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Eles passaram além do Tejo - Vinte e dois relatos de ilustres visitantes

Que transição chegar a Portugal vindo de Espanha! É como se voássemos da Idade Média para os tempos modernos. Em todo o lado, eu via brancas e acolhedoras casas, quintais murados, terrenos cultivados e, nas estações maiores, havia comida e bebida.

Que transição chegar a Portugal vindo de Espanha! É como se voássemos da Idade Média para os tempos modernos. Em todo o lado, eu via brancas e acolhedoras casas, quintais murados, terrenos cultivados e, nas estações maiores, havia comida e bebida. Era, para nós, como uma brisa inglesa carregada de conforto moderno, uma lufada de ar fresco vinda de um mundo vivo.
Pitorescamente bela, com as suas casas rodeadas de verde, surgiu lá no alto a primeira vila portuguesa – Elvas. Depressa chegou o fim do dia, escuro e chuvoso. Perto da meia-noite, passámos por Abrantes (…).”
Hans Christian Andersen esteve em Espanha e Portugal em 1866 e deixou estas e outras impressões. Mas o escritor dinamarquês é apenas um dos 22 viajantes estrangeiros cujos textos foram compilados em “Eles Passaram Além do Tejo”, editado pela Documenta, onde se narram as terras e gentes de entre o Tejo e Guadiana, num período que vai da Idade Média a finais do século XIX.
Convém chamar a atenção para o âmbito geográfico da obra, pois nela se considera Alentejo como espaço “além do Tejo”; isto é, todo o território da margem esquerda do rio até às serranias algarvias, por vontade expressa de Joaquim M. Palma, autor da tradução, introdução e notas, e alentejano confesso e orgulhoso.
A colectânea começa com Ahmad ibn Muhammad al-Razi, geógrafo de al-Andaluz do século X, que se refere a Beja como “uma das mais antigas cidades” da península, com bons solos para agricultura e criar gado e as “muitas e excelentes flores para as abelhas”. Salta para o século XV e prossegue sobretudo pelo século XIX, altura em que há inúmeros registos, devido às Invasões Napoleónicas e à grande quantidade de anglo-saxónicos que se aventuraram na Península Ibérica. Há ainda relatos de viajantes oriundos da Alemanha, Itália e Espanha, pelo que ficamos com uma perspectiva mais diversificada de olhares sobre o país, independentemente das razões que os trouxeram, fosse lazer, trabalho (como José Cornide y Saavedra, espião espanhol, e Heinrich Friedrich Link, médico e botânico alemão a estudar a flora lusitana) ou missão evangelizadora (caso de George Borrow que, em 1835 e 1836, chegou com um carregamento de Bíblias anglicanas para venda e difusão nos dois países ibéricos).
Sejam as impressões mais ou menos pitorescas, mais ou menos acutilantes, é muito educativo ler o que os estrangeiros pensam de nós, dos nossos hábitos e costumes e da nossa maneira de ser. 

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