Fugindo das bombas e da barbárie nazi, milhares de refugiados chegam a Lisboa em busca de uma passagem para o Novo Mundo que lhes permita garantir a liberdade. Entre eles encontra-se Fernando Pena Freitas – ex-oficial do exército – que regressa a Portugal após anos de ausência com o objetivo de cruzar o Atlântico com destino ao Brasil.
Enquanto suporta a angústia da espera por um visto, é descoberta a sua verdadeira identidade, e vê-se então envolvido no meio de uma batalha que se está a desenvolver entre os serviços secretos portugueses, ingleses e alemães. Entre memórias ainda recentes e realidades presentes, em que se cruzam as figuras políticas rivais de Salazar e Rolão Preto, o romance aflora um dos mais obscuros e pouco tratados temas da história de Portugal: a possibilidade de a Espanha de Franco tomar de assalto Portugal e fazer da Península Ibérica um país único, alinhado com a política expansionista do Eixo, liderado pela Alemanha nazi.
Xosé Ramón Pena, nascido em 1956 em Betanzos, Galiza, doutor em Filologia, é um autor reconhecido no seio das letras da Galiza e o seu trabalho distribui-se pela história da literatura, a narrativa e o jornalismo. Autor de obras como ‘Manuel Antonio e a vanguarda’ (1996), ‘História da literatura medieval galego-portuguesa’ (2002) e Historia da literatura galega (2013-2019)’, obteve o Prémio da Crítica Galega (2015) e o Losada Diéguez (2017). Colunista habitual nas páginas do jornal “Faro de Vigo”, foi durante anos o coordenador do seu suplemento cultural. Como narrador, iniciou a sua carreira em 1984 com a publicação de ‘O reverso do espello’ e em 1987 recebeu o prémio de narrativa Xerais e o prémio Losada Diéguez para a melhor obra de narrativa em idioma galego por ‘Para despois do adeus’. Seguiram-se ‘Paixóns privadas’ (1991), ‘A era de Acuario’ (1997), ‘Fado de princesa’ (2005), ‘Como en Alxeria’ (2012) e ‘Todas as vidas’ (2020). Publicou em 2008 ‘A batalla do paraíso triste’, obra finalista do Prémio Nacional de Narrativa, que seria traduzido em 2017 para o castelhano e agora para português. ‘A batalha do paraíso triste’ surge num texto poderoso, onde a construção das personagens segue uma lógica de densidade que implica uma apurada capacidade narrativa do autor e transforma a obra num objeto que importa conhecer. Tanto mais que, apesar da proximidade e das obras de divulgação de importância duvidosa, a literatura galega continua a ser, em Portugal, principalmente desconhecida.
Com todos os ingredientes para ser uma obra de consumo divertido – mistério, romance, sexo – Xosé Ramón Pena tem ainda a ousadia de chamar para a qualidade de personagem uma personalidade da história contemporânea portuguesa: o ditador Oliveira Salazar. Ousadia que se saúda, evidentemente. E de escrever sobre um mundo desconhecido: o da perseguição no dia-a-dia.
Vale a pena referir que a editora, a Teodolito, tem feito entrar em Portugal algumas vozes novas e não despiciendas da moderna literatura – entre elas figurando em destaque a catalã Clara Usón, autora de ‘A filha do leste’, uma impressionante espécie de biografia de Ana Mladic, desafortunada filha de Ratko Mladic, ex-militar sérvio e um dos maiores facínoras de que há memória na Europa.