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Startups encaradas como ativos pouco atrativos pelos portugueses

Apesar de as startups nacionais terem registado um aumento do valor angariado, atingindo os 886 milhões de euros no ano passado, os portugueses ainda se mostram aversos a investir em ativos de risco elevado.

Passado mais um ano do lançamento do terceiro fundo, com um valor de 40 milhões de euros, a Bynd Venture Capitals revela que já realizou 10 investimentos em startups tecnológicas ibéricas em fase pre-seed e seed. Ao jornal Económico, Tomás Penaguião, partner da Bynd, avançou que o capital de risco já tem outros dois investimentos em fase avançada.

O partner revelou ainda que “grande parte dos investimentos, neste caso seis em dez, são na área de inteligência artificial (IA), onde temos visto uma nova vaga de projetos a surgir”.

Apesar de a capital de risco se focar no investimento em startups, os dados mostram que este ativo não é um investimento muito “atrativo” para os portugueses. “Os portugueses não sabem que são atrativos, porque ainda temos uma mentalidade muito aversa ao risco e muito tradicional em alguns sentidos”, salientou Tomás Penaguião.

“Os investimentos que os portugueses acabam por fazer centram-se muito em ativos mais conservadores e tradicionais, como, por exemplo, imobiliário ou obrigações”, afirmou, avançando que isto acontece porque estes ativos têm menos risco, são mais tangíveis e mais conhecidos.

Na opinião de Tomás, os portugueses estão a “perder exposição a um setor ou a uma classe de ativos muito interessante, com rentabilidades muito interessantes”.

Os dados disponíveis mostram que as startups nacionais angariaram 886 milhões de euros no ano passado, de acordo com a base de dados TTR, um valor que representa um aumento de 55% face a 2023.

Mas como é que se faz com que mais portugueses invistam neste ativo? Tomás referiu que é preciso haver uma maturidade de mercado: “isto ainda é um mercado muito recente, e estão a surgir cada vez mais casos de sucesso, o que é importante para pôr a roda a girar”, ou seja, para que os investidores entendam que investir em startups pode dar frutos, que tenham vontade de ir trabalhar para as startups e que tenham vontade de fundar startups.

Outro fator que o partner da Bynd considera importante é o aumento da literacia financeira, que deveria estar presente na vida das crianças desde miúdos, sendo imprescindível que as escolas deem mais ferramentas às pessoas neste sentido, uma vez que “tem um impacto enorme na vida das pessoas e na forma como conseguem multiplicar as suas poupanças”.

O partner salientou ainda a necessidade de uma aproximação dos media para “gerar uma maior consciencialização sobre o ecossistema”. Já o último fator está na mão do Governo e passa pela criação de iniciativas que possam ser implementadas e que tornem o ecossistema mais atrativo.

O investimento dos portugueses neste ativo não fica muito atrás do europeu, que também ainda olha para as startups de forma desconfiada, enquanto os Estados Unidos e a China avançam nos seus investimentos neste ecossistema.

“É preciso pôr as coisas em perspetiva: enquanto o ecossistema norte-americano se tem vindo a desenvolver há 60 ou 70 anos, o europeu é recente, começou a desenvolver-se há cerca de 20/30 anos. Contudo, se olharmos para os dados da última década, o investimento em startups na Europa aumentou cerca de dez vezes. Portanto, há aqui um caminho positivo”, salientou.

O portefólio de investimentos de ativos tende a ficar pelos imóveis e por ativos financeiros mais conservadores, como, por exemplo, depósitos a prazo e obrigações, por serem ativos com menos risco. Contudo, o facto de terem menos risco “implica menos potencial de retorno”.

Do ponto de vista financeiro, Tomás referiu que o portefólio de investimento dos portugueses deve ser “diversificado, com diferentes classes de ativos que lhes permitam ter diferentes níveis de risco no portefólio”.

“Acredito que o investimento em startups e o investimento em fundos de capital de risco devem fazer parte do portefólio diversificado que uma pessoa deve construir”, salientou.

Na opinião de Tomás, as novas gerações, Millennials e Gen Z, podem combater esta falha no investimento nas startups, uma vez que “têm acesso a mais informação”.

“Acho que o setor se vai tornar cada vez mais sexy e mais atrativo. Vai existir cada vez mais pessoas que montam a sua própria empresa e vamos ouvir cada vez mais casos de sucesso”, sublinhou. “Cada vez haverá mais interesse por este ecossistema e, por consequência, mais investimento”.

Mas por que é que este ativo tem um risco tão elevado face a outros ativos? “Porque são negócios que estão a começar do zero”, afirmou Tomás. “São negócios disruptivos, que têm um potencial enorme e que se podem tornar em empresas com um footprint global, com centenas de milhões de euros em receitas, mas muito poucas chegam a esse patamar; ou seja, existe uma taxa de falhanço muito elevada”.

É essa taxa de falhanço elevada que coloca este ativo como de alto risco. “Tem de se ter uma consciência do que é que se está a investir e quais são as probabilidades de falhar e as probabilidades de multiplicar o investimento por dez ou 100 vezes”, destacou.

Para além de ainda não conseguirem captar muitos investidores, as startups enfrentam outro desafio, nomeadamente as startups de tecnologia, que passa pela dificuldade das pessoas em entenderem a utilidade da empresa. “Existe uma complexidade inerente ao negócio”, que pode dificultar o investimento.

O investimento neste ativo é muito interessante, não só pela sua rentabilidade financeira, “que claramente é um dos pontos a favor”, mas também pela lógica de ter uma diversificação de investimentos, “não estar dependentes de um ou dois ativos financeiros”.

“Se eu tiver o meu capital investido em imobiliário, e se houver uma crise do imobiliário, vou-me sentir muito mal. Se tiver, para além de imobiliário, obrigações, ações de empresas e startups, vou estar mais protegido”, explicou Tomás.

Outro fator contributivo para o investimento neste ativo é a exposição à inovação.

“O investimento em startups e venture capital é uma oportunidade para os portugueses; há muito potencial, mas deve ser gerido com precaução. Ou seja, são ativos de alto risco, e chama-se capital de risco por algum motivo. Portanto, a alocação de portefólio a este ativo deve ser tida em conta”, referiu, salientando ainda que “não se deve investir mais de 5% ou 10% do portefólio em capital de risco”.