Já não vale tudo. A transição para o paradigma da sustentabilidade exige que as empresas integrem e valorizem em todas as suas decisões e cadeias de valor as dimensões ambiental, social e de governança, ou, no original em inglês, ‘environment, social and governance’, que deu origem à conhecida sigla ESG. O processo mal começou. O lhe reservará 2022?
Para começar, uma ligação cada vez mais estreita entre a dimensão social e ambiental, diz João Wengorovius Meneses, secretário-Geral da associação empresarial Business Council for Sustainable Development (BCSD), ao Jornal Económico. “A publicação da Taxonomia Social da União Europeia, em 2022, após a publicação, em 2021, do ordenamento que enquadra os investimentos verdes, irá dar um forte contributo para a integração dessas duas dimensões ao nível das finanças sustentáveis”, justifica. “Os mercados de obrigações verdes e sociais — adianta — não só deverão crescer bastante em 2022, como teremos cada vez mais obrigações sustentáveis, isto é, assumindo objetivos sociais e ambientais simultaneamente”.
A Europa assume a liderança no combate às alterações climáticas e as empresas começam a surfar a onda que se agiganta. Um inquérito realizado pelo BNP Paribas a 356 donos e gestores de ativos e instituições oficiais a que o JE teve acesso revela que a integração do ESG “está a amadurecer”, com um número crescente de investidores a atribuir-lhe mais de 75% do seu portefólio e a revelarem um conhecimento cada vez mais incorporado em organizações. O estudo mostra, no entanto, que é muito diferente o compromisso das empresas com o “net zero”. Enquanto 37% dos inquiridos se comprometeram a alinhar a totalidade ou parte da carteira para em 2050 atingir o objetivo, 36% deram os primeiros passos, mas sem realocar capital, e 27% não assumiram qualquer compromisso.
Segundo o secretário-Geral do BCSD Portugal, “conseguir identificar os riscos, oportunidades e impactos ESG da atividade e, sobretudo, conseguir criar valor intangível de longo prazo, não apenas lucro, destinado a outros ‘stakeholders’ que não apenas os acionistas será, cada vez mais, uma condição chave para a competitividade e resiliência das empresas”. Também os consumidores se movimentam no mesmo sentido —esta é uma segunda grande tendência que 2022 vai aprofundar. “Os consumidores dos países desenvolvidos serão cada vez mais exigentes relativamente aos seus hábitos de consumo, nomeadamente, em sectores como: alimentação, moda, TIC, habitação e mobilidade. Assim, as empresas que melhor integrarem os ESG terão a preferência dos consumidores – e, por isso, dos investidores, já que serão mais competitivas e resilientes”, explica João W. Meneses.
Serão essas as empresas melhor sucedidas, repete incessantemente Larry Fink. Na tradicional Carta da BlackRock aos CEOs, o homem mais poderoso da finança mundial escreveu em 2021: “não são apenas os índices ESG que superam os seus homólogos nos mercados.Também nos sectores, do automóvel, à banca, às empresas de petróleo e gás, as empresas com melhores perfis ESG estão a ter melhor desempenho do que os pares, desfrutando do “prémio da sustentabilidade”.
Portugal e as suas empresas acompanham o movimento global. No imobiliário, por exemplo, caminha-se no sentido de uma cada vez maior relevância do certificado energético com categoria igual ou superior a B. No turismo, o Pestana Hotel Group, protagonizou a primeira emissão obrigacionista verde – Green Bonds, a nível mundial no sector hoteleiro, há dois anos destinada a dois projectos de natureza sustentável: Pestana Tróia Eco-Resort e Pestana Blue Alvor. O primeiro, inserido numa zona de Reserva Natural, foi desenvolvido de acordo com princípios sustentáveis, aplicados no processo de construção, nos materiais utilizados, na preservação do meio ambiente, na preocupação com o tratamento de resíduos e no consumo de energia e água. Construído em conformidade com as melhores práticas ambientais, o Pestana Blue Alvor é o primeiro ‘resort all inclusive’ desenvolvido de raiz neste conceito no Algarve.
Fonte do grupo Pestana assinala ao JE a vasta lista de realizações em matéria de ESG, salientando que “em 2022, o plano social vai continuar a ser prioritário, mantendo as pessoas no centro da nossa ação e contribuindo para ajudar a suprir situações de carência”. Importância idêntica será dada à área ambiental, “quer na vertente de poupança e eficiência dos recursos (água, eletricidade, gás), quer na vertente económico/financeira”.
O Grupo Ageas Portugal, que opera num dos sectores mais impactantes e impactados pelos desafios sociais e ambientais, tem na sua nova sede em Lisboa um dos grandes projetos ao nível da sustentabilidade. A seguradora, signatária do Pacto de Mobilidade Empresarial para Lisboa e do Manifesto BCSD Portugal, que define 11 áreas de atuação premente, de forma a limitar o aquecimento global e garantir o cumprimento do Acordo de Paris sobre o clima, prepara novidades. “Estamos prestes a lançar o próximo ciclo estratégico”, afirma Katrien Buys, Responsável de Estratégia, Inovação e Sustentabilidade do Grupo Ageas Portugal ao JE. Adianta:“na nossa estratégia de sustentabilidade temos três grandes ambições de longo prazo, com uma perspetiva interna e externa: contribuir para uma sociedade mais saudável, promover a resiliência climática e fomentar a inclusão”. Isto é, chegar ao futuro.