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Têxteis são 56% das insolvências na indústria do Norte

A AEP considera “preocupantes” as insolvências no Norte no terceiro trimestre, num contexto de incerteza global, mas espera “resiliência” da indústria. Mais de 20% dos novos casos na região são nos têxteis. Representante do setor estima perda de 600 a 700 empregos no trimestre.

Há pelo menos uma década que o Norte não pesava tanto nos novos processos de falência em Portugal. A região, que habitualmente já tem preponderância neste capítulo, acumulou entre julho e setembro 55% de todas as insolvências declaradas, de acordo com os dados atualizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O Norte esteve em claro contraciclo: subiu 10,8% face aos três meses anteriores (para 256 empresas) e 5,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto viu o país divergir, com uma queda em cadeia de 0,9% e homóloga de 6,9% (para 459 insolvências empresariais).
Mas o que justifica estes movimentos opostos? E pode este último trimestre dar-nos sinais de uma nova tendência? Uma parte importante da explicação está nas fábricas. Enquanto setores como a construção e o comércio acompanharam a trajetória do país (menos 20 insolvências decretadas na região no conjunto das duas atividades face ao trimestre anterior), a indústria transformadora teve mais 12 casos (apesar de uma queda homóloga), o mesmo acréscimo que as atividades administrativas e serviços de apoio.
Ainda que o número de novas insolvências decretadas no Norte (e do país) esteja a um nível baixo quando comparado com outros períodos, nomeadamente da Troika ou da pandemia, o presidente do Conselho de Administração da AEP, Luís Miguel Ribeiro, mostra-se apreensivo com a subida das insolvências na região, e “em particular da indústria transformadora”.
Em respostas ao Jornal Económico (JE), o responsável nota que o Norte “é muito importante para a economia portuguesa”, porque tem maior especialização industrial e excedentes comerciais de bens, concentrando ao mesmo tempo metade das empresas da indústria transformadora e mais de um terço da construção.
Estes setores, porém, são “caracterizados por uma estrutura de custos relativamente elevados, alguns com elevada abertura ao mercado externo” o que traz desafios neste período para a indústria transformadora, afirma. É que “as empresas portuguesas estão a encontrar maiores dificuldades quer pelo aumento da concorrência, em particular de empresas asiáticas, quer pela maior instabilidade no comércio internacional como consequência das tensões geopolíticas”.
Estando o Norte do país mais sujeito aos efeitos desse enquadramento internacional, “pode traduzir-se num maior risco de insolvência”, argumenta o líder da AEP, considerando que “este fenómeno não é meramente circunstancial nem deve ser entendido como sinal de crise específica da região”. Depende do contexto internacional.
“É justificável, em parte, que o Norte contribua de forma expressiva para as insolvências a nível nacional e que, em determinados momentos, essa proporção se amplifique, nomeadamente num clima de incerteza global como o atual que afeta em primeira instância setores de bens transacionáveis”, defende. No entanto, o presidente do Conselho de Administração da AEP reconhece que “o aumento no número de falências na região e, em particular, na indústria transformadora não deixa de ser preocupante”.

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