Portugal conseguiu fechar 2023 com uma taxa de desemprego inferior à projetada pelo Governo, mas o último trimestre do ano até registou uma subida em cadeia e em termos absolutos da população desempregada – a maior no quarto trimestre dos últimos dez anos e suficiente para empurrar o emprego de novo para menos de cinco milhões de pessoas, nível recorde atingido este ano. Dada a incerteza com que as empresas encaram este ano, o desemprego não deve ver grandes reduções neste primeiro trimestre.
O ano passado fechou com uma taxa de desemprego de 6,5%, em linha com as estimativas do Banco de Portugal (BdP), Comissão Europeia e OCDE, e menos 0,2 pontos percentuais (p.p.) do que previa o Governo no cenário macroeconómico em que assentou o Orçamento do Estado para 2024 (OE2024). Este valor representa também uma subida de 0,5 p.p. em relação aos 6% registados em 2022.
Ainda assim, a população desempregada cresceu em 28.500 pessoas, ou 8,7%, ao passo que a população empregada caiu em 35 mil, ou 0,7%, isto em comparação com o trimestre anterior. Olhando para a última década, a queda do emprego é a maior registada no quarto trimestre dos últimos dez anos, destaca a análise da Randstad, e volta a colocar o total de empregados em Portugal abaixo dos cinco milhões, valor que havia sido alcançado pela primeira vez este ano.
Para Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, a subida do desemprego em termos absolutos é, em parte, reflexo do pouco dinamismo no terceiro trimestre, quando a economia contraiu 0,2%. Sendo um “indicador atrasado” no sentido de refletir flutuações na atividade real com uns meses de demora, o aumento da população desempregada é um espelho do “mau comportamento da economia no terceiro trimestre”.
Depois da inversão desta contração com um crescimento de 0,8% em cadeia no quarto trimestre, o impacto positivo no emprego no arranque deste ano será mais limitado, projeta Pedro Braz Teixeira. Isto porque os indícios são “duvidosos” e não ajudam à confiança dos empresários: em termos internos, “as sondagens indicam que vá sair uma confusão” das eleições legislativas, o que prolongará a incerteza; no plano internacional, “a questão do Mar Vermelho está bastante em aberto”, podendo agravar significativamente custos para as empresas da zona euro.
No plano inverso, e apesar de os mercados terem vindo a acalmar nas suas apostas de cortes de juros já no início do ano, a descida da Euribor “já mudou a perspetiva das famílias, que estão mais confiantes”.
“Aliás, foi isso já que, em parte, explicou o bom comportamento do consumo no quarto trimestre”, completa Pedro Braz Teixeira.
Jovens continuam com dificuldades
O emprego caiu em cadeia no último trimestre, mas subiu 1,6% na comparação homóloga, ao passo que a população desempregada cresceu 3% em relação ao quarto trimestre de 2022. Já o desemprego jovem, que abrange a faixa dos 16 aos 24 anos, voltou a subir em termos homólogos, fechando o ano em 20,3% (o que compara com 19,1% no ano anterior).
O ano fechou com uma subida considerável dos contratos sem termo, que cresceram 2,6%, ou 88 mil, verificando-se a tendência oposta nos contratos a termo, que recuaram 1,2%, ou 7.400.
Olhando por ramo de atividade, o emprego diminuiu em cadeia em quase todos os sectores, menos no da indústria, construção, energia e água, onde se registou um aumento de 18.800, ou 1,5%. O sector primário fechou com menos 1.200 profissionais, enquanto o dos serviços viu menos 52.600, com destaque para a queda de 26.200 no segmento de alojamento, restauração e similares.
Em termos homólogos, a situação é quase totalmente inversa, com subidas do emprego em todos os sectores. De destacar o avanço de 11,3% na agricultura, onde o emprego cresceu em 14.800 postos.