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"IDE da Europa é crucial para o desenvolvimento da indústria egípcia", destaca presidente da WEC Egito

Em entrevista, Mohamed El Derwy, presidente da World Employment Confederation Egypt, explica os esforços do seu país está a fazer para relançar o desenvolvimento da economia. A conferência World Employment Confederation (WEC) conta pela primeira vez com a presença daquele país africano.

Mohamed El Derwy, presidente da WEC Egito, mostra como o país está a avançar no cumprimento das normas da Organização Internacional do Trabalho. O governo egípcio tem defendido a indústria de outsourcing no país, e tem promovido o crescimento do sector. O crescimento desta área rondará os 20% só em 2024, e com a meta de alcançar os 10 mil milhões de dólares até 2026.

A World Employment Conference, evento anual que reúne uma rede global de profissionais do setor dos Recursos Humanos, ocorre entre hoje e 25 de abril, em Lisboa. A conferência pretende ser palco de debates, apresentações e networking entre os profissionais do setor, que chegam de diferentes países.

Que tem o Egito para oferecer em termos do mercado de trabalho?  Quais são as habilitações gerais em termos de formação pré e pós entrada no mercado de trabalho?

No mercado de trabalho egípcio, existe uma diversidade de oportunidades em vários sectores, tanto tradicionais como emergentes. Nos sectores tradicionais, a agricultura continua a ser uma importante fonte de emprego, especialmente nas zonas rurais. O turismo também desempenha um papel importante, oferecendo uma vasta gama de empregos na indústria hoteleira, apesar da volatilidade deste sector. A construção é outro sector relevante, com projetos de infraestruturas em curso que geram procura de mão de obra qualificada e não qualificada. Além disso, uma parte considerável da força de trabalho está empregada no sector público. Nos setores em crescimento, as tecnologias de informação e comunicação (TIC) registam uma elevada procura, com oportunidades para programadores de software, especialistas em TI e profissionais de marketing digital. As energias renováveis também estão a aumentar, com o governo a apostar na energia solar e eólica, criando assim novas oportunidades de emprego. O sector da indústria transformadora também está a receber atenção, com o país a procurar reforçar esta área e criar empregos. Além disso, a expansão das instalações médicas abre possibilidades para médicos, enfermeiros e profissionais de saúde afins.

No que diz respeito às qualificações exigidas, observam-se algumas tendências gerais: um diploma universitário é frequentemente preferido, especialmente para empregos de ‘colarinho branco’. No entanto, os diplomas técnicos e a formação profissional são também valorizados em sectores específicos. A proficiência em inglês é um fator diferenciador significativo, especialmente para empregos em empresas multinacionais e em muitos sectores. Além disso, as competências digitais são muito procuradas. Mesmo para os postos de trabalho de nível inicial, pode ser exigido algum tipo de estágio ou experiência de trabalho a tempo parcial, demonstrando assim familiaridade com o ambiente de trabalho e acrescentando valor ao currículo do candidato.

Que condições apresenta o país no que tem a ver com segurança do emprego, direitos laborais, segurança social e pagamento de reformas?

O Egito oferece uma variedade de condições relacionadas com a segurança do emprego, os direitos laborais, a segurança social e o pagamento de pensões. No que se refere à segurança do emprego, os postos de trabalho no sector público e em algumas grandes empresas privadas proporcionam geralmente uma maior estabilidade devido a uma regulamentação mais rigorosa e a contratos permanentes. No sector não governamental, onde está empregada uma parte considerável da mão de obra egípcia, as prestações pecuniárias são mais comuns e os contratos tendem a ser a termo certo. Quanto aos direitos laborais, o Egito dispõe de legislação que protege os trabalhadores, garantindo aspetos como o salário mínimo, o horário de trabalho, as baixas por doença e o tempo de férias. Estes direitos aplicam-se a todos os trabalhadores, independentemente de pertencerem ao sector público ou privado. No que diz respeito à segurança social, o país dispõe de um sistema que oferece benefícios como pensões, subsídios de desemprego, baixas por doença e maternidade, bem como indemnizações por acidentes de trabalho. Tanto os empregadores como os trabalhadores contribuem com uma parte do seu salário para este sistema. No que se refere às pensões, os trabalhadores que atingem a idade de 60 anos têm direito a receber uma pensão, estando previsto um aumento da idade de reforma até 2032. O Governo egípcio está empenhado em melhorar a cobertura da segurança social e em reforçar a aplicação dos direitos laborais, o que reflete uma preocupação com o bem-estar e a proteção dos trabalhadores no país.

Que tipo de indústrias são as mais pretendidas pelo Egito?

O Egito está interessado em vários sectores industriais, cada um com a sua própria importância estratégica e potencial de crescimento. A indústria transformadora é um sector importante, com o objetivo de expandir a sua base para impulsionar a criação de emprego e reduzir a dependência das importações. Este sector inclui áreas como os têxteis e o vestuário, os produtos farmacêuticos e médicos, os componentes automóveis, a eletrónica e os eletrodomésticos e a transformação de alimentos. Outro sector em destaque é o das tecnologias da informação e da comunicação (TIC), com o Egito a procurar tornar-se um centro tecnológico regional. Este sector abrange o desenvolvimento de software, centros de dados e serviços em nuvem, marketing digital e comércio eletrónico e cibersegurança. As energias renováveis são um domínio de grande interesse, dada a grande incidência de luz solar e o potencial eólico. A tónica é colocada na produção de energia solar, nos parques eólicos e na produção de hidrogénio verde. No sector agrícola, há um esforço para melhorar a produtividade e a eficiência, incluindo a modernização, a adoção de tecnologia, a transformação de produtos agrícolas e práticas agrícolas sustentáveis. O turismo continua a ser um pilar económico tradicional, com esforços para melhorar e diversificar, incluindo experiências de luxo e de ecoturismo, desenvolvendo áreas menos exploradas do Mar Vermelho e promovendo o turismo cultural e histórico. Para além destes setores principais, há outros em desenvolvimento, como a construção, a logística e os transportes e os cuidados de saúde, todos eles impulsionados por uma variedade de fatores, desde projetos de infraestruturas à localização estratégica do país e iniciativas para expandir os serviços de saúde.

Há um quadro de apoio ao investimento direto estrangeiro? Qual?

Sim, o Egito criou estruturas de apoio ao investimento direto estrangeiro (IDE). A principal delas é a Lei do Investimento, que constitui a base jurídica para o IDE no país. Esta lei prevê uma série de proteções para os investidores estrangeiros e simplifica os procedimentos de investimento. Além disso, existem os Regulamentos Executivos da Lei do Investimento, que detalham os procedimentos e requisitos de forma mais específica. Outra iniciativa importante é o Programa de Proteção do Capital de Investimento Estrangeiro, que visa proteger os investimentos estrangeiros no país. Além disso, é concedida uma ‘Golden Licence’ a grandes projetos e empresas envolvidas em projetos nacionais no Egito. A Autoridade Geral para o Investimento e as Zonas Francas (GAFI) é o principal organismo governamental responsável pelo IDE no Egito. Oferece uma série de serviços, incluindo o registo e o licenciamento de empresas, assistência aos investidores através de um balcão único, mecanismos de resolução de litígios e a promoção de oportunidades de investimento. Em termos de considerações importantes, o Egito oferece vários incentivos ao IDE, especialmente em sectores estratégicos. Estes incentivos podem incluir isenções fiscais, atribuição de terrenos e isenções aduaneiras. Além disso, o país tem trabalhado para reformar e atualizar o seu quadro de investimento, a fim de aumentar a sua competitividade e atratividade para os investidores estrangeiros.

Que grandes empresas já se encontram a laborar no Egito?

No Egito, já existem várias grandes empresas a operar em diversos sectores, contribuindo significativamente para a economia do país. Empresas como a Nestlé, a Procter & Gamble, a Coca-Cola e a Unilever dominam o sector dos bens de consumo e do retalho, enquanto a Vodafone, a Orange e a Huawei lideram o sector da tecnologia e das telecomunicações. Sectores como o do petróleo e do gás são dominados por gigantes como a BP e a Shell. No sector automóvel, marcas como a General Motors, a Nissan e a Toyota têm uma forte presença. Estas empresas, bem como outras, desempenham um papel crucial no desenvolvimento económico e industrial do Egito.

Que empresas portuguesas já se encontram a laborar no Egito?

Algumas das empresas portuguesas que já operam no Egito são a WeDo Technologies, uma das maiores operações portuguesas no país, vocacionada para o sector das telecomunicações, fornecendo software e serviços a grandes empresas de telecomunicações egípcias. O Grupo Petrotec é outro exemplo, fabricando equipamentos, soluções e serviços para a indústria do petróleo e gás, com exportações para o mercado egípcio. A Norvia Consultancy é uma empresa de consultoria de engenharia envolvida em projetos de desenvolvimento em todo o Egito. A Procifisc - Engenharia e Consultadoria, também atua na área da engenharia e consultoria, com projetos em sectores como o turismo, a saúde, o comércio e a indústria. Por outro lado, a STRIX é uma empresa de consultoria ambiental especializada em projetos de energias renováveis, com uma presença significativa no Egito, nomeadamente em projetos eólicos e solares.

Porque lhe parece interessante captar trabalhadores portugueses?

A contratação de trabalhadores portugueses pode ser interessante. Alguns projetos e missões especiais no Egito podem exigir a presença de expatriados portugueses, devido à sua vasta experiência em projetos semelhantes. Os trabalhadores portugueses podem trazer conhecimentos especializados e competências necessárias para impulsionar o sucesso destes projetos no Egito. Além disso, o Egito pode também tornar-se uma importante fonte de mão de obra para Portugal e outros países europeus. O estabelecimento de uma colaboração neste domínio pode promover o intercâmbio de talentos e criar oportunidades de desenvolvimento profissional para ambos os países.

Está o Egito interessado em promover uma aproximação económica com a União Europeia? De que forma?

O Egito tem todo o interesse em promover o estreitamento dos laços económicos com a União Europeia (UE) por várias razões. A UE é um dos maiores parceiros comerciais do Egito e o aumento do comércio traz oportunidades de crescimento económico e de criação de emprego. Além disso, o Egito procura atrair mais IDE da Europa, que é crucial para o desenvolvimento das suas indústrias. O país também deseja ter acesso à tecnologia e aos conhecimentos europeus, especialmente em sectores prioritários como as energias renováveis e a indústria transformadora. Além disso, o Egipto vê a UE como um parceiro valioso para a cooperação em questões regionais como a segurança, a migração e o desenvolvimento. A proximidade económica pode melhorar o acesso do Egito aos vastos mercados europeus. Para promover esta aproximação, o Egipto adota várias estratégias, incluindo acordos comerciais e de investimento, participação em iniciativas da UE, visitas e diálogos de alto nível e cooperação sectorial em domínios como as energias renováveis, a agricultura e a economia digital. Estas iniciativas visam impulsionar o crescimento económico e promover o desenvolvimento sustentável no Egito.

Qual é o maior parceiro comercial do Egito neste momento?

Atualmente, o principal parceiro comercial do Egito varia consoante se considerem as exportações ou as importações. Em termos de exportações, a Itália é o principal destino das exportações egípcias, enquanto a China é a maior fonte de importações para o Egito. No entanto, se considerarmos tanto as importações como as exportações, a China continua a ser o maior parceiro comercial do Egito em termos de volume total de comércio. Além disso, os outros parceiros comerciais importantes do Egito incluem, para as exportações, países como a Turquia, os Estados Unidos, a Índia e a Espanha, e para as importações, os Estados Unidos, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e a Turquia.