A República Popular da China já é o quinto maior mercado de exportação dos vinhos do Alentejo, em valor. De acordo com os dados obtidos pelo Jornal Económico, este mercado consumiu cerca de 3,9 milhões de euros de vinhos alentejanos no período acumulado de 12 meses entre outubro de 2017 e setembro de 2018. Em volume, a exportação de vinhos da região do Alentejo para a China no período em análise foi de mais de um milhão de litros. O mercado chinês registou um crescimento de exportações de vinhos alentejanos de 14,4% em valor e de 6,1% em volume no período em questão, além de ter registado uma subida do preço médio na ordem dos 7,9%.
Neste ranking das exportações dos vinhos do Alentejo – vinho DOC (Denominação de Origem Controlada) e vinho regional – os maiores mercados acima da China, em valor e em volume, foram o Brasil, Angola, Estados Unidos e Suíça. Só que destes cinco principais mercados de exportação, além do crescimento em valor na China, só o Brasil teve um comportamento idêntico (subida de 13,3%) nos doze meses compreendidos entre outubro de 2017 e setembro de 2018, uma vez que os destinos de Angola, Suíça e Estados Unidos registaram quebras em valor de 35,2%, 0,9% e 13,7%, respetivamente.
“Hoje em dia, a região do Alentejo exporta vinho para o Brasil, Angola, Estados Unidos, Suíça, China, França e Polónia, principalmente. Um quinto do vinho português que vai para o Brasil é do Alentejo. A China, ano após ano, está a comprar cada vez mais vinho ao Alentejo. Não havia esta perspetiva de a China evoluir tanto. Os chineses compram cada vez mais vinho ao Alentejo e sabem cada vez mais sobre os vinhos do Alentejo. Já não é só nas grandes cidades que se consome”, revelou Francisco Mateus, presidente da CVR - Comissão Vitivinícola da Região do Alentejo, em entrevista ao Jornal Económico.
De acordo com este responsável, “estamos a acompanhar com muito interesse o crescimento da exportação de vinho do Alentejo para a China”, que “pode vir a ser um bom mercado para os vinhos do Alentejo e também para vinhos de Portugal em geral”. Mas Francisco Mateus considera que “também podemos vir a ter grandes oportunidades na América Latina, com potencial de crescimento das exportações para mercados como a Colômbia ou o México, que são países que estão a crescer em termos de consumo e de importação de vinhos e que podem vir a ser interessantes”.
“Na Ásia, também têm estado a crescer as exportações para a Coreia do Sul ou para o Vietname. São países que estão a comprar mais vinho, e que estão a comprar melhor vinho”, sublinha o presidente da CVR Alentejo.
Uma preocupação para os produtores alentejanos de vinho é Angola. “As nossas exportações para Angola caíram muito em 2018. Vendemos menos 1,4 milhões de litros no período entre o início do ano passado e o final de setembro. Menos 3,2 milhões de euros nos últimos doze meses a terminar em setembro do ano passado. Trata-se de uma quebra de 7% em quantidade e de 25% em valor. Em Angola, há vontade de comprar o vinho do Alentejo, mas o problema é pagar. Angola é um mercado que tem condição para crescer em termos de economia, mas é um país que, provavelmente, não tem classe média. Acredito que este presidente - João Lourenço - vai dar um empurrão para o crescimento”, adianta Francisco Mateus.
O presidente da CVR Alentejo acrescenta que, “no mercado dos Estados Unidos, exportamos mais para a costa Oeste, para a Califórnia, para o Oregon, por exemplo”. “Também temos exportações relevantes para mercados como a Alemanha, o Reino Unido ou o Benelux, mas o Alentejo está um bocadinho ao contrário do resto do país, porque exportamos mais para países extracomunitários”, explica este responsável.
Segundo os últimos dados disponibilizados ao Jornal Económico por esta entidade, no ano passado a produção de vinho no Alentejo ascendeu a cerca de 107,2 milhões de litros, um crescimento face aos cerca de 92,7 milhões de litros de vinho produzidos na colheita precedente, apesar de Francisco Mateus assinalar que o ano passado “não foi muito bom”, tendo, entre outras coisas, sido afetado novamente por questões climatéricas, incluindo o ‘escaldão’ de agosto, que provocou uma quebra de produção de 25% a 30% nas áreas em que se registou esse sinistro. Cerca de 75% da produção é de vinhos tintos, com os brancos a responder por cerca de 23%, e os rosés a terem uma expressão ainda muito residual, tal como os espumantes, os licorosos ou os vinhos de talha, que estão a crescer.
Com um total de 22 mil hectares de vinha plantada, Francisco Mateus insurge-se contra as limitações a transações de aquisições de terrenos para plantação de vinha. “A cultura da vinha sempre esteve condicionada, mas a possibilidade de transacionar terrenos de vinhas acabou em 2015, quando se passou a aplicar um novo regime de autorização de crescimento das vinhas. O Alentejo é provavelmente a região com mais procura de terras para cultivar vinha em Portugal, havendo hectares disponíveis para tal efeito. Esta questão está a limitar o crescimento da região, que tem tido tradicionalmente um nível de vendas elevado. É uma região apetecível para a plantação. Há uma vontade natural para produzir e consumir vinhos do Alentejo. Basta dizer que 70% dos stocks de vinhos do Alentejo se esgotam em dois, três anos”, lamenta o presidente da CVR Alentejo.