O Brasil assume a triste condição de ‘campeão’ das tarifas de Donald Trump: o governo liderado pelo socialista Inácio Lula da Silva – que não deixa de lado as iniciativas que levaram à imposição de proibição de o antigo presidente, Jair Bolsonaro, de voltar a candidatar-se ao lugar – verá implementada uma tarifa adicional de 40% face aos atuais 10%. A taxa máxima está reservada para a Síria – país vizinho de Israel, que tem sido alvo de constantes ataques das forças do Estado hebraico. O Canadá começou a ser taxado desde sexta-feira em 35%, ao invés da anterior proposta de 25% - medida que Trump disse explicitamente ser causada pela decisão de o país ir reconhecer o Estado da Palestina por ocasião da abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU, em setembro próximo.
O ‘tarifaço’, como lhe chamam os brasileiros, deixou de fora, ainda assim, 694 produtos, o que representa cerca de 43,4% do total exportado pelo Brasil para o mercado norte-americano, segundo estimativa preliminar da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) - os itens protegidos representam 18,4 mil milhões de dólares para um total de 42,3 mil milhões (dados de 2024). Petróleo, combustíveis, sumo e polpa de laranja, minérios, fertilizantes, motores, peças, componentes e aeronaves civis fazem parte da lista das exceções – ao contrário do café e da carne bovina.
já a Embraer ficou livre da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. Para a empresa, a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, este é o reconhecimento da importância estratégica das atividades da empresa para o Brasil e os Estados Unidos. "Continuamos a acreditar e a defender firmemente o retorno à regra de tarifa zero para a indústria aeroespacial global", afirma a nota da Embraer. "Mais importante ainda, apoiamos o diálogo contínuo entre os governos brasileiro e norte-americano e permanecemos confiantes num resultado positivo para os dois países", acrescenta.
Em aberto parece estar ainda o caso da China: o think tank Gavekal Dragonomics indicou que a estratégia comercial do presidente dos Estados Unidos deverá resultar em tarifas mais elevadas para a China, mas notou que Pequim demonstra estar “pouco preocupada”. Num relatório publicado na quinta-feira, o grupo de reflexão com sede em Hong Kong lembra que os parceiros comerciais de Washington, incluindo Japão e União Europeia, aceitaram tarifas gerais de cerca de 15%, acompanhadas de promessas de investimento nos Estados Unidos que são “largamente fictícias”, mas que, para Trump, oferecem “demonstrações de subserviência”, o que lhe permite proclamar vitórias políticas. A mais recente ronda de negociações, realizada em Estocolmo, resultou na prorrogação do prazo para alcançar um entendimento, de 12 de agosto para 10 de novembro, um prazo que “faz sentido”, uma vez que é agora “óbvio que o principal objetivo de Trump é tentar marcar uma viagem à China no outono, quando poderia fechar um acordo com o presidente chinês, Xi Jinping, cara a cara”, aponta a Gavekal Dragonomics. O relatório nota que a tarifa final aplicada à China deverá ser “substancialmente mais alta” do que a de outros países – atualmente ronda 45% em termos efetivos –, mas poderá ficar ligeiramente abaixo desse nível, dado o poder negocial de Pequim.
Entretanto, o novo adiamento da implementação das tarifas por mais uma semana parece ter sido decidido para acomodar as últimas negociações. De qualquer modo, o novo plano tarifário foi publicado na quinta-feira no portal da Internet da Casa Branca, horas antes do fim do anterior prazo. O decreto refere que alguns parceiros comerciais dos EUA concordaram, ou estão prestes a concordar, com compromissos comerciais e de segurança significativos, mas acrescenta que outros, apesar de terem encetado negociações, propuseram condições que não resolvem "de forma suficiente" os desequilíbrios nas relações comerciais ou não alinham adequadamente com os Estados Unidos em questões económicas e de segurança nacional.
Para os países aos quais os EUA vendem mais do que compram, continua em vigor a taxa de 10% definida em 2 de abril, dia em que foi anunciada pela primeira vez uma série completa de taxas sobre os parceiros dos EUA. Uma taxa de 15% é apresentada como o novo mínimo para os países com os quais os Estados Unidos consideram ter um défice comercial.
A ordem deverá ser aplicada a 68 países e também a todos os 27 membros da União Europeia. Enquanto algumas economias, como Japão, União Europeia e Coreia do Sul, conseguiram negociar com Washington, outras, como Índia, Brasil e Canadá, ainda não chegaram a acordos, deixando as suas exportações para os EUA sujeitas a tarifas muito mais altas. Os países não listados na ordem enfrentarão uma tarifa básica de 10%.