Os empregadores portugueses estão otimistas. Nem a subida da taxa de inflação em agosto, nem o abrandamento no crescimento homólogo do PIB no segundo trimestre ou o possível novo aumento nas taxas de juro do Banco Central Europeu travam as intenções de continuar a contratar até final do ano. A necessidade de assegurar talento, num mercado marcado pela escassez é um imperativo para quase metade das empresas inquiridas no âmbito do ManpowerGroup Employment Outlook Survey.
O estudo a que o Jornal Económico teve acesso em primeira mão e cujas conclusões são divulgadas esta terça-feira, 12 de setembro, revelam que 46% das empresas têm intenção de aumentar as equipas no quarto trimestre de 2023, contra apenas 11% que prevê reduzir. Já uns 41% planeia manter o número atual de colaboradores.
O survey aponta uma Projeção para a Criação Líquida de Emprego de +35% para o quarto trimestre, um valor já ajustado sazonalmente e que traduz uma subida de 8 pontos percentuais face ao terceiro trimestre de 2023 e face ao período homólogo de 2022.
Segundo o ManpowerGroup Employment Outlook Survey, este desempenho coloca Portugal cinco pontos percentuais acima da média global e 10 pontos percentuais acima da região EMEA (Europa, Médio Oriente e África), o que lhe confere o segundo lugar em termos de perspetivas de criação de emprego na região, num mano a mano com os Países Baixos e a África do Sul. Melhor mesmo só a Suíça, que projeta 38%. A nível global, Portugal surge como o quarto país com o maior crescimento nas intenções de contratação, face à projeção do trimestre anterior.
Sectores e regiões
Transportes, Logística e Automóvel é o sector mais dinâmico nas intenções de contratação, com uma Projeção para a Criação Líquida de Emprego de +49%. Uma vez que as entrevistas aos empregadores foram feitas em julho, o estudo alerta para o facto deste valor (49%) não traduzir ainda o impacto que as semanas de interrupção na fábrica da Autoeuropa, em Palmela, poderão trazer à criação de emprego no sector.
As Tecnologias da Informação apresentam uma Projeção de +47%, destacando-se no segundo lugar, como se pode ver na figura. A contraciclo está o sector dos Bens e Serviços de Consumo que, apesar de apresentar uma projeção de +26%, decresce ligeiramente face ao terceiro trimestre de 2023 e ao quarto trimestre de 2022.
De acordo com o ManpowerGroup Employment Outlook Survey, as previsões de contratação dos empregadores para o último trimestre do ano sentem-se em todo o país, de norte a sul, com apenas uma região, o Centro, a evoluir negativamente face aos meses de julho a setembro de 2023. Ainda assim, na comparação com o período homólogo de 2022, todas as regiões apresentam uma evolução positiva.
A Região do Grande Porto lidera com a Projeção para a Criação Líquida de Emprego a fixar-se nos +39%, o que representa um crescimento de 9 p.p. face ao trimestre anterior e uma estabilização, relativamente ao período homólogo de 2022. Seguem-se a Região Sul e a Grande Lisboa, com Projeções de +37% e +36%, respetivamente. No que diz respeito à primeira, a previsão traduz um crescimento de 9 p.p., face ao mesmo período do ano passado. Já na Grande Lisboa, o valor avançado pelos empregadores revela igualmente otimismo, tanto em relação ao trimestre passado como ao período homólogo de 2022, com uma subida de 7 e 10 pontos percentuais, respetivamente.
A Região Norte é a quarta com a Projeção mais robusta: +33%, sendo a que tem a evolução mais considerável: 17 pp face ao trimestre anterior e ao homólogo de 2022. Por último, a Região Centro. A Projeção é +17%. O número traduz, no entanto, uma descida de 15 pp. face ao terceiro trimestre e uma estabilização homóloga.
Todas as quatro categorias de dimensão de empresa analisadas revelam previsões de contratação positivas para o último trimestre de 2023. "Todas evoluem positivamente em relação ao período homólogo do ano passado", destaca o survey e apenas as Médias Empresas registam uma evolução negativa face ao terceiro trimestre. Assim, as Pequenas e as Grandes Empresas apresentam ambas uma Projeção para a Criação Líquida de Emprego de +38%. Seguem-se as Microempresas, com o valor de +36% e, por último, as empresas de Média Dimensão, com uma Projeção para o quarto trimestre do ano de +32%.
“Os dados do ManpowerGroup Employment Outlook Survey, relativos ao 4º trimestre, revelam a vontade dos empregadores portugueses continuarem a contratar e a criar emprego, apesar de um contexto de elevada incerteza e sinais de algum desgaste no desempenho da economia portuguesa”, explica Rui Teixeira, Country Manager do ManpowerGroup Portugal. “Apesar desses sinais alerta, os empregadores têm, igualmente, muito presente os desafios existentes hoje ao nível da atração de talento, e que resultam do desencontro entre as competências que as empresas necessitam para se desenvolver e transformar e as competências disponíveis do mercado. E isso é algo que, apesar da incerteza, continua a sustentar os esforços de criação de emprego”.
"Perspetivas de contratação positivas"
O estudo trimestral do ManpowerGroup entrevistou mais de 38 mil empregadores, em 41 países e territórios. A Projeção para a Criação Líquida de Emprego a nível global é de +30%, registando um crescimento de 2 p.p. quando comparado ao trimestre passado. A Projeção reflete ainda uma estabilização face ao mesmo período do ano passado, subindo apenas 1 p.p.
"Todos os países e territórios inquiridos apresentam perspetivas de contratação positivas, com 13 países a revelarem um abrandamento face ao trimestre anterior e 18 face ao mesmo período do ano passado", refere o estudo. A Costa Rica avança com a Projeção mais otimista: +41%, seguida do Brasil e da Suíça, ambos nos +38%. Ao invés, Argentina, República Checa e Japão apresentam a Projeção mais moderada: +11%.
Na Região EMEA, onde se situa Portugal, a Projeção para a Criação Líquida de Emprego é de +25%, situando-se apenas 3 pontos percentuais acima da registada no último trimestre.