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Corte nos juros deixa poucos depósitos com retornos acima da inflação

Banca: Os bancos têm vindo a ajustar em baixa a remuneração das aplicações a prazo, antecipando o corte de juros do BCE. Apesar de a inflação esperada este ano ser inferior, obter um retorno real num depósito é cada vez mais difícil.

Os Certificados de Aforro roubaram o protagonismo dos depósitos a prazo na primeira metade do ano passado, mas desde o corte nas taxas que perderam atratividade junto das famílias portuguesas. As aplicações comercializadas pelos bancos voltaram a conquistar poupanças à boleia das taxas atrativas que, entretanto, estão a deixar de o ser. Os juros têm vindo a encolher e deverão continuar a descer nos próximos meses, dado o esperado corte de taxas por parte do Banco Central Europeu (BCE). Conseguir um retorno real, acima da inflação, é um desafio e vai sê-lo ainda mais daqui em diante.

Os bancos, que automaticamente refletiram nos juros do crédito à habitação a subida das taxas do BCE, foram lentos no aumento dos juros dos depósitos a prazo. Acabaram por subi-los, também em reação à concorrência dos produtos do Estado, mas a taxa média apenas chegou aos 3,1% em dezembro de 2023. Desde então, a tendência tem sido de descida dos juros oferecidos neste que é o principal produto de poupança dos portugueses. De acordo com dados do Banco de Portugal, a taxa média caiu para 2,92% em janeiro, voltou a ceder para 2,81% em fevereiro e deverá continuar a baixar.

Essa descida é percetível através da consulta dos sites e preçários de taxas de juro das várias instituições financeiras no mercado nacional. O Jornal Económico (JE) consultou a melhor oferta de um total de 16 bancos, considerando as propostas mais rentáveis a seis e 12 meses para aplicações com um investimento mínimo de, no máximo, 5.000 euros. No prazo mais curto, a 180 dias, são várias as ofertas entre os 3% e os 4%, neste caso pagos tanto pelo Banco BAI como pelo EuroBic, mas a 12 meses são cada vez mais raras as propostas acima da fasquia dos 3%, sendo a média das ofertas de pouco mais de 2,3%.

Entre os maiores bancos do sistema, a Caixa Geral de Depósitos destaca-se pela positiva ao oferecer no Depósito Caixa Net 12 Meses Não Mobilizável uma Taxa Anual Nominal Bruta (TANB) de 2,75%, acima dos 2,5% praticados pelo BPI no DP BPI+, e bem superior aos 0,01% do Santander Portugal (que só apresenta taxas mais elevadas para montantes mínimos acima de 15.000 euros). Mas para ter taxas efetivamente atrativas, é preciso olhar para outras instituições, como é o caso do Banco BAI Europa, Banco Invest e EuroBic.

Mas mesmo as melhores ofertas a 12 meses podem não ser rentáveis para a carteira dos aforradores. Para se perceber o que é um bom depósito é preciso ter em conta a taxa oferecida e compará-la com o aumento previsto do custo de vida, ou seja, a inflação que, depois de superar os 4% em 2023, deverá baixar este ano para 2,4%, de acordo com a mais recente previsão apresentada pelo Banco de Portugal. Considerando este patamar, dos 16 bancos analisados, nove oferecem taxas superiores, com o BAI Europa a destacar-se ao remunerar uma poupança de, no mínimo, 2.500 euros com uma taxa de 4%.

“Com taxas de inflação abaixo de 3% já começam a ser interessantes os depósitos que pagam valores iguais ligeiramente superiores a este número”, afirma João Duque, economista e professor do ISEG, ao JE, notando, contudo, que “se tomarmos em consideração o imposto sobre os juros, a inflação terá que reduzir-se ainda mais para que possa ser compensada pelas remunerações atualmente pagas pelos bancos”.

Considerando as taxas líquidas, assumindo que os aforradores são particulares, logo tributados à taxa liberatória de 28%, dos nove depósitos só dois são, efetivamente, uma boa opção para as poupanças. O BAI, com a taxa de 4% no Depósito a Prazo Premium EUR, e o Banco Invest, com o Invest Choice Novos Montantes, que apresenta uma TANB de 3,5%, são os únicos que pagam juros ao final de um ano que permitem compensar a inflação.

De acordo com Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados Financeiros (IMF), os depósitos “são, de momento, o produto possível para quem quer garantia de capital e alguma capacidade de mobilização”. Contudo, alerta que as “pessoas preocupam-se muito com as taxas de juro nominais e preocupam-se pouco com as taxas de juro reais”.

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