Skip to main content

Sons radicais

A intensidade eletrónica é poderosa e nela emerge a voz de Mimi Parker ou de Alan Sparhawk.

A intensidade eletrónica é poderosa e nela emerge a voz de Mimi Parker ou de Alan Sparhawk. É assim o início de “White Horses”, o tema que inaugura “Hey What” (CD Sub Pop 2021), o 13º álbum dos Low, e que é talvez um dos momentos musicais mais intensos deste ano. Canta-se: “Only a fool would have the faith/Though it’s impossible to say I Know”. As palavras, como o fundo musical, parecem uma canção de guerra para fazer com que o coração bata mais rápido. Não deixa de ser curiosa esta deriva que os Low foram fazendo ao longo dos anos. Surgidos em Duluth, no Minnesota, em 1993, eram um grupo que era devoto do rock mais calmo até que, talvez por inflência do grunge, decidiram juntar a angústia demolidora e ruidosa à sua música. Nesses anos as guitarras minimalistas e a bateria serena aliavam-se perfeitamente com a partilha de vida por parte dos dois membros do grupo e com a sua fé religiosa, no seio dos Mórmons. Mas a partir de 2005, com “The Great Destroyer”, os Low começaram a aventurar-se nos territórios mais pesados.
A verdadeira ruptura com o passado só surgiria em 2018 com “Double Negative”, onde as texturas eletrónicas conquistaram as canções. Este novo disco arrisca fronteiras ainda mais desafiantes, deixando zonas de conforto para trás, como se saíssem do sistema solar e entrassem num buraco negro sem regras e completamente desconhecido. Os truques de produção e pós-produção sucedem-se, trazendo os Low para um centro de experiências sonoras. Que se adoram ou se detestam. Mas até no mundo do ruído há espaços planantes, como se os Low citassem a banda sonora de Angelo Badalamenti para a série “Twin Peaks” e onde se balança entre os sonhos sentimentais e o medo misterioso. É aterrador e belo ao mesmo tempo este disco. Fruto de um tempo de incertezas e de distorções, onde o assalto à verdade foi muito sentido pelo grupo nos tempos de Trump, como se ouvia no anterior disco. Aqui pede-se colaboração e comunidade, como em “Don’t Walk Away”. Contra o individualismo reinante.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes, faça login ou subscreva o Jornal Económico