A África do Sul vai às urnas a 29 de maio e a maioria dos analistas – suportados pelas sondagens – antecipa que as eleições gerais serão essenciais para o futuro do país e marcantes do ponto de vista político. Por uma razão simples: o partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC), pode perder a maioria pela primeira vez desde que Nelson Mandela venceu 1994. É a sétima eleição geral que a África do Sul realiza desde o fim do governo da minoria branca, há 30 anos e um recorde de 27,8 milhões de pessoas estão registadas para votar, num quadro em que a popularidade do partido ‘de sempre’ está ao pior nível de sempre. Recorde-se que desde que chegou ao poder, o ANC nunca ganhou a não ser com maiorias absolutas – mês que estas venham a minguar: em 2019, data das últimas eleições, o partido ficou pela primeira vez abaixo da fasquia dos 60% (obteve 57,5% dos votos).
As reticências dos sul-africanos face ao partido no poder tem várias variantes, mas a primeira delas surge da perceção de corrupção que atravessa toda a sociedade. Os problemas sentidos pelo ex-presidente Jacob Zuma são disso exemplo mais que suficiente. Mas não só: o ambiente de criminalidade violenta que está a aumentar – e que aproxima o país do que se passava no final do século passado: os jornais do país dizem que há um homicídio a cada 20 minutos. Em paralelo, a economia dá mostras de grande incapacidade – e o país, que já foi considerado o mais rico do continente africano, está agora a passar por dificuldades que há dez anos ninguém conseguia antecipar. Os apagões de energia elétrica e a falta de água são duas das consequências mais óbvias da crise económica – que a população tende a não compreender, exatamente porque o país já foi rico. Para piorar, os serviços do Estado são, quando existem, caóticos e não chegam a toda a população.
Quando Cyril Ramaphosa – o atual presidente e o favorito de Nelson Mandela para o suceder – substituiu Jacob Zuma, prometeu “trabalhar para não dececionar o povo da África do Sul” e estava a referir-se em particular à corrupção. Nada feito: em 2022, o próprio Ramaphosa foi forçado a negar desvios de fundos que lhe eram imputados. Ou seja, o ambiente ‘percecionavelmente’ corrupto manteve-se. “A corrupção feriu a nossa democracia e abalou a fé das pessoas nas instituições”, admitiu num discurso em novembro passado. “Se a corrupção não parar, o maior prejuízo não estará nos recursos desviados, nos empregos perdidos ou nos serviços não executados. O maior dano será à crença na própria democracia”. Este ano, a África do Sul recebeu a pontuação mais baixa de sempre no Índice de Perceção da Corrupção da Transparência Internacional. O índice pontua os países de 0 (altamente corrupto) a 100 (sem corrupção) e a África do Sul recebeu 41 pontos, tantos como o Burkina Faso, o Kosovo e o Vietname.