"A abordagem da União Europeia ao tema dos oceanos irá moldar uma parte significativa do futuro do Velho Continente". Esta é uma das frases que consta do manifesto desenvolvido pela Fundação Oceano Azul e o think tank Europe Jacques Delors, um documento entregue em abril no Parlamento Europeu e vai agora ser apresentado aos novos deputados europeus eleitos a 9 de junho. Esta segunda-feira, este manifesto é apresentado em Lisboa.
Em entrevista ao JE, Tiago Pitta e Cunha, administrador executivo da Fundação Oceano Azul, considera que a Europa tem todas as condições para ser uma superpotência europeia ao nível da economia azul e que Portugal tem tido um papel de liderança nessa matéria a nível continental.
"Há aqui uma questão que está na origem de tudo que é a questão geográfica: geograficamente, a Europa é o continente mais marítimo do mundo porque está rodeado pelo Atlântico e pelo Ártico e por quatro mares. Só por causa disso, a Europa é quase o cabo da Ásia, rodeado por penínsulas e por ilhas", começa por referir este responsável ao JE.
Europeia: superpotência económica dos oceanos
Tiago Pitta e Cunha recorda que a Europa "é a região número um" em transporte marítimo a nível mundial, assim como na construção naval no que diz respeito a navios sofisticados, de equipamento para esses navios e de turismo marítimo mas também de energia e de consumo de pescado. "Com exceção da Defesa em que os EUA são superiores à Europa, este continente pode ser a superpotência económica dos oceanos a nível mundial e muitos europeus não percebem isso", sublinha.
No entanto, essa vocação europeia para a liderança nos oceanos está marcada por outro desafio premente: a sustentabilidade. "Isto é fundamental sobretudo quando acompanhado com os grandes desígnios que a Europa enfrenta no século XXI, sendo que o mais importante é da descarbonização e de uma transição inevitável para a economia verde", realça.
Em paralelo com a descarbonização, destaca Pitta e Cunha, "a Europa está a enfrentar enormes desafios como uma guerra que muda a geopolítica europeia mas também desafios de competitividade com outras regiões económicas do mundo em que o oceano pode ser uma grande oportunidade, tal como vai acontecer com a energia em que o oceano vai ser uma cartada fundamental".
"A Europa vai ter que produzir localmente os seus recursos renováveis e isso tem vindo a ser feito até porque a União Europeia acredita que até 2030 haverá mais energia eólica offshore do que em território terrestre europeu. Os navios são altamente poluentes hoje em dia e têm que se tornar parte da solução em vez de ser parte do problema e a Europa tem tecnologia para operar essa mudança sustentável para que o marítimo seja pedra de toque na sustentabilidade no sector de transportes europeu", realçou..
Lisboa a liderar a agenda do oceano na Europa
Não é à toa que o manifesto é apresentado esta terça-feira na capital portuguesa. Tiago Pitta e Cunha considera que "Lisboa tem liderado a agenda do oceano a nível europeu" e justifica esse posicionamento: "É importante recordar que a Agência Europeia de Segurança Marítima tem sede em Lisboa, a política marítima que foi definida em 2007 sob a presidência de Portugal na UE e com uma importantíssima impressão digital portuguesa, com muitos portugueses a trabalhar nessa política; recebemos a conferência mundial dos oceanos que fez com que a agenda multilateral internacional avançasse muitíssimo com a definição de alguns compromissos".
"Portugal tem protagonismo e reconhecimento internacional, o que é importante. Este manifesto visa chamar a atenção dos novos protagonistas no Parlamento Europeu, procura centrar o tema em Lisboa. Este manifesto foi apresentado no Parlamento Europeu e numa grande conferência internacional na Grécia. Vai ter muita matéria para ser discutida tal é a densidade de conteúdos. Um dos objetivos principais é que este conteúdo possa refletir-se no programa de trabalho da União Europeia", conclui.