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Reforma laboral em stand by. “Bola está do lado do Governo”

Parceiros sociais aguardam reagendamento da concertação social. UGT quer dar luta na negociação, só “esgotada essa fase” pensará na rua. CGTP já está com um pé fora.

A discussão sobre a reforma laboral não será “eterna” e o Governo não vai desistir das “traves mestras” do seu projeto, tem avisado a ministra sempre que o tema vem à baila, mas a negociação está a marcar passo.
Pese embora tenham sido feitos alguns contactos formais e informais, patrões e sindicatos aguardam que a reunião de concertação social, que esteve marcada para o dia 13, seja remarcada, para que o processo avance.
“A bola está do lado do Governo, que é quem pode fazer a compilação de tudo o que está em cima da mesa (...) Fizemos a nossa parte, o Governo é que tem de dar o próximo passo, já tem as propostas dos parceiros”, diz ao Jornal Económico (JE) Sérgio Monte, secretário-geral adjunto da União Geral de Trabalhadores (UGT).
Para o sindicalista, um sinal “positivo” seria a ministra Palma Ramalho apresentar uma “reformulação” do anteprojeto “Trabalho XXI”, indo além das cedências “residuais” relacionadas com parentalidade (luto gestacional e amamentação) com que se comprometera na última reunião, a 10 de setembro.
“Aguardamos que da parte do Governo haja alguma recetividade às nossas propostas e uma contra-proposta”, frisa Sérgio Monte, expectante para perceber até onde vai a margem negocial do Executivo.
“O que a ministra nos disse é que a proposta era aberta, mas que o anteprojeto não podia perder a coerência. Agora, a terminologia é diferente. Só voltando a reunir poderemos eventualmente abordar essa questão. Estamos em stand by, diria”, assinala.
O sindicalista do PS não quer dar ênfase às linhas vermelhas da UGT, mas recorda que o anteprojeto do Governo, que prevê mais de cem alterações ao Código do Trabalho, tem questões “inaceitáveis”.
O regresso do banco de horas individual, que foi extinto na sequência do acordo de concertação social de 2019, é uma delas. “Já se verificou, no passado, que resultava numa situação perversa que era as empresas utilizarem-no como forma de não pagarem trabalho suplementar”, acusa Sérgio Monte.
A generalização da não reintegração dos trabalhadores após despedimentos ilegais, assim como o fim da proibição do recurso ao outsourcing após despedimentos - um mecanismo usado pelas empresas “para despedir trabalhadores mais antigos e contratar outros mais baratos” - são outros pontos críticos para a UGT.
A “apreensão” estende-se a outras matérias (como nas alterações nos contratos a prazo, por exemplo) mas o sindicato quer ainda dar uma hipótese à negociação, antes de partir para “o último recurso”, uma greve geral, da qual a CGTP está cada vez mais perto. Ainda esta semana, o seu líder, Tiago Oliveira, reforçou que esse será o desfecho se o Governo mantiver em cima da mesa o pacote laboral.
“Para a UGT”, frisa Sérgio Monte, “a fase negocial também é uma luta, e não é das mais fáceis, é a luta das propostas, das contra-propostas, de analisar, discutir, propor”. E só esgotada essa etapa, “podemos partir para outro tipo de ações. Não excluímos nenhuma hipótese”, avisa. “Esperamos que o Governo dê sinais de que, de facto, se vai iniciar um período negocial”, remata.
O pacote laboral “Trabalho XXI” foi aprovado em Conselho de Ministros a 24 de julho, prevê uma “profunda” revisão do Código do Trabalho, com mais de cem alterações.
As principais alterações do Governo à lei laboral são a extensão da duração dos contratos a prazo (que agravará a precariedade, têm alertado os socialistas), o regresso do banco de horas individual, o fim do travão à contratação externa após despedimentos, a revisão das licenças parentais e o reforço dos serviços mínimos obrigatórios em caso de greve.
Numa entrevista recente ao Negócios, Palma Ramalho introduziu uma novidade na discussão, a possibilidade de se reintroduzir no privado a jornada contínua de trabalho (encurtando o descanso e permitindo ao trabalhador sair mais cedo). Admitindo “pequenos ajustamentos” ao projeto inicial, a ministra do Trabalho avisou também que não vai “comprar o consenso e o acordo à custa dos pilares estratégicos” do pacote laboral.

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