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Tudo está bem quando acaba mais ou menos bem

Com a suspensão da reforma da previdência, Sébastien Lecornu está “descompassado” com as suas “convicções”. Dito de outra forma: o primeiro-ministro não acredita no seu próprio Orçamento.

No final de mais uma ronda da crise política que trespassa a sociedade francesa – com enormes repercussões na economia – e que promete não ser a última, o primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, que sucedeu a si próprio, está numa posição de grande delicadeza. Não é fácil contestar o argumento da extrema-direita do Rassemblement National (RN), que, na opinião dos seus dois dirigentes máximos, Marine Le Pen e Jordan Bardella, resulta numa subalternização da vontade política do primeiro-ministro às opções da agenda política dos socialistas. O grande problema é que o próprio Lecornu pensa exatamente o mesmo: “Ser o terceiro primeiro-ministro na gestão desta crise significa que tenho que correr riscos, incluindo aqueles que às vezes vão contra as minhas próprias convicções. Digo isto com grande humildade. Acredito que a estabilidade do nosso país, neste momento difícil deve levar-nos a não agir como antes”. Fiz tudo certo? Certamente que não. Ofendi alguém, inclusivamente a mim mesmo? Peço desculpas por isso.”
Tudo isto disse o primeiro-ministro do alto da bancada dos oradores no Senado, a câmara alta do parlamento – dando “humildemente”, como disse, prova de que não acredita no Orçamento do Estado que vai agora discutir com os socialistas – depois de ter aceitado pelo menos três linhas vermelhas em que definitivamente não acredita: na suspensão da reforma da previdência, no imposto sobre as grandes fortunas e as grandes empresas (ver texto na página 34) e na não utilização do artigo 49.3 da Constituição, que permite a um governo tomar decisões que uma maioria qualificada da oposição não consegue travar.

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