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Vinho: Tarifas pioram perspectivas nacionais depois de exportações para os EUA caírem mais de 9% até maio

O vinho exportado para os EUA recuou 9,3% em valor, o que corresponde a quase 4 milhões de euros, enquanto as exportações em geral caíram 1%. Tarifas irão encarecer o produto para o consumidor americano mais do que os 15% de taxa alfandegária e produtores nacionais já não conseguem absorver o acréscimo de custo.

O sector do vinho nacional está preocupado com a imposição de tarifas norte-americanas, isto depois de se perceber que este produto não estará isento de taxa à entrada dos EUA, uma hipótese que chegou a estar em cima da mesa e que os produtores portugueses ainda têm alguma esperança que se concretize. O mercado norte-americano já vinha perdendo fulgor, recuando mais de 9% até maio, mas a situação a partir daqui irá deteriorar-se ainda mais.

Nos primeiros cinco meses do ano, o vinho exportado para os EUA recuou 9,3% em valor, o que corresponde a quase 4 milhões de euros, segundo os dados do Instituto do Vinho e da Vinha (IVV) com base nas estatísticas de comércio internacional do INE. Em volume, o recuo foi menos significativo, caindo 5,7% em termos homólogos de 103 mil hectolitros para 98 mil, ou seja, abaixo da barreira dos 100 mil.

Em termos globais, as exportações de vinho recuaram 1% no período em análise, espelhando o maior decréscimo na maior economia do mundo.

Agora, com uma tarifa de 15% sobre estes produtos, as dificuldades serão ainda maiores, projeta Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, reconhecendo que é uma taxa “que irá causar dano”.

Por um lado, a concorrência à produção portuguesa e europeia, nomeadamente do Chile, Argentina e Austrália, enfrenta tarifas mais baixas, o que deixa o vinho nacional numa posição comparativamente desfavorável. Acresce a isto que o preço subirá ainda mais do que os 15% de imposto à entrada que passa a ter de pagar.

“Lá há três níveis [na cadeia de valor], é o que se chama de um sistema 3-tier: importador, distribuidor e retalhista – e cada um tem a sua margem. Se o primeiro apanha com 15%, o segundo já apanhará com 18% ou 20% e o terceiro fará chegar ao consumidor muito mais caro”, ilustra, lembrando também que, com uma tarifa de 15%, a capacidade dos exportadores europeus de absorverem o acréscimo de custo é mais limitada.

Em termos positivos, o acordo comercial da UE com os EUA e o anúncio de Trump de quinta-feira vêm conferir alguma previsibilidade a um sector onde as decisões de investimento estavam a ser adiadas fruto da incerteza. Mesmo assim, e dado que os termos do acordo aparentam ser desfavoráveis a vários sectores europeus, há “alguma esperança que a UE consiga negociar o ‘zero-por-zero’ ou alguma coisa deste tipo”.

Por sua vez, Paulo Amorim, presidente da ANCEVE - Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinho e Bebidas Espirituosas, argumenta que o acordo deixou a Europa numa “posição muito fragilizada”, criticando a postura de Ursula von der Leyen, que conferiu a Donald Trump uma vitória diplomática com “uma megaoperação de relações públicas” no fim-de-semana.

“O Reino Unido, sozinho, conseguiu um acordo melhor do que a UE toda”, complementa, ilustrando o fraco resultado alcançado pela equipa negocial de Bruxelas.

Perante este cenário, o sector terá de apostar noutras geografias, nomeadamente o Brasil ou Angola, onde o potencial de crescimento das exportações nacionais é ainda bastante considerável. Nos primeiros cinco meses do ano, as vendas para o Brasil estavam iguais às do mesmo período do ano anterior em valor, embora com um recuo de 2,7% em volume, enquanto Angola viu um disparo de 35% em valor.

Ainda assim, e apesar do crescimento assinalável do mercado angolano, o preço praticado é dos mais baixos nas exportações nacionais: 1,30 euros por litro, uma subida de 14,6% em relação ao ano passado, mas ainda bem abaixo dos 2,78 de média nas vendas para mercados extracomunitários e ainda mais distante dos 3,95 praticados nos EUA.

Já no que respeita ao Brasil, a lentidão europeia está a ser bem evidente nos atrasos no acordo com o Mercosul, que tão importante seria para o sector português, considera Paulo Amorim. No entanto, e dado que a grande oposição tem vindo consistentemente de França, Paris tem agora um novo incentivo para aprovar o acordo com o bloco sul-americano, visto que o seu sector vitivinícola também será fortemente abalado pela política comercial norte-americana.