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CEO da Mastercard Europa Ocidental: "Ao apoiar as fintechs, estamos a investir no futuro dos pagamentos"

Os planos da Mastercard em Portugal incluem "melhorar a sua infraestrutura de pagamentos digitais e alargar o seu alcance no mercado. O investimento incidirá no desenvolvimento de soluções de pagamento inovadoras e adaptadas às necessidades dos consumidores e das empresas portuguesas, através de parcerias e cocriação", refere em entrevista Paloma Real.

Paloma Real, agora presidente da Divisão da Mastercard para a Europa Ocidental, revelou ao Jornal Económico, numa entrevista por escrito, no ano do lançamento do "Mastercard For Fintechs" que "ao apoiar as fintechs, estamos a investir no futuro dos pagamentos e a construir um ecossistema mais dinâmico, inovador e competitivo".

Na sua bola de cristal, vê nas próximas décadas, que a indústria de pagamentos evolua para um ecossistema altamente interconectado impulsionado por tecnologias de ponta. A inteligência artificial desempenhará um papel fundamental, disse.

Na Península Ibérica, a Mastercard registou um crescimento robusto, com as receitas regionais a crescerem 12%, impulsionadas por colaborações estratégicas com bancos e comerciantes, revela a gestora.

Foi Country Manager da Mastercard Espanha, supervisionando o desenvolvimento, a implementação e a estratégia de crescimento da empresa em Espanha. Antes disso, foi responsável pelo desenvolvimento de negócios para o mercado espanhol. Tem 20 anos de experiência no sector dos pagamentos.

Antes de ingressar na Mastercard, Paloma Real liderou a Área de Pagamentos, e-commerce e Serviços Financeiros da France Telecom (antigo Grupo Amena e Auna), trabalhando na conceção, definição e lançamento de soluções móveis financeiras e de pagamento.

Em 2021 e 2022, foi incluída entre as 100 mulheres mais importantes de Espanha e uma das 100 mais influentes no país vizinho pela Forbes Espanha. Lá foi ainda selecionada como uma das 35 mulheres no sector financeiro pela “Women to Follow” em 2024.

É licenciada em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade Politécnica de Madrid.

Qual é a importância do programa “Mastercard For Fintechs”? Que importância tem para a atividade da Mastercard? Nomeadamente para a Mastercard na Europa Ocidental?

O ano de 2024 representa um marco para nós com o lançamento do "Mastercard For Fintechs", um programa pioneiro que reflete o nosso compromisso em dinamizar a inovação no sector de pagamentos. Por outro lado, há muitos anos que trabalhamos com startups e fintechs e quando começámos a desenvolver este programa "Mastercard For Fintechs", sentimos que precisávamos de levar a nossa cooperação com estas empresas para um novo patamar. Este programa, criado por equipas da minha divisão da Europa Ocidental, é, também, muito relevante para nós nesta região.

O foco da Mastercard nas fintechs está alinhado com a nossa visão de um futuro onde a tecnologia financeira seja mais inclusiva, acessível e segura para todos. Reconhecemos o papel transformador que estas empresas estão a desempenhar no sector e queremos ser um ator chave neste processo. Acreditamos que, ao apoiar as fintechs, estamos a investir no futuro dos pagamentos e a construir um ecossistema mais dinâmico, inovador e competitivo.
O objetivo principal é claro: identificar e apoiar as fintechs com maior potencial na Europa Ocidental, e dar-lhes as ferramentas e recursos necessários para que possam escalar as suas soluções, aceder a novos mercados e, finalmente, revolucionar a experiência de pagamento do consumidor.

O Mastercard Innovation Forum juntou, em Lisboa, dezenas de parceiros para apresentar novas soluções de pagamentos. Lá foi dito que a empresa “tem 100 patentes em inteligência artificial”. Até que ponto a inteligência artificial é importante para a atividade da Mastercard? E em que domínios? Na cibersegurança?

Reconhecemos a IA como uma tecnologia revolucionária e estamos a utilizá-la para beneficiar os nossos clientes e parceiros. Os nossos sistemas de IA ajudam a proteger mais de 143 mil milhões de transações a cada ano, evitando fraudes no valor de muitos milhões de euros ao detectarmos atividades suspeitas e a verificar identidades.

As nossas inovações baseadas em IA vão além dos pagamentos e abordam, também, desafios da próxima geração para podermos oferecer novas ferramentas digitais e suporte aos nossos clientes. Isto inclui personalização, gestão de identidade digital, experiências de retalho de última geração e redes multirail inteligentes e com autoaprendizagem.

Também estamos a explorar o potencial da IA generativa, com aplicações em toda a nossa cadeia de valor e nos nossos quatro centros globais de IA e cibersegurança avançada.

Estamos a recorrer à IA para muitas outras situações relevantes, como melhorar as experiências do cliente através de recomendações personalizadas, otimizar a logística de cadeias de abastecimento e simplificar as operações internas para aumentar a eficiência. Além disso, a IA está a ajudar-nos a melhorar a gestão de risco, antecipando potenciais problemas que nos permitem, depois, fazer proactivamente os ajustes necessários, garantindo uma infraestrutura de pagamentos mais resiliente e robusta. O nosso compromisso com a inovação orientada para a IA sublinha a nossa dedicação em permanecermos na vanguarda da rápida evolução da indústria de pagamentos.

Mas também aproveitamos a IA internamente para melhorar as experiências e a produtividade das pessoas. A título de exemplo, proporcionamos aos colaboradores oportunidades personalizadas de aprendizagem e desenvolvimento. Esta plataforma recorre a algoritmos avançados de machine learning para analisar conjuntos de habilidades individuais, aspirações de carreira e dados de desempenho para recomendar programas e recursos de formação personalizados.

Como vê os meios de pagamentos nas próximas décadas?

Nas próximas décadas, a Mastercard prevê que a indústria de pagamentos evolua para um ecossistema altamente interconectado impulsionado por tecnologias de ponta. A inteligência artificial desempenhará um papel fundamental, como referi anteriormente, uma vez que a IA generativa abrirá novos caminhos para a inovação, transformando a forma como as empresas operam e interagem com os consumidores.

O futuro dos pagamentos também verá uma mudança significativa para soluções digitais e sem contacto, reduzindo a dependência de cartões físicos e dinheiro. Esta transformação digital será apoiada por avanços na tecnologia blockchain, aumentando a transparência e a segurança nas transações financeiras.

O foco da empresa na inovação impulsionada por IA, juntamente com sua dedicação em promover a inclusão financeira e a acessibilidade, abrirá caminho para um cenário de pagamentos mais dinâmico, inclusivo e seguro.

Portugal como é que está posicionado em termos de inovação?

Portugal posiciona-se como um polo vibrante de inovação, particularmente no domínio da tecnologia financeira. A Mastercard reconhece a abordagem proativa do país para adotar soluções de ponta e promover um ambiente robusto para a inovação. Com uma forte aposta na transformação digital, Portugal tornou-se um ator fundamental no desenvolvimento do futuro dos pagamentos.

O ecossistema colaborativo do país, que inclui startups, empresas estabelecidas e iniciativas governamentais, cria um terreno fértil para tecnologias disruptivas.

As parcerias da Mastercard com entidades locais como a Ubirider e o Grupo Barraqueiro são um bom exemplo disso, uma vez que permitem trabalharmos em conjunto para revolucionar os sistemas de bilhética dos transportes públicos, através de pagamentos contactless. Isso não só acelera o processo de compra de bilhetes, mas também reduz significativamente o impacto ambiental, minimizando o uso de papel e plástico.

"O investimento na cocriação vai continuar em Portugal, como parte do nosso modelo central de inovação e temos bons exemplos, como a parceria global que a Mastercard fez recentemente com a portuguesa Feedzai para combater a fraude com criptomoedas".

A Mastercard vai continuar a apostar em parceiras? Por exemplo a empresa tem parcerias com a Ubirider e o Grupo Barraqueiro com vista à desmaterialização dos sistemas de bilhética nos transportes públicos, facilitando o pagamento de viagens através do sistema contactless. Além de acelerar a compra de bilhetes, permite reduzir a utilização de papel e plástico. Em que outros segmentos antevê que essa desmaterialização possa ocorrer?

Sim, o investimento na cocriação vai continuar em Portugal, como parte do nosso modelo central de inovação e temos bons exemplos, como a parceria global que a Mastercard fez recentemente com a portuguesa Feedzai para combater a fraude com criptomoedas.

Esta solução vem ajudar os bancos a identificar fraudes em pagamentos entre contas, através do Mastercard Consumer Fraud Risk, que usa Inteligência Artificial e que possibilita aos bancos interromper, em tempo real, um pagamento antes que os fundos saiam da conta da vítima.
Trata-se de um passo importante para a proteção do ecossistema digital, por dar às instituições financeiras os insights de que precisam para evitar transações que envolvam trocas fraudulentas de criptomoedas.

Com esta nova parceria, vamos ser capazes de ir mais longe e ajudar a impedir fraudes e pagamentos em esquemas fraudulentos antes que estes aconteçam, dando aos clientes mais opções, segurança e, o mais importante, mais confiança.

A Mastercard anunciou o objetivo de atingir 100% de tokenização do comércio electrónico na Europa até 2030 e o compromisso de eliminar gradualmente a introdução manual de cartões e tornar o comércio electrónico mais seguro e acessível para todos. Como é que está a progredir esse objetivo? Nomeadamente em Portugal?

O objetivo da Mastercard de alcançar 100% de tokenização no comércio electrónico na Europa até 2030 está a progredir de forma constante. Esta meta ambiciosa faz parte da nossa estratégia mais ampla para melhorar a segurança e a acessibilidade das transações digitais. Em Portugal, estamos a trabalhar em parcerias com instituições financeiras e comerciantes locais para implementar esta tecnologia de tokenização.

Ao continuarmos a apostar em colaborações robustas e avanços tecnológicos, continuamos empenhados em garantir que o comércio electrónico se torna mais seguro para os consumidores e mais eficiente para as empresas em toda a Europa, com Portugal a ser um excelente exemplo deste progresso.

A promoção da literacia financeira faz parte das missões da Mastercard?

Sem dúvida, promover a literacia financeira é uma parte fundamental da missão da Mastercard. A empresa está profundamente empenhada em capacitar os indivíduos com o conhecimento e as ferramentas de que necessitam para gerir as suas finanças de forma eficaz.

De facto, um estudo liderado pela Mastercard na Europa, incluindo em Portugal, revela que 71% das mulheres procuram mais informação e orientação para as ajudar a gerir melhor as suas finanças e a maioria, 83%, diz valorizar a transparência e honestidade no momento de discutir este tema.

A maioria das mulheres portuguesas (76%) também concorda com a importância de se sentirem financeiramente empoderadas e terem controlo total do seu dinheiro, e 59% consideram que esta capacitação financeira aumentou substancialmente a sua autoconfiança.

É por isso que a Mastercard tem vários programas educacionais e parcerias com instituições de ensino para melhorar a literacia financeira em todas as faixas etárias e demografias. Ao oferecermos recursos e formação, a Mastercard ajuda as pessoas a compreender como navegar no complexo cenário financeiro, tomar decisões informadas e alcançar a estabilidade financeira. Este compromisso com a educação financeira não só apoia o empoderamento individual, mas também contribui para um crescimento económico mais amplo e estável.

"Na Península Ibérica, a Mastercard registou um crescimento robusto, com as receitas regionais a crescerem 12%, impulsionadas por colaborações estratégicas com bancos e comerciantes. Os volumes de transações na região também aumentaram 16%, apoiados pela implementação de tecnologias de pagamento inovadoras, que continuam a aumentar a presença regional da Mastercard".

Pode avançar os números mais recentes da Mastercard? Nomeadamente na Península Ibérica.

Como sabem, enquanto empresa cotada, não podemos ir além dos números globais que são divulgados trimestralmente. No entanto, posso dizer-vos que, na Península Ibérica, a Mastercard registou um crescimento robusto, com as receitas regionais a crescerem 12%, impulsionadas por colaborações estratégicas com bancos e comerciantes. Os volumes de transações na região também aumentaram 16%, apoiados pela implementação de tecnologias de pagamento inovadoras, que continuam a aumentar a presença regional da Mastercard.

Globalmente, a Mastercard demonstrou um desempenho financeiro impressionante no seu último relatório de resultados, com um aumento de 15% em relação ao ano anterior nas receitas, totalizando 6,1 mil milhões de euros. Este crescimento foi principalmente impulsionado por maiores volumes de transações e um aumento nos gastos dos consumidores.

O lucro líquido da empresa também registou melhorias significativas, atingindo 2,2 mil milhões de euros – um aumento de 20% em relação ao ano anterior – refletindo uma forte gestão de custos e a expansão da presença no mercado.

O volume de transações aumentou 18%, com a Mastercard a processar um total de 2 biliões de euros. Esse aumento foi impulsionado pelo aumento da adoção de pagamentos digitais e pelo fortalecimento das parcerias com instituições financeiras e comerciantes em todo o mundo.
Estes números sublinham a trajetória ascendente consistente da Mastercard e consolidam a sua posição como líder na indústria de pagamentos em rápida evolução, particularmente em mercados-chave como a Península Ibérica.

Qual o investimento previsto em Portugal?

Os planos da Mastercard em Portugal incluem melhorar a sua infraestrutura de pagamentos digitais e alargar o seu alcance no mercado. O investimento incidirá no desenvolvimento de soluções de pagamento inovadoras e adaptadas às necessidades dos consumidores e das empresas portuguesas, através de parcerias e cocriação.