O presidente-executivo do grupo Stellantis deixou hoje três pedidos ao Governo português, depois de ser revelado que o executivo vai apresentar um "pacotão" de estímulo à economia e às empresas com 60 medidas.
Questionado hoje sobre o que deseja a Stellantis em termos de programa de fomento, o gestor começou por destacar a "ligação ferroviária direta da fábrica de Mangualde ao porto de Vigo e ao porto de Leixões. Tomou o seu tempo, mas está a avançar", começou por dizer Carlos Tavares, que apontou as vantagens ambientais e de custos. "Menos camiões na estrada, e é muito mais barato do que transportar com camiões".
"Não está concluída ainda a última etapa de ligação direta à fábrica. Temos de levar os carros de camião. O ideal é uma ligação direta à fábrica, como noutras fábricas automóveis", afirmou.
Um exemplo que pode ser dado é o da fábrica da Autoeuropa Volkswagen no distrito de Setúbal, com ligação à rede ferroviária nacional para escoar a produção pelo porto da cidade sadina.
O segundo ponto defendido pelo gestor português foram as energias renováveis mais baratas.
"O custo da energia não é competitivo, tem que baixar, tem que estar abaixo dos 70 euros/MWh. Quando estiver abaixo, precisamos de controlar a volatilidade, não pode estar para baixo e para cima. É preciso menos volatilidade no preço da energia", afirmou em conferência de imprensa, na terça-feira, na fábrica de Mangualde.
"Já percebemos que temos de produzir a nossa própria energia. Em 2025, todas as nossas fábricas no mundo vão estar a produzir, pelo menos, 50% da energia que consomem, renovável".
"A energia em Portugal é um factor de desenvolvimento para tudo. Se não aproveitarmos as renováveis de baixo custo, não estamos a tirar o máximo potencial do país", rematou.
Em terceiro lugar, defendeu o apoio à compra de carros elétricos pela classe média. "Não queremos ajudas para a Stellantis, mas para o consumidor final. Se houver um pedido ao Estado: ajude as classes médias deste país a comprar veículos elétricos".
"As ajudas na Europa andam entre 5.000 a 7.000 por automóvel e logo que param, a procura desaparece", sublinhou.
Recorde-se que o Governo de Luís Montenegro ainda não tomou nenhuma decisão sobre se vai manter o cheque para a compra de carro elétrico.
Ao mesmo tempo, defendeu também a criação de mais infraestruturas de carregamento de veículos elétricos. "Se forem visíveis e com uma densidade elevada, vão permitir que os carros tenham baterias mais pequenas, autonomias mais pequenas, pois já não ficamos com ansiedade e o carro torna-se mais barato, e já não tem que se dar tantos subsídios".
Neste sentido, deixou uma recomendação: "podem utilizar o PRR para acelerar a rede de carregamento, para ajudar as classes médias".
A Stellantis Mangualde, no distrito de Viseu, arrancou com a produção de oito automóveis 100% elétricos.
A unidade industrial torna-se assim na primeira fábrica em Portugal a produzir, em grande escala, veículos de passageiros e comerciais ligeiros elétricos a bateria, com a saída dos primeiros modelos totalmente elétricos das suas linhas de montagem, anunciou hoje a multinacional sediada em Amesterdão.
Deste chão de fábrica vão sair oito modelos 100% elétricos nas versões de passageiros e comerciais ligeiros dos modelos: Citroën ë-Berlingo e ë-Berlingo Van, Peugeot E-Partner e E-Rifter, Fiat e-Doblò e Opel Combo-e, tanto para o mercado nacional como para exportação.
Recorde-se que a primeira fábrica automóvel a produzir veículos 100% elétricos foi a Mitsubishi Fuso no Tramagal, distrito de Santarém, que produz camiões ligeiros de transporte de mercadorias.
A companhia liderada pelo português Carlos Tavares antecipou em um ano o arranque da produção, com a produção em série a arrancar durante o próximo mês de outubro.
A nova odisseia da Stellantis, na fábrica inaugurada há 62 anos, contou com o “apoio do Governo” e com um investimento global de 119 milhões de euros ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), segundo a companhia.