Sendo dos principais mercados para as exportações portuguesas e a maior economia da Europa, a crise na Alemanha terá consequências noutros países, incluindo Portugal – e não só económicas, dada a importância política de Berlim e o vazio criado pela fragilidade alemã, mas também francesa.
O ano passado viu as vendas portuguesas para a Alemanha crescerem cerca de 1,5 mil milhões de euros, chegando assim a 9,76 mil milhões, o valor mais elevado desde que o INE começou a coletar estatísticas de comércio internacional, em 2000. Isto significa que 12,3% das exportações nacionais foram para a Alemanha, que ultrapassou a Espanha para se fixar como segundo principal destino das nossas exportações.
Sendo esta relação comercial dominada, do lado das vendas portuguesas, pelas máquinas e aparelhos, juntamente com material de transporte e produtos da indústria química, Armindo Monteiro, presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, lembra a importância do setor automóvel germânico nestas encomendas.
“Muitas das vendas que fazemos para a Alemanha são para incorporação”, começa por notar, sublinhando o impacto que a concorrência vinda da China tem tido naquele ramo industrial alemão. Para agravar a situação, as dificuldades alemãs não parecem ser circunstanciais. Dada a aposta nacional no crescimento da componente externa, uma crise profunda no seu segundo principal mercado de exportação “torna mais difícil” sustentar esta expansão, admite.
Por outro lado, há a questão política. A UE encontra-se atualmente num momento de transição, não só para uma maior importância da segurança, mas também na sustentabilidade; no plano económico há cada vez mais pressão das instituições europeias para se avançar na implementação da União de Mercados e Capitais.
Com as duas principais economias europeias em apuros, este ímpeto transformador encontra entraves. É que, além da estagnação na Alemanha, França atravessa uma crise política sem fim à vista – e, no capítulo do crescimento, as projeções de Bruxelas para um avanço de 0,7% este ano e 0,9% em 2026 não permitem grande otimismo.
“Não está a haver, de forma concertada, uma posição europeia. Essa parece-me a maior fragilidade. Falamos muito nesta Europa a 27, mas é uma ficção”, argumenta.
Também Pedro Brinca vê alguma falta de liderança no bloco europeu, lembrando a pronta rejeição alemã (e neerlandesa,) de qualquer emissão de dívida conjunta para financiar o plano Draghi.
“Portugal agora até é o bom aluno, mas Itália está de rastos, a Grécia está só mais ou menos equilibrada, a Hungria está sujeita a influências externas… Na realidade, uma pessoa olha para isto e sente que só pode confiar nos polacos e escandinavos. Por isso, percebo que eles [alemães] tenham medo de depois ficarem com a conta”, resume.
Fragilidades alemãs dificultam exportações portuguesas e aprofundamento da UE
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Com a UE num momento de transição verde e a União de Mercados a atrasar, a crise alemã (e francesa) sentir-se-á mais nos restantes países do bloco, incluindo Portugal.