Apesar das divisões internas, a Reserva Federal voltou a cortar juros esta quarta-feira, optando pela terceira descida seguida de 25 pontos base (pb), mas sinalizando que os requisitos para voltar a reduzir o indicador ficaram mais exigentes. O cenário é “desafiante”, dados os riscos ao mandato duplo de pleno emprego e inflação estável, mas a Fed “está numa boa posição” para lidar com a incerteza.
Os juros diretores na maior economia do mundo ficam assim entre 3,5% e 3,75%, o valor mais baixo desde 2022, uma decisão esperada pelo mercado após ser conhecida nova subida marginal do desemprego em setembro. O mercado laboral deixou há meses de ser a nota positiva da economia norte-americana, mostrando cada vez mais sinais de estagnação.
Isso mesmo reconheceu o presidente da Fed, Jerome Powell, na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio, onde falou de “uma situação desafiante” no que toca à política monetária. O consenso do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) é de que “há riscos do lado do desemprego e da inflação”, mas Powell vê o banco central “numa boa posição para ver o que acontece” até à reunião de janeiro.
“Depois de cortarmos taxas em 175 pb desde setembro passado, os juros estão agora dentro da maioria das estimativas para a taxa neutra e estamos bem posicionados para esperar e ver como evolui a economia”, argumentou.
Ainda assim, e dada a fragilidade mostrada pela economia recentemente, “um cenário base razoável passa por estes efeitos serem de curta duração”, sentindo-se mais como um one-off do que “um problema contínuo de inflação”. Do lado do emprego, “os riscos subiram”.
Para os analistas da Aberdeen, “a Fed apanhou-se entre a espada e a parede, com a inflação ainda alta apesar do enfraquecimento do emprego”. Daqui para a frente, “a fasquia para mais descidas é muito alta”, pelo que o atual nível de juros se deve manter.
A refletir a incerteza acrescida que paira sobre a maior economia do mundo, o FOMC registou pela primeira vez desde 2019 três dissidentes: dois governadores defendiam manter a taxa de referência atual, enquanto Stephen Miran, nomeado por Trump, preferia um corte de 50 pb.
Fed dividida corta taxas e sinaliza fasquia mais alta para descidas futuras
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Com três dissidentes, algo inédito desde 2019, a Fed optou por voltar a descer taxas, mas colocou alta a fasquia para mais cortes, dadas as ameaças ao emprego e à inflação a 2%. Revisão de projeções também espelha divisões internas.