O número exato é incerto, pois depende dos resultados a 30 de janeiro de 2022, e muito em particular do partido ou partidos que sejam chamados a formar governo, mas tudo indica que um terço dos atuais 230 deputados não fiquem na Assembleia da República na próxima legislatura, com o PS e o PSDa equivalerem-se nas saídas.
Um dos sinais de que tanto o grupo parlamentar do PS como o do PSD verão partir cerca de três dezenas de parlamentares reside na Comissão de Assuntos Constitucionais, que ficará sem o atual presidente, o social-democrata Marques Guedes, e o vice-presidente socialista José Magalhães - eleito desde a terceira legislatura, nos anos 80, quando era militante do PCP -, restando apenas o outro vice-presidente, José Manuel Pureza, que só não será reeleito enquanto cabeça de lista por Coimbra num cenário de descalabro eleitoral que algumas sondagens apontam ao Bloco de Esquerda.
Pelo contrário, irrevogável é a despedida do coordenador centrista, Telmo Correia, e bastante provável a do coordenador comunista, AntónioFilipe, particularmente ameaçado de não conseguir votos suficientes no círculo de Santarém.
A grande renovação na próxima legislatura começou a desenhar-se com o anúncio do fim da carreira parlamentar do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, que será substituído por Edite Estrela caso o PS mantenha a maioria - sobressaindo o nome de Paulo Mota Pinto, que será cabeça de lista por Leiria, se for o PSDa vencer. Também disseram adeus o veterano socialista Jorge Lacão, atual presidente da Comissão de Transparência, e todo o grupo parlamentar doCDS-PP, nomeadamente Cecília Meireles, João Pinho de Almeida e TelmoCorreia, todos em choque frontal com a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos, que ocupará o lugar mais elegível nas listas dos centristas, sendo número 1 por Lisboa.
A mudança nos dois principais grupos parlamentares foi mais notória no PSD, pois Rui Rio promoveu a exclusão de cabeças de lista de 2019 como Ana MiguelSantos (Aveiro), Cristóvão Norte (Faro), Carlos Peixoto (Guarda), tal como dos líderes distritais Paulo Leitão (Coimbra) e Pedro Alves (Viseu), saindo por sua iniciativa os também ex-cabeças de lista Margarida Balseiro Lopes (Leiria) e Leite Ramos (Vila Real), enquanto o líder distrital portuense Alberto Machado foi um dos quatro atuais deputados eleitos por esse círculo e apoiantes de Paulo Rangel nas diretas a serem relegados para lugares de impossível reeleição.
Parecido acabou por acontecer no PS, onde a ex-líder da Juventude Socialista Maria Begonha caiu de terceira por Braga para 27.ª por Lisboa, desaparecendo das listas aprovadas na segunda-feira figuras ligadas a diversas polémicas, nomeadamente das “moradas falsas”, comoSónia Fertuzinhos (antiga cabeça de lista por Braga), Hortense Martins (número 1 por Castelo Branco em 2019), Elza Pais (Leiria), AntónioGameiro (Santarém) e AscensoSimões (Vila Real).Além das saídas assaz mais serenas da ex-ministra Constança Urbano de Sousa ou do constitucionalista Bacelar Vasconcelos.
Mais à esquerda aguarda-se para ver se os resultados a 30 de janeiro desmentirão os sinais de preocupação decorrentes das sondagens, que a confirmarem-se podem custar o mandato a deputados comunistas emblemáticos, como AntónioFilipe ou até o líder parlamentar JoãoOliveira, que tem contra si a possibilidade de o PSDsuperar aCDU em Évora e em simultâneo o PSmanter o segundo deputado. Entre os bloquistas há receios quanto aos segundos deputados por Braga, Aveiro e Setúbal, ou o quinto por Lisboa (reservado para a estreante Leonor Rosas), tendo ficado fora das listas Jorge Costa,Luís Monteiro e Maria ManuelRola, que tal como as deputadas não inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues não voltarão a São Bento em 2022.