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Farfetch abandona negócio da beleza ainda em agosto

Há sinais contrários nas previsões sobre a evolução da indústria do luxo, mas os grandes negócios na categoria da cosmética continuam. A tecnológica luso-britânica Farfetch, que espera a entrada de um novo diretor financeiro já em setembro, optou por deixar de vender estes produtos e ainda não explicou porquê.

A Farfetch está a preparar-se para deixar o negócio dos produtos de maquilhagem e cuidado do corpo e pele até ao fim do mês, abandonando a categoria de beleza na qual tinha investido há pouco mais de um ano. Este é mais um sinal de alerta num mercado que ainda pouco tinha tremido, mesmo com a pandemia e a crise inflacionária.

No início do ano passado, a Farfetch tornou público que iria comprar a empresa de cosmética Violet Grey para trazer uma “experiência” e uma “seleção cuidada” de produtos de beleza para o marketplace (loja digital) do unicórnio luso-britânico do luxo. Segundo a “Vogue” e a “Business Of Fashion”, por enquanto a insígnia continuará a fazer parte do universo Farfetch. O Jornal Económico tentou contactar a Farfetch, mas não foi possível obter resposta até à publicação deste artigo.

De acordo com a Fortune Business Insights, a dimensão do sector global dos cosméticos de luxo deverá ter um crescimento dinâmico nos próximos anos devido à crescente procura por produtos de beleza premium (“Luxury Cosmetics Market, 2023-2030”). Neste ramo da beleza, um dos maiores negócios do ano aconteceu em abril quando a L’Oréal chegou a acordo com o grupo brasileiro Natura para adquirir a marca de cosméticos de luxo Aesop por 2,53 mil milhões de dólares (2,31 mil milhões de euros).

A Aesop foi fundada em Melbourne em 1987 e tem-se destacado pelas suas linhas de cremes e loções para pele, cabelo e corpo feitos a partir de ingredientes como folha de gerânio e casca de tangerina, contando hoje com dezenas de lojas em Nova Iorque e Londres e receitas de 537 milhões de dólares ou 492 milhões de euros (2022).

Mais recentemente, há cerca de dois meses, foi a gigante francesa Kering Beauté a anunciar que iria adquirir 100% da casa de alta perfumaria Creed a fundos controlados pela BlackRock e pelo empresário Javier Ferrán, uma vez que a categoria de beleza era “uma extensão natural do universo de luxo da Kering.

As transações milionárias no mercado para os milionários continuam, porém o grupo Knight Frank é um dos que considera que o luxo está a dar sinais de abrandamento. Sem se posicionar sobre a área da cosmética, a empresa britânica explica, num relatório divulgado este mês, que o Índice de Investimento de Luxo da Knight Frank (KFLII) teve o desempenho anual mais fraco desde o segundo trimestre de 2021, apesar desta subida de 7% no cabaz dos artigos de luxo foi.

“Mesmo os ativos tangíveis não estão imunes à incerteza do mercado. Estes dados demonstram que as pessoas continuam dispostas a gastar em artigos pessoais de luxo. No entanto, o abrandamento dos mercados do vinho e dos automóveis clássicos, ambos em sexto e sétimo lugares, respetivamente, e que por tradição tinham um aumento a dois dígitos e que muitas vezes sustentaram o desempenho do índice, moderaram o crescimento”, lê-se na análise.

“A incerteza económica e as taxas de juro mais elevadas lançaram alguma incerteza sobre os colecionáveis de luxo. Os colecionadores principiantes estão a concentrar-se no que lhes traz alegria. Essa é agora a sua maior certeza dado que agora a valorização está longe de ser garantida neste tipo ativos”, afirma Andrew Shirley, editor do KFLII.

Uma das explicações para o eventual arrefecimento da indústria está nas palavras que o diretor financeiro da LVMH - holding que detém marcas como Louis Vuitton e Christian Dior - proferiu na conference call após a divulgação dos resultados do primeiro semestre, nos quais a empresa demonstrou, ainda assim, um aumento de 15% nas receitas para 42,2 mil milhões de dólares (38,6 mil milhões de euros) até junho.

“Temos uma situação em que, no geral, o cliente aspiracional está a sofrer um pouco. Estamos a verificar quedas de produtos corporativos com as vendas online em cidades de segundo nível, o que é um sinal claro de que o cliente aspiracional não está a comprar tanto quanto costumava”, disse o Chief Financial Officer (CFO) da LVMH, Jean-Jacques Guiony.

Ou seja, o CFO admitiu que aquele consumidor que não é fidelizado, que tem algumas posses ou fez poupanças para comprar produtos das suas marcas não está a adquirir, quer nas lojas físicas de cidades menos cosmopolitas quer online, como antigamente. As redes sociais Instagram e Tik Tok até podem estar repletas de unboxings de carteiras Louis Vuitton e Dior, mas irão esses jovens e adultos voltar a comprar no próximo mês e no seguinte? Apenas alguns.