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BCE compensa fim do PEPP com reforço do programa regular

O Banco Central Europeu (BCE) vai terminar com o programa pandémico de compra de dívida em março de 2022, mas prolonga reinvestimento e admite que compras podem voltar “se necessário”. Para conter o impacto, o programa de compra de ativos tradicional é reforçado.

Flexibilidade parece ser a nova palavra de ordem no Banco Central Europeu (BCE). Primeiro, com a meta de inflação, agora com os estímulos monetários. Foi sem grandes surpresas que a instituição presidida por Christine Lagarde anunciou esta quinta-feira um reforço do programa de compra de ativos tradicional para compensar o fim do programa de ativos de emergência, previsto para março do próximo ano. Para não provocar instabilidade nos mercados, o banco central irá também prolongar o horizonte de reinvestimento do Programa de Compra de Emergência Pandémica (PEPP) até, pelo menos, ao final de 2024, mas sinaliza flexibilidade se necessário.

Há meses que analistas apontavam para a reunião de dezembro do BCE a divulgação de mais detalhes sobre o fim do programa de 1,85 biliões de euros implementado para enfrentar a pandemia. Os governadores dos bancos centrais da moeda única decidiram, assim, que no primeiro trimestre de 2022 se irão realizar compras de ativos líquidos no âmbito do Programa de Compra de Emergência Pandémica (PEPP) a um ritmo mais lento do que no trimestre anterior.

O BCE explicou que irá “interromper” as compras de ativos no âmbito do PEPP no final de março de 2022, tendo decidido alargar o horizonte de reinvestimento deste programa, pelo menos até ao final de 2024.

No entanto, assinala que “em caso de uma fragmentação renovada do mercado relacionada com a pandemia, os reinvestimentos no contexto do PEPP podem, em qualquer momento, ser ajustados de forma flexível ao longo do tempo, por classes de ativos e entre jurisdições”. E não descarta voltar às compras no âmbito do programa pandémico se necessário: “as aquisições líquidas no contexto do PEPP podem também ser retomadas, se necessário, para contrariar choques negativos relacionados com a pandemia”.

“O BCE entrou num processo de redução gradual muito cauteloso”, assinala Carsten Brzeski, economista do ING, numa nota de research.

O Conselho de Governadores anunciou ainda que, “em linha com uma redução passo a passo nas compras de ativos e para assegurar que a orientação da política monetária se mantém consistente com a estabilização da inflação no seu objetivo a médio prazo”, irá avançar para um ritmo de compra líquida mensal de 40 mil milhões de euros no segundo trimestre e de 30 mil milhões de euros no terceiro trimestre no âmbito do programa de compra de ativos (APP).
A partir de outubro de 2022, o Conselho de Governadores prevê depois manter as compras de ativos ao abrigo do APP a um ritmo mensal de 20 mil milhões de euros “durante o tempo necessário para reforçar o impacto acomodatício” das taxas de política, com o BCE a sinalizar esperar que as compras líquidas terminem pouco antes de começar a aumentar as taxas e juro diretoras do BCE.

Para Franck Dixmier, CIO fixed income da Allianz Global Investors, “foi surpreendente ouvir Christine Lagarde explicar que as compras de APP de 20 mil milhões de euros/mês a partir de outubro de 2022 serão a ferramenta usada para atingir a meta de inflação de 2%”. “Isso está longe da “política monetária enérgica e persistente” anunciada em setembro passado”, diz.

Questionado sobre o impacto para Portugal, o economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Rosa, recorda que a presidente do BCE referiu que a instituição estaria sempre atento a quaisquer ameaças à transmissão das políticas monetárias a todos os países membros. “Ou seja, a presidente do banco central da zona euro agirá sempre que haja dificuldades num país membro, numa altura em que a pandemia continua a ameaçar a economia europeia”, explica.

“As dívidas soberanas mais vulneráveis da zona euro, tais como dos países do sul da Europa, poderão contar com o suporte da do BCE, a não ser que tenham cometido erros crassos na gestão da dívida pública”, assinala, argumentando que países como Portugal, Grécia e Itália “poderão, muito provavelmente, continuar a contar com a ajuda do BCE no suporte da sua dívida pública, nomeadamente através das compras de títulos do tesouro”. “Desde que os governos da Europa meridional mantenham o rumo da consolidação orçamental, os spreads deverão continuar controlados e a zona euro caminhará gradualmente para uma maior coesão”, acrescenta.

Conforme esperado, as taxas de juro mantiveram-se inalteradas, sendo a taxa aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas aplicáveis à facilidade de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito permanecem em 0%, 0,25% e -0,5%, respectivamente.

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