Como ex-ministro das Finanças como é que avalia a nomeação de Mário Centeno para o BdP?
Hoje a necessidade de coordenação com o Governo é mínima. O BdP tem uma função importante no quadro do sistema europeu, com regras articulado com o BCE. Não vejo hoje grandes conexões entre a atividade governativa e a atividade dos governos como existiram anteriormente. Recordo a resposta do antigo ministro Joaquim Pina Moura: a minha ética republicana é a lei. (...) Esse potencial conflito de interesses entre o Governo e Mário Centeno governador, sinceramente não os vejo. A menos que a lei o proibisse - a lei não o proíbe e quiseram fazer uma lei à medida que só desprestigia a Assembleia da República de fazer uma lei mal pensada e à pressa. Acredito que Mário Centeno é um homem integro, que raciocina pela sua cabeça, não está sujeito a aparelhos partidários e aí vê-se muita da autonomia. É um professor universitário, tem curriculum, porque não pode ser governador do BdP? Não vejo conflitos de interesses significativos, mas sim lutas políticas. Mário Centeno virá a ser avaliado na medida em que o seu governo do Banco de Portugal possa responder nos próximos tempos aos desafios principais seguintes: 1) propor uma “Governance” moderna liberta de escolhas por pressão política na formação dos órgãos estatuários: 2) melhorar a qualidade do sistema supervisão bancaria, com menos burocracia paralisante da iniciativa inerente a atividade bancaria e aumentado a transparência das decisões, por exemplo no campo da análise da idoneidade dos membros dos órgãos sociais, acabar com o subjetivismo e com os “vetos de gaveta”; 3) contribuir para a eliminação de sobrecusto indevidos que afetam a recuperação de uma normal rentabilidade essencial para a saúde do sistema. Exemplos: custos burocráticos excessivos por excessiva regulamentação; financiamento do fundo de resolução obrigado a endividar-se logo à nascença sem parece-lo no quadro europeu; eliminação de impostos e taxas extraordinárias exorbitantes,etc; 4) participar activamente no SEBC no sentido de contribuir para a finalização da União Bancária e lutar para um tratamento específico para o Fundo de Resolução português que serviu de cobaia em situação inédita no quadro europeu; 5) Orientar o plano de actividade do Gabinete de Estudos não só para a área da macroeconomia mas também da microeconomia e para as Politicas para a melhoria da produtividade e competitividade da economia portuguesa; 6) Fazer pedagogia de defesa do sistema bancário e do seu papel junto dos agentes políticos, económicos e sociais, contribuindo para a recuperação da sua reputação afectada por certas demagogias.