Operadores de telecomunicações, regulador e consumidores tendem a concordar pouco, mas o trio é minimamente unânime no seguinte: a rede móvel de quinta geração (5G) aumentará a capacidade das redes e a velocidade e, consequentemente, as possibilidades de desenvolvimento de aplicações e a inovação, transversal a vários sectores. Resta saber se chegará ainda em 2021 – um horizonte temporal que o presidente da Autoridade Nacional das Comunicações (Anacom) diz ser possível, conforme revelou em entrevista à RTP esta terça-feira. A NOS acredita que até ao final do ano será atribuída a frequência e a Altice Portugal remete para janeiro, segundo as informações veiculadas à imprensa.
Porém, como é que a sociedade e as empresas beneficiarão do 5G? A Anacom destaca os objetivos de reforço de cobertura de Portugal com redes de alta velocidade, que deverão ser conseguidos depois do desfecho do leilão. “Os operadores que ganharam espectro no leilão na faixa dos 700 MHz (2x10 MHz) são obrigados a cobrir 90% das freguesias do país com baixa densidade populacional com Internet a 100 Mbps, em 2025, o que contribuirá para promover a coesão social e territorial”, explica João Cadete de Matos ao Jornal Económico (JE).
A Anacom enumera em cinco pontos as mais-valias desta expansão na rede: maior número de dispositivos ligados simultaneamente (até um milhão por km2); maior capacidade de partilha de informação, com um volume de dados transmitidos até 1000 vezes superior, por km2, comparativamente às outras mais baixas; menor tempo de resposta associado a serviços de telecomunicações (a chamada, na gíria telecom, menor latência); revolução das aplicações que farão parte da Internet das Coisas (IoT) e hipótese de poder repartir a rede em partes, usando a mesma rede para fins distintos.
Manuel Ramalho Eanes, administrador executivo da NOS, cita um estudo da Accenture, no qual se conclui que, nos próximos cinco anos, o 5G deverá permitir ganhos de produtividade à indústria entre 20% e 30%, um aumento de 20% na vida útil dos ativos industriais e ganhos de eficiência de cerca de 50% nas linhas de montagem. Além disso, representará a nível europeu um acréscimo de 51,2 biliões de euros no PIB, com impacto direto em 20 milhões de empregos, antecipa a consultora. “Será o enabler da indústria 4.0, suportada por uma rede segura, fiável e de alta performance. Assistiremos à generalização de unidades de produção inteligentes, conectadas e fortemente automatizadas. Através de tecnologias de realidade aumentada (RA) ou fazendo uso de IoT a uma escala massiva, combinando com analítica e inteligência artificial, as soluções permitem prever problemas e solucioná-los em tempo real, reduzindo as paragens na produção e tornando-a mais eficiente e produtiva”, defende.
Quer a NOS e a Altice quer o presidente do conselho de administração da Anacom fazem referência ao impacto do 5G na logística, na saúde, na educação e nas infraestruturas, uma vez que estão definidas obrigações de cobertura prioritárias para serviços em hospitais e centros de saúde, universidades e politécnicos, parques empresariais e industriais, portos e aeroportos ou instituições militares.
Manuel Ramalho Eanes dá exemplos das transformações no sector da saúde e do ensino, dois dos que terão mais disrupção: generalização da telemedicina e de cirurgias remotas com robôs, ambulâncias conectadas que comunicam em tempo real com hospitais, médicos e enfermeiros, massificação de aulas virtuais ou métodos de aprendizagem vanguardistas com RA, como os que estão a ser usados na Escola Secundária João Gonçalves Zarco, em Matosinhos. “O 5G inaugura a era da hiperctonectividade. Estamos perante uma revolução tecnológica, que nos conduz um paradigma de desenvolvimento das sociedades 5.0 e em que Portugal tem a oportunidade de se transformar”, garante.
A Altice Portugal também não tem dúvidas de que o 5G é uma oportunidade para Portugal, mas alerta para a necessidade de compromisso entre organizações, Estado e supervisores, sob pena de se pôr em causa a retoma económica do país. “O lançamento do 5G obriga a níveis de investimento muito avultados e, por isso, esses investimentos têm de ser relevantes, têm de ser os que melhor servem o país e os portugueses. Só assim se conseguirão potenciar novas oportunidades de negócio, tirar partido da capacidade que o 5G tem de transformar de forma célere organizações, estruturas fabris e vários sectores”, diz fonte oficial da dona da Meo ao JE.