Estávamos em Julho de 1976 e a revista “Vida Mundial” escrevia: “Hora e meia por dia, o País encontra-se sem luz. Hora e meia por dia param fábricas, máquinas de escrever antigas e pesadas substituem, nos escritórios, as máquinas de escrever elétricas; nos prédios as pessoas pensam antes de entrar nos elevadores e, nos cruzamentos, voltam a aparecer os polícias de trânsito, apagadas as luzes dos semáforos. Durante hora e meia, Portugal vive sem eletricidade, para não se vir a passar um inverno de escuridão. ‘Vivemos a crise da energia’.” As fábricas, claro, também paravam. Razão: a seca, depois de dois anos também de pouca chuva. E não havia as alternativas energéticas de hoje. Já poucos se lembram disto. Mas, às vezes, é bom recordar.
Na altura, a “Vida Mundial” era dirigida pela saudosa Natália Correia, mulher muito à frente do seu tempo. Folhear estas páginas é reencontrar alguma da história de Portugal nos tempos pós-revolucionários. Incluia um perfil de Mário Soares, que daí a pouco tempo tomaria posse como primeiro-ministro. Sobre ele, a mulher, Maria Barroso, dizia: “Casei com um homem que gosta de pintura, temos na nossa casa - onde pensamos continuar a viver mesmo depois de ele tomar posse como Primeiro-Ministro - quadros de Nikias Shapinakis, Pomar e Sá Nogueira - e ler muito, sobretudo livros de história, sociologia e política”. Poderíamos confrontar isto com o que se passa hoje. Neste número da “Vida Mundial” tínhamos direito a uma entrevista ao filósofo alemão Ernst Junger, que dizia: “A Europa tem história em demasia. Tocqueville previu que a América e a Rússia seriam as potências do futuro. As realidades históricas são muito fortes. É difícil suprimir os nacionalismos.” Nada muda demasiado.