É nos grandes centros urbanos que se concentra a maior parte do eleitorado português e é sobretudo, aí que os partidos procuram conquistar votos, a par com as capitais de distrito. As eleições europeias vieram, no entanto, acentuar uma tendência preocupante para o PSD. O partido perdeu força nos 12 maiores centros urbanos do país e só conseguiu liderar num dos 18 distritos continentais (Vila Real) e na região autónoma da Madeira. Já o PS soma e segue, preparando-se para voltar a pintar o mapa de cor de rosa nas legislativas.
Se as eleições europeias foram vistas por muitos como um prelúdio das legislativas, então o PSD está em maus lençóis. Olhando para os resultados eleitorais, os sociais-democratas perderam todos os concelhos que constam na lista dos 12 principais em número de habitantes. Mesmo Cascais, Oeiras e Braga, que costumam privilegiar o PSD em eleições, alteraram o sentido de voto nas últimas eleições – o primeiro embate eleitoral sob a liderança de Rui Rio. No caso de Cascais, estas foram as primeiras eleições, desde as legislativas de 2011, em que o partido vencedor não foi o PSD, sozinho ou coligado com o CDS-PP.
A capitalizar com as perdas do partido de Rui Rio está o PS. Nas europeias conseguiu vencer nos 12 concelhos mais populosos, sem exceção. Nos casos de Sintra, Loures, Matosinhos, Amadora e Almada, os socialistas chegaram mesmo a conseguir mais do dobro dos votos do PSD. Já na cidade de Lisboa, a diferença entre os dois partidos foi de 29,4% para 17,7%, o que corresponde a menos 11,7 pontos percentuais para o PSD.
O resultado é sobretudo desastroso quando se tem em conta que seis dos 12 principais concelhos portugueses pertencem ao distrito de Lisboa, onde nos últimos dez anos o PSD não consegue superar o PS. Nas eleições de 26 de maio, o PS conquistou 32,7% face aos 16,4% do PSD no distrito de Lisboa, o que corresponde a praticamente o dobro. Este é o distrito que elege mais deputados para a Assembleia da República (47) e, repetindo-se nas próximas legislativas o resultado das europeias, a distribuição estimada do número de deputados pelo círculo de Lisboa seria de 18 para o PS e 9 para o PSD. Nas legislativas de 2015, em que o PSD concorreu em coligação com o CDS-PP, conseguiu 18 deputados por Lisboa – os mesmos que o PS.
Nos centros urbanos mais a norte o cenário também não é animador para o PSD. No Porto, o PS leva também a melhor, com mais 5,06 pontos percentuais. O mesmo acontece com Vila Nova de Gaia, onde o PS parte com uma vantagem de 14,64 pontos face ao PSD. Ainda assim, nas últimas duas eleições legislativas, tanto no concelho do Porto como no de Vila Nova de Gaia os sociais-democratas trocaram as voltas aos socialistas e levaram a melhor. E em 2015, em coligação com o CDS-PP, o PSD reuniu 39,59% dos votos no distrito, o que lhe permitiu eleger 17 dos 37 deputados colocados pelo círculo do Porto. Já o PS ficou-se pelos 14.
Depois de ter conseguido maioria absoluta em Braga nas eleições autárquicas de 2017, também este concelho surpreendeu os sociais-democratas nas europeias com mais uma derrota: o PSD ficou a 7,65 pontos percentuais dos 31,5% do PS. Importa recordar que este círculo é também um dos que elege mais deputados para o Parlamento (19). Mais a sul, no distrito de Setúbal, Almada é o décimo concelho mais populoso e é outro onde o PSD não convence o eleitorado. Tal acontece há quase uma década, e aí dificilmente o PSD conseguirá inverter a tendência.
Em conjunto, esses 12 concelhos representam cerca de 25% dos eleitores, o que se pode vir a traduzir numa pesada perda para o PSD. Captar eleitorado e recentrar a mensagem do partido são as grandes prioridades e Rui Rio está confiante numa reviravolta.