A Fed é o próximo alvo da trumpização dos EUA

Há uma trumpização em curso dos EUA e a Reserva Federal é apenas o último alvo a abater pela Casa Branca. Opresidente quer cortar as taxas de juro a todo o custo para estimular a economia americana depois dos cortes na imigração e das tarifas impostas a parceiros comerciais de todo o mundo, ambos com impactos negativos para os EUA, como já avisou Jerome Powell que rejeita cortes cegos nos juros.
A governadora Lisa Cook avançou com um processo na quinta-feira para combater na justiça o que considera ser um despedimento ilegal por Donald Trump e para se manter no cargo. A primeira mulher afro-americana na administração da Fed foi acusada publicamente, sem provas, de ter mentido para obter condições mais vantajosas num crédito à habitação.
“É claro que a remoção da governadora Cook (...) servem para promover a sua remoção imediata e vagar o lugar para o Presidente Trump o preencher e avançar com a sua agenda para minar a independência da Reserva Federal”, segundo os advogados da responsável.
Por sua vez, um porta-voz da Casa Branca disse na quinta-feira: “A remoção de um governador com causa melhora a credibilidade da Fed tanto para os mercados como para o povo americano”.
“Este é um grande processo. Se permitirmos que a política seja determinante para entrar na Fed, o que é que isso significa para o futuro da nossa economia?”, disse à “CNN” Jane Manners professora na Fordham School of Law.
Pode Trump despedir membros da Fed sem justa causa? O Supremo Tribunal dos EUA sugeriu em maio que os responsáveis do banco central gozam de uma proteção especial face à Casa Branca, dada a estrutura única do banco central. No entanto, a Casa Branca pode despedir um membro da Fed com justa causa, e é isso que vai estar em jogo na batalha legal que se segue. A Fed já disse que vai cumprir as ordens do tribunal.
Apesar de contar com esta cartada, o Supremo Tribunal - controlado por conservadores - tem dado luz verde consecutivamente aos despedimentos ordenados por Donald Trump de agências públicas independentes.
A próxima reunião da Fed a 17 de setembro vai assim começar debaixo de grande pressão. Os analistas esperam o primeiro corte desde o final de 2024.
Donald Trump já conseguiu meter um homem da sua confiança na administração da Fed, Stephen Miran, que substituiu Adriana Kugler que saiu, de surpresa, no início de agosto. Terá acusado a pressão de integrar uma organização que está debaixo de fogo de um dos homens mais poderosos do mundo? E até quando Lisa Cook vai aguentar o vexame público a que tem sido sujeita perante acusações sem provas?
Fundada há 111 anos, esta é a primeira vez que a Casa Branca tenta demitir, pelos menos publicamente, um dos governadores da Fed.
A tática de ataque não é nova. Bill Pulte – diretor da ‘Federal Housing Finance Agency’ – já atacou outros adversários de Trump com os mesmos argumentos, incluindo o senador democrata Adam B. Schiff, da Califórnia, e Letitia James, a procuradora-geral do estado de Nova Iorque.
Bill Pulte começou por acusar Lisa Cook inicialmente, via redes sociais, e já anunciou que reencaminhou o caso para a Procuradoria-Geral dos EUA. Até agora, ainda não existe nenhuma acusação contra a economista.
Lisa Cook era professora de Economia na Universidade do Michigan até ser nomeada por Joe Biden em 2022, contando no seu currículo profissional com a Universidade de Harvard e de Stanford. Serviu também como assessora económica de Barack Obama.