O líder da Stellantis defendeu, na terça-feira, que os países europeus devem apoiar a compra de veículos elétricos pela classe média. Carlos Tavares rejeita também a imposição de tarifas alfandegárias por parte da União Europeia aos veículos elétricos chineses.
"Preferimos que não haja proteção, só pode adormecer este combate renhido que nos permite afrontar os chineses. Sabemos que não vamos ser protegidos no mundo inteiro. Vamos ter de enfrentar a concorrência chinesa no resto do mundo", disse o gestor português, na terça-feira, em conferência de imprensa na fábrica do grupo em Mangualde, distrito de Viseu.
"As tarifas na Europa não nos permite ganhar face a esta concorrência em África e na América Latina. Temos de trabalhar muito duramente nos custos para oferecer às classes médias europeias preços que possam pagar", acrescentou.
"O problema de custo não permite às classes médias comprarem veículos elétricos. Não se pode criar uma bolha, vai criar inflação, fazer com que os carros sejam ainda mais inacessíveis, o que só poderá ser corrigido com subsídios do Orçamento do Estado, mais impostos. Falta visão estratégica na Europa", acrescentou.
O responsável alertou para o risco de "retaliações" por parte da China, com a aplicação de proteções aduaneiras sobre vários produtos europeus. "Será que vamos exportar vinho do Porto, carne de porco ou automóveis?", questionou.
Recordando uma conversa recente que teve com o chanceler alemão Olaf Scholz, que também concorda consigo na rejeição das tarifas aos carros chineses, sublinhou que "os alemães são todos contra. Esta é mais uma linha de fratura dentro da Europa. A Alemanha não está interessada porque vai ser a primeira vítima de retaliações", destacou.
O gestor aproveitou também o evento para mandar uma 'alfinetada' a Elon Musk e à sua Tesla, rival direta da Stellantis no duelo da eletrificação.
"A Stellantis está numa competição muito renhida a nível europeu. Temos o factor da credibilidade da tecnologia da Stellantis, o mesmo ou mais do que a famosa Tesla", começou por dizer.
"Já atingimos um nível de competitividade em termos de preços e autonomia dos veículos elétricos que são considerados como líderes mundiais, nem sempre com razão. Já estamos corpo-a-corpo. A Stellantis vai continuar a liderar", disparou.
A Stellantis Mangualde, no distrito de Viseu, arrancou com a produção de oito automóveis 100% elétricos.
A unidade industrial torna-se assim na primeira fábrica em Portugal a produzir, em grande escala, veículos de passageiros e comerciais ligeiros elétricos a bateria, com a saída dos primeiros modelos totalmente elétricos das suas linhas de montagem, anunciou hoje a multinacional sediada em Amesterdão.
Deste chão de fábrica vão sair oito modelos 100% elétricos nas versões de passageiros e comerciais ligeiros dos modelos: Citroën ë-Berlingo e ë-Berlingo Van, Peugeot E-Partner e E-Rifter, Fiat e-Doblò e Opel Combo-e, tanto para o mercado nacional como para exportação.
Recorde-se que a primeira fábrica automóvel a produzir veículos 100% elétricos foi a Mitsubishi Fuso no Tramagal, distrito de Santarém, que produz camiões ligeiros de transporte de mercadorias.
A companhia liderada pelo português Carlos Tavares antecipou em um ano o arranque da produção, com a produção em série a arrancar durante o próximo mês de outubro.
A nova odisseia da Stellantis na fábrica inaugurada há 62 anos, contou com o “apoio do Governo” e com um investimento global de 119 milhões de euros ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), segundo a companhia.