A economia britânica surpreendeu pela positiva em maio, crescendo bastante acima da expectativa e contrariando os medos de uma recessão técnica ou estagnação na primeira metade de 2024 com um avanço de 1,5% no PIB desde dezembro do ano passado. A sustentabilidade desta trajetória não está assegurada, embora deva ser suficiente para dar algum ímpeto para o segundo semestre, mas tal não alterará os planos do Banco de Inglaterra (BoE), cujo foco está exclusivamente no controlo da inflação.
O PIB britânico avançou 0,4% em cadeia em maio, superando as expectativas de 0,2% e dando continuidade a um primeiro semestre mais forte do que o esperado, sobretudo após a leitura sem crescimento em abril. Este resultado mensal segue-se a um crescimento trimestral de 0,7% no arranque do ano, também superando as projeções de 0,6%, e traduz-se num avanço homólogo de 1,4%, o mais alto desde junho do ano passado.
Perante estes dados, o departamento de análise financeira do banco ING projeta que o crescimento no segundo trimestre se mantenha em linha com o do período anterior, apontando a 0,5% ou 0,6%. De assinalar também que a economia britânica avançou 1,5% em termos acumulados desde dezembro, um resultado particularmente assinalável dada a recessão técnica como que o Reino Unido fechou o ano.
“É sempre tentador atribuir parte desta evolução à volatilidade nos números e estamos bastante reticentes em tirar conclusões baseadas em uma ou duas leituras. Mas a conclusão inevitável após cinco meses é que a economia está a portar-se muito melhor do que em 2024”, escrevem os analistas do banco neerlandês.
No detalhe, todos os sectores da economia contribuíram em maio para a subida do PIB. Os serviços expandiram 0,3%, dando o maior contributo para a leitura final, mas também a indústria e construção avançaram 0,2% e 1,9%, respetivamente, recuperando assim de descidas no mês anterior.
Apesar da incerteza criada pela transição do governo, o ING estima que o segundo semestre conte com uma contribuição positiva da primeira metade do ano na ordem dos 0,5% a 0,6%, o que deverá ser suficiente para sustentar uma performance “razoável”. Por outro lado, “80% do impacto da subida de juros nas hipotecas está ultrapassado”, projeta o banco, pelo que a tendência a partir daqui será de alívio no rendimento disponível.
BoE não se deixa influenciar
Precisamente olhando para a política monetária britânica, o impacto dos números desta quinta-feira nos juros será bastante limitado, argumentam os analistas. O foco dos decisores do BoE “está quase exclusivamente na inflação dos serviços”, que continua bastante longe do objetivo de 2%. Na leitura mais recente, de maio, o subindicador desceu de 5,9% para 5,7%, um valor que continua a preocupar e a obrigar a cuidados redobrados.
Ainda assim, a questão quanto à descida dos juros prende-se meramente com o timing dos cortes, admitiu esta quarta-feira o economista-chefe do BoE. Huw Pill defendeu que os cortes de taxas são uma questão de ‘quando’ e não de ‘se’, não avançando com qualquer estimativa ou projeção para tal.
“É difícil contestar a visão de que a inflação no Reino Unido se continua a mostrar persistente”, ressalvou o membro do BoE, lembrando que a 1 de agosto haverá mais dados relevantes para a tomada de decisão de política monetária. Ainda assim, Pill defendeu que o banco tem de “ser realista sobre quanto uma ou duas leituras podem acrescentar à nossa avaliação”.
Na mais recente reunião de política monetária, o BoE optou por manter a taxa de referência em 5,25%, apesar dos votos de dois membros (num painel de nove) a favor de um corte.
Já na semana passada, os dois membros geralmente vistos como mais hawkish no BoE haviam sinalizado que os riscos de cortar cedo demais eram ainda bastante evidentes, visão agora reforçada pelas palavras de Pill. Segundo o ING, o mercado reagiu à onda de declarações, sobretudo as do economista-chefe, incorporando apenas 14 pontos base (p.b.) para as reuniões de verão do banco central e 47 p.b. até ao final do ano (ou seja, não chegando a uma segunda descida de 25 p.b. em 2024).