts previstos para Portugal. Destes, 500 megawatts poderão entrar já no primeiro leilão que deverá ter lugar ainda este ano.
Mas há mais projetos na calha para aquela região particularmente para a fileira do hidrogénio verde, que vão precisar de eletricidade verde. Sines tem cinco projetos previstos de hidrogénio verde: o projeto da Galp para passar a usar hidrogénio verde na sua refinaria (100 MW); o projeto GreenH2Atlantic, um consórcio que conta com a EDP e a Galp a bordo, que deverá ser construído no local da antiga central a carvão da EDP (eletrolisador de 100 MW) ou o projeto H2 Sines da Engie/Shell, (eletrolisador de 100 MW) com o objetivo de exportar hidrogénio para os Países Baixos através de navios para ser consumido na indústria local.
Também o projeto MadoquaPower2X, que prevê um eletrolisador de 500 megawatts, para produzir hidrogénio verde e amónia verde, um consórcio formado pela Madoqua Renewables, Power2X e Copenhagen Infrastructure Partners (CIP) e o projeto da NGreen Hydrogen Sines que planeia construir uma fábrica de E-metanol, que conta com um eletrolisador de 330 MW. É verdade que muitos destes projetos preveem as suas próprias centrais eólicas e solares para produzir o hidrogénio verde, mas resta saber quantos irão necessitar de ir buscar energia à rede e em que quantidades. Total para projetos de hidrogénio verde: 1,3 gigawatts.
O CEO da Galp defendeu recentemente uma atribuição inteligente da rede elétrica em Sines. Os projetos contemplados com a rede elétrica disponível devem fazer sentido numa lógica de transição energética.
"Só para substituir a unidade em Sines, onde se faz o hidrogénio hoje a partir de gás natural, precisamos de 600 megawatts (MW,) seis vezes mais do que o que estamos agora a construir. Já nos foi concedida a capacidade para avançar com os primeiros 100 MW de eletrólise", disse Filipe Silva, referindo-se ao investimento de 250 milhões de euros que visa a construção de um eletrolisador com capacidade de 100 MW para substituir o atual hidrogénio cinzento consumido na refinaria por hidrogénio verde.
Mas o objetivo da companhia é a expansão do projeto. "A principal limitação vai ser a capacidade destes eletrões todos chegarem a Sines. A Galp precisa de capacidade de interconexão à rede e à subestação de Sines. Logo que tivermos acesso a essa rede podemos tomar decisões de escalar os primeiros 100 MW para 200/300/400 ou 500 MW", afirmou em declarações aos jornalistas à margem da inauguração da primeira central solar da empresa em Portugal, localizada em Alcoutim, Faro.
"É uma questão de prioridades. Sines tinha uma grande central a carvão da EDP, mais de 1.200 MW ficaram disponíveis, vai ser agora necessária alocar essa capacidade para os projetos que tiverem maior impacto no planeta. Há muita gente a querer fazer projetos em Sines, mas seria necessário priorizar. A interconexão é um bem escasso, vai ter de ser priorizada a alocação para os projetos que fazem maior diferença nos projetos em termos de menos emissões para a atmosfera", acrescentou o gestor a 29 de setembro, apontando que a decisão sobre a atribuição dos projetos está nas mãos do Governo.
Em relação às declarações do CEO da Galp, a tutela disse que "é importante distinguir entre capacidade de rede para injeção e a capacidade de rede para consumo, sendo que a potência atribuída à Galp, para desenvolvimento dos projetos mencionados, é referente a consumo".
Neste âmbito, o MAAC destaca também o "procedimento previsto no Decreto-Lei n.º 80/2023. Trata-se de um procedimento excecional aplicável em zonas de grande procura e tem como finalidade a atribuição de capacidade de ligação à rede de instalações de consumo de energia elétrica. O diploma reconhece a área territorial de Sines como zona de procura sujeita ao procedimento excecional".
A REN alertou no seu plano PDIRT 2022-2031 (investimentos para a rede nacional de transporte de eletricidade) para a questão dos inúmeros pedidos para a zona de Sines e o facto de a rede não estar preparada para tantos projetos. "O ORT [a REN] tem vindo a ser confrontado com um elevado número de pedidos de informação por parte de entidades externas relacionados com a hipótese de instalação na zona de Sines de diversos novos projetos industriais de grande dimensão, alguns dos quais associados com produção de hidrogénio".
Desta forma, revelava que encontrava-se em estudo a possibilidade de expandir a operação na zona. "Face ao número de casos e à dimensão em potência requerida pelos projetos em causa, num contexto de quase saturação da atual subestação de Sines da RNT, encontra-se em estudo a possibilidade de abertura de uma nova instalação da RNT na zona, que permita, por um lado criar condições para a requerida ligação e alimentação destes novos consumos, e por outro evitar uma excessiva concentração de potência numa única subestação, com riscos acrescidos de fiabilidade e segurança de operação da rede, vistos tanto a um nível local como também mais global da rede".
"A localização e constituição desta nova instalação, previsivelmente uma nova subestação 400/150 kV, mas numa fase inicial apenas com o nível de 400 kV, terá de ter em consideração os polos de consumo e de produção já existentes e futuros, no sentido de incorporar uma visão global que permita uma otimização de conjunto, quer do ponto de vista de ordenamento do território, com minimização da quantidade e comprimento de novos circuitos de linhas necessários criar na região para a integração dos novos projetos previstos, quer do ponto de vista da eficiência financeira, administrativa e de prazos de concretização subjacente a este desígnio de otimização", segundo o documento.