A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi contactada por bancos de investimento portugueses para aferir do seu interesse numa eventual compra da CVP - Sociedade de Gestão Hospitalar, que gere o Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa (HCVP), e que é detida em 55% pela Cruz Vermelha Portuguesa e em 45% pela Parpública, apurou o Jornal Económico. Confrontada com a informação, a Santa Casa respondeu “Não temos comentários a fazer”.
A venda da sociedade que gere o hospital através de Contrato de Cessão de Exploração de 25 anos, assinado em 1998, e que está quase a chegar ao fim, não foi no entanto confirmada nem por Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, nem pela Parpública.
Francisco George, Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, que tem 55% da sociedade do HCVP, não confirmou que estavam a contactar bancos de investimento, para assessorar a venda da sociedade que explora o Hospital da Cruz Vermelha.
Já a Parpública, acionista com 45%, disse ao Jornal Económico que “não tomou qualquer iniciativa tendo em vista a alienação, não correspondendo à verdade que esteja a selecionar advisors”.
Na mesma resposta a holding do Estado adiantou que “a Parpública, tal como o outro acionista, está fortemente empenhada na estratégia de crescimento do Hospital da Cruz Vermelha, sendo a recente aposta e investimento num novo serviço de tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares, inaugurado no passado dia 31 de maio de 2019 – o Heart Center - um novo e inequívoco sinal desse empenho”.
No entanto, fontes contactadas pelo Jornal Económico revelam que os bancos de investimento, nomeadamente o Haitong Bank, estariam a preparar propostas para apresentar aos acionistas da sociedade, e que passariam pela venda da sociedade que gere o hospital e pela assinatura de um novo Contrato de Cessão de Exploração do HCVP. O Haitong Bank não esteve disponível para comentar.
A possibilidade de venda da CVP-SGH (Sociedade de Gestão Hospital) surge na sequência dos maus resultados financeiros da instituição. A Sociedade que gere o Hospital da Cruz Vermelha teve, em 2018, prejuízos de 203 mil euros o que compara com lucros de 852 mil euros em 2017. A CPV - SGH registava no final do ano 11,013 milhões de capitais próprios.
Segundo o relatório e contas de 2018 da Parpública, a CVP - Sociedade de Gestão Hospitalar, que é detida em 45% (correspondendo a 225.000 ações) teve um custo de aquisição para a holding do Estado de 8 milhões de euros; e já foram constituidas imparidades sobre esse valor de 3,82 milhões de euros.
O relatório refere ainda no capítulo das Participações Financeiras da Parpública, que o valor da CVP - Sociedade de Gestão Hospitalar está nos 4,267 milhões de euros depois de imparidades de investimento relativas à participação na sociedade que gere o hospital, de 220 mil euros (em 2017 tinha constituído imparidades de 469 mil euros).
“A perda por imparidade na participação do HCVP decorreu da comparação do valor de avaliação com a quantia escriturada, no final de cada um dos exercícios. A participação no capital social daquela sociedade foi avaliada, com referência a 31 de dezembro de 2018 e 2017, por entidade independente”, diz o relatório.
As associadas da Parpública, onde se inclui a CVP - SGH, “foram contabilizadas pelo método da equivalência patrimonial, pelo qual o investimento é inicialmente reconhecido pelo custo e é depois ajustado em função da evolução pós-aquisição da quota-parte dos ativos líquidos das participadas detidas pelo Grupo”, lê-se no relatório. Os resultados do Grupo Parpública incluem assim “a sua quota-parte nos resultados das investidas e o outro rendimento integral do Grupo inclui a sua quota-parte no outro rendimento integral das investidas.”
O Grupo Parpública obteve no ano de 2018 um resultado líquido consolidado positivo de 70,4 milhões o que traduz uma diminuição do lucro no Grupo, face ao que havia sido alcançado em 2017 (157,4 milhões) de 123,6%.
O ativo total da CVP - SGH está avaliado no relatório e contas da Holding do Estado em 45,910 milhões de euros. Ao passo que o passivo soma em 2018 um total de 34,896 milhões. O total de rendimentos e ganhos somou 38,319 milhões em 2018, ano em que apresenta o tal prejuízo de 203 mil euros.
A CVP - SGH detida em 45% pela Parpública, surge na sequência de em 1997, face à situação financeira do HCVP, ter sido requerida a intervenção do Estado para proceder ao saneamento financeiro do hospital. A holding do Estado pagou por cada ação da sociedade 51,87 euros, um preço que agrega 46,87 euros ao valor facial de cinco euros, ou seja uma valorização em cerca de 937,40%, o que perfez um total de 11,67 milhões de euros. Um preço pago à CVP que uma auditoria do Tribunal de Contas chegou a considerar excessivo. Essa auditoria do TC(Relatório de Auditoria n.º 11/2011) referia mesmo que “os indicadores de solvabilidade e autonomia financeira mostram que a CVP-SGH apresenta um equilíbrio financeiro medíocre, em que o rácio de endividamento é cerca de 74%, em 2008, revelador, no mínimo, de algum afogo financeiro e evidente imaturidade”.