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Bancários manifestam-se em Lisboa e reivindicam aumentos de 6%

A concentração de sindicatos dos trabalhadores da banca afetos à UGT realiza-se em frente à sede da APB - Associação Portuguesa de Bancos. Em cima da mesa encontram-se duas contrapropostas: de 2 e 3%. “Caixa chegou-se à frente, mas achamos que consegue ir mais além”, diz ao JE o presidente do Mais Sindicato.

Os bancários marcaram uma concentração esta quinta-feira em frente à sede da Associação Portuguesa de Bancos (APB), em Lisboa, para reivindicar aumentos salariais, progressão e reconhecimento das carreiras. Os sindicatos que promoveram esta ação de manifestação apelam a subidas de 6% nos ordenados, mas em cima da mesa das negociações encontram-se contrapostas de apenas 2% e 3%.

O presidente do Mais Sindicato disse ao Jornal Económico (JE) que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi a primeira instituição a apresentar uma contraposta, de 3%, e depois a APB, em representação do Santander, o BPI e o Novobanco, de 2%.

António Fonseca referiu, todavia, que há mudanças no critério de definição dos aumentos, que costuma ter por base a taxa de inflação do ano anterior. “Este ano os bancos mudaram a bitola e dizem que estão a tentar negociar com base na perspetiva de inflação de 2024. Nunca foi assim. Estamos a perder poder de compra. Em 2023 o aumento foi de 4,5% com uma inflação de 7,8% em 2022”, explicou. Em 2o23, a taxa de inflação foi de 4,3%.

A concentração de hoje, que começa às 14h00 (hora de Lisboa), é organizada pelos sindicatos da banca afetos à UGT - Mais, SBC e SBN – e foi concertada com os homólogos de Espanha. Segundo o Mais Sindicato, a parceria ibérica justifica-se, porque o capital espanhol está muito presente na banca em Portugal e estes bancários têm o mesmo objetivo: sensibilizar os acionistas e administradores dos bancos para um “justo” aumento salarial, embora em Espanha negoceiem a quatro anos.

“São semestres e anos de lucros. Ainda na última semana vimos os lucros a duplicar e a triplicar nalguns bancos. Achámos que fazia sentido juntarmos forças e manifestarmos de uma forma simbólica no mesmo dia. É um grito de alerta. Não podem ser só números. Também existem pessoas e famílias” - António Fonseca

Porém, faltam ainda as contrapropostas de bancos como o BCP, o Montepio ou o Crédito Agrícola. “Normalmente, acabam por ficar à espera da forma como correm as negociações com a APB, que costuma ser um influenciador. Este ano, a Caixa assumiu um papel de liderança, não esperou pela APB e avançou com uma contraproposta. Acho que é de enaltecer, porque os bancos têm de funcionar de forma autónoma, mas achamos que consegue ir mais além dos 3%”, assinalou.

O dirigente sindical admite ainda ao JE que a redução de custos com os recursos humanos pode ter “algum significado” nos lucros “excecionais” dos bancos, embora - tal como consta dos relatórios financeiro e se percebe pelo contexto macroeconómico - se devam essencialmente ao aumento das taxas de juro.

"Espero que o novo Governo seja responsável e que se não esqueça dos mais frágeis"

António Fonseca diz que a saída de trabalhadores da banca continua a ser uma realidade, através de reformas antecipadas ou rescisões por mútuo acordo, embora a um ritmo menos “intenso do que no passado recente, quando chegámos ao descalabro de dois bancos – o Santander Totta e o BCP – recorrerem ao despedimento coletivo, situação de que não havia memória no sector”, lembra.

“A banca está convicta de que a utilização de canais digitais permite substituir trabalhadores. No entanto, o que se verifica é que grande parte da população não sabe ou não quer prescindir de ir ao seu balcão resolver as suas questões com um bancário, normalmente o seu gestor de conta, que conhece e em quem confia”, reitera.

Na sua perspetiva, “basta ver” as filas de pessoas aos balcões, as “reclamações pela demora no atendimento” ou os “protestos de populações e autarcas” sempre que uma instituição destas anuncia o fecho de portas ao nível local. “Se os bancários não fizessem falta e os clientes estivessem satisfeitos com os canais digitais não haveria queixas”, garante.

Sobre este tópico, o Banco de Portugal recebeu, entre janeiro e julho de 2023, 1.847 reclamações fora do seu âmbito de atuação ou sobre situações em que não existe regulamentação específica aplicável, como as queixas do atendimento, a qualidade das instalações das instituições de crédito ou temas da esfera da CMMV e ASF, de acordo com o mais recente relatório de “Evolução das reclamações dos clientes bancários”.

Questionado sobre o que espera da próxima legislatura, na sequência das eleições legislativas de março, retorquiu que a preocupação do sindicato são as possíveis medidas que o próximo Governo tome relacionadas com a legislação laboral: “Espero que o novo Governo seja responsável e que se não esqueça dos mais frágeis, que são aqueles que vivem do seu trabalho, os trabalhadores”.