Os candidatos do BE e do PAN às eleições europeias foram os que mais se focaram nas questões ambientais, sobretudo na emergência das alterações climáticas. Também foram os que mais subiram no número de votos em comparação com as eleições anteriores. Algo que não passou despercebido aos líderes do PS e do CDS-PP que parecem estar a tentar obter um rótulo “verde” para as legislativas de outubro.
Na noite de 30 de maio, em discurso perante a Comissão Política Nacional do PS, na sede do partido, em Lisboa, António Costa anunciou que as prioridades na próxima legislatura vão passar pelo “reforço da democracia”, pela “manutenção” de um quadro económico de “contas certas”, pelo investimento na melhoria dos serviços públicos e pela valorização das funções de soberania. Quanto aos eixos centrais do programa eleitoral do PS que será aprovado em Convenção Nacional agendada para o dia 20 de julho, o secretário-geral elegeu em primeiro lugar “o combate às alterações climáticas” e, logo a seguir, “o desafio demográfico”.
A evocação do “combate às alterações climáticas” já tinha sido recorrente ao longo da campanha para as eleições europeias, tanto por Costa como pelo cabeça-de-lista Pedro Marques, mas não desenvolveram o tema e não propuseram medidas concretas. Aliás, o manifesto do PS para as eleições europeias também não era muito extenso no que respeita às questões ambientais, consistindo basicamente em três objetivos: “Desenvolver uma nova estratégia europeia de crescimento e desenvolvimento sustentável, assente numa utilização sustentável dos recursos”; “implementar o Fundo Europeu de Transição Ambiental”; e “desenvolver medidas de política ambiciosas para fazer face às alterações climáticas, honrando os compromissos assumidos no Acordo de Paris”, além de “acelerar o caminho para a União Energética”.
O mesmo se aplica ao programa eleitoral que o PS apresentou nas eleições legislativas de 2015, assumindo então os objetivos de “promover a coesão territorial e a sustentabilidade ambiental” e “liderar a transição energética”. Ou seja, as questões ambientais, com especial destaque para a emergência das alterações climáticas, não eram centrais nem prioritárias.
Entretanto, o Governo anunciou ontem a aprovação de “um conjunto de diplomas que reforçam a prioridade dada pelo Governo às questões ambientais, tendo em vista o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas”. O Conselho de Ministros emitiu um comunicado salientando que as medidas aprovadas representam “importantes mudanças no que respeita à descarbonização da sociedade, à economia circular e à valorização do território”.
No dia 31 de maio, ao discursar numa conferência no Porto, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, salientou que “o foco da política deve estar nas pessoas. No CDS entendemos que as pessoas existem antes do Estado e antes de tantas outras coisas e têm de estar no nosso centro e no centro da política. E estar no centro das políticas significa prestar os melhores serviços e os melhores cuidados.
Cristas disse defender “uma organização do Estado num formato de Estado social em parceria” e depois enumerou os tópicos que pensa serem os que marcarão Portugal no futuro: “Democracia, alterações climáticas e território, economia e Estado Social de parceria parecem-nos bons tópicos para prepararmos um futuro diferente para o nosso país, um país onde as pessoas, o centro da política, podem sonhar, desenvolver e concretizar os seus sonhos de vida”.
Um dos temas que marcou a intervenção da líder do CDS-PP prendeu-se com a “mitigação das alterações climáticas”, tendo Cristas partido de uma abordagem a causas e soluções para a certeza de que “Portugal deve ambicionar ser líder na agenda global azul” porque, disse, “além do património que é o mar, tem ferramentas legislativas e de estratégia nacional para conseguir isso”.
“No mar temos desafios enormes, 97% do território português é mar, temos desafios enormes como o que nos afeta a orla costeira. Em terra temos o desafio de coesão territorial”, destacou.
No rescaldo das eleições europeias, perante um mau resultado, Cristas disse ter percebido o “sinal” dado pelos eleitores. O novo enfoque nas questões ambientais parece ser uma das primeiras mudanças estratégicas na sequência das eleições em que o CDS-PP quase foi apanhado pelo PAN.
Recorde-se que, no programa do CDS-PP para as eleições europeias, as questões ambientais resumiam-se praticamente a uma frase - “A adaptação às alterações climáticas deve ser uma prioridade e deve ser entendida de forma abrangente” - integrada numa proposta de “Mecanismo Europeu de Proteção Civil eficaz no auxílio em situações de catástrofe e medidas contra a seca e a desertificação”, na qual se sublinha que “a água é fundamental e defendemos uma política de irrigação eficaz”.