A Autoeuropa iniciou esta segunda-feira uma paragem de dois meses devido à falta de uma peça de um fornecedor da Eslovénia e já sinalizou que quer preparar com os trabalhadores um plano de recuperação da produção perdida com o período de lay-off. Mas os trabalhadores dizem que não subscrevem qualquer tipo de plano até o assunto ser debatido com a Comissão de Trabalhadores (CT). Em cima da mesa está a realização de turnos suplementares à noite ao fim de semana numa altura em que o primeiro-ministro antecipou já que a suspensão da atividade na fábrica da Autoeuropa terá um impacto negativo no produto e nas exportações nacionais, salientando tanto os sucessivos choques económicos no mundo, como a crescente interdependência.
“A direção e a comissão de trabalhadores irão trabalhar num plano de recuperação do volume de produção perdido com o período de lay-off através da realização de trabalho suplementar nos turnos da noite de sábado e/ ou domingo”, avança a empresa numa comunicação interna, a que o JE teve acesso, enviada aos trabalhadores no final da semana passada para esclarecimento sobre as condições acordadas para o período de lay-off.
Questionado sobre este plano de recuperação da produção, o coordenador da CT da Autoeuropa, Rogério Nogueira, em declarações ao JE, é perentório: “não subscrevemos este plano até este assunto ser discutido com os trabalhadores. Quando a tempestade passar, vamos voltar, estabilizar, e depois logo se verá o que a empresa tem a discutir”.
Este responsável considera, porém, que “é normal que a empresa pense em recuperar a produção de alguns carros”.
"Faz parte do processo”, diz Rogério Nogueira, acrescentando que a administração da Autoeuropa “antecipou-se na comunicação deste plano, pois qualquer coisa a ser feita terá de consultar a comissão de trabalhadores, cuja maioria dos membros está em lay-off e vão, por isso, ter de esperar quando a produção regressar em pleno e estabilizar”. Quanto à proposta de trabalho suplementar nos fins de semana, o coordenador da CT diz apenas que “o trabalho extraordinário é facultativo”.
Atualmente, os colaboradores a laborar no turno da noite não trabalham ao fim de semana, pelo que uma alteração ao modelo atual vai permitir à fábrica recuperar alguma da produção que será perdida enquanto durar a paragem forçada.
Costa antecipa impacto negativo no PIB e exportações
António Costa já deixou, por seu turno, o aviso: “dois meses de interrupção de laboração na Autoeuropa terão um peso enorme no crescimento do nosso produto [interno bruto, PIB] e nas nossas exportações".
No final de um almoço com empresários nacionais investidores no Chile, o primeiro-ministro reconheceu este domingo, 10 de setembro, que a situação, apesar de nascida de "fatores absolutamente externos", vai afetar a economia nacional e nota que o inverso também podia ter acontecido: uma cheia em Portugal podia ter "paralisado fábricas em outros países".
"Estamos a assistir a choques sucessivos e o mundo tem aguentado bastante melhor do que aguentou no passado. Nas economias europeias, só agora algumas começaram a entrar em situação de estagnação ou até de recessão. Portugal, felizmente, não está ainda em nenhuma dessas situações - e esperemos não vir a estar", defendeu. Costa observou, no entanto, que as economias estão "muito interligadas" e deu então como exemplo o facto de uma cheia na Eslovénia ter privado a Autoeuropa de peças fundamentais para a sua laboração.
O volume de vendas da Autoeuropa no ano passado foi superior a 3,6 mil milhões de euros, representando 1,5% da riqueza produzida pela economia nacional. Tem, ainda, um peso muito significativo nas exportações. No ano passado saíram da fábrica de Palmela 4% do total das exportações, ocupando o segundo lugar na lista das empresas que mais exportam em Portugal - só é superada pela Galp. A unidade vendeu, no ano passado, 231 mil veículos.
Governo garante estar a “fazer tudo” fazer tudo" para minimizar o tempo de paragem
Há várias empresas que dependem, direta ou indiretamente, da unidade da Volkswagen. O ministro da Economia assegurou na semana passada que o Governo está a "fazer tudo" para minimizar o tempo de paragem da fábrica de automóveis em Palmela. António Costa Silva adiantou ainda que vai reunir nos próximos dias com as associações da indústria de componentes e com a administração da Autoeuropa, tendo dado conta de que foram já mapeadas 30 empresas satélites. Contudo, dessas, 18 dependem da fábrica de automóveis em menos de 25%.
"Vamos dividir em dois grupos e vamos trabalhar com cada um dos setores para também minimizar os impactos nas empresas que mais dependem da Autoeuropa. É todo esse trabalho que estamos a fazer", adiantou.
Recorde-se que a Autoeuropa iniciou ontem uma paragem de produção de nove semanas, de 11 de setembro a 12 de novembro, devido às dificuldades de um fornecedor da Eslovénia, que foi severamente afetado pelas cheias que ocorreram no início do mês de agosto naquele país.
A administração da fábrica de automóveis do grupo Volkswagen, em Palmela, no distrito de Setúbal, tal como outras empresas do parque industrial, decidiu recorrer ao `lay-off´, tendo a Autoeuropa chegado, entretanto, a acordo com os trabalhadores ao garantir o pagamento de 95% dos salários durante a paragem de produção. Mas no parque industrial há empresas que vão aplicar cortes salariais de 5%, 10% e 33%. Entre as 19 empresas do parque industrial da Autoeuropa, de acordo com a coordenadora das Comissões de Trabalhadores (CT), só a Faurecia deverá manter o pagamento de salários na totalidade, uma vez que a empresa é fornecedora de outras marcas de automóveis e não apenas da Volkswagen.
Paragem de produção já provocou centenas de despedimentos
Segundo o coordenador das CT do parque industrial, Daniel Bernardino, as empresas do parque já confirmaram o despedimento de 191 trabalhadores precários, que se juntam aos 100 trabalhadores que a Autoeuropa também dispensou, embora estes últimos com a garantia de regressarem logo que seja retomada a produção. Contas feitas, a paragem de produção na fábrica da Volkswagen em Palmela já levou ao despedimento de 291 trabalhadores, mas o sindicato SITE-Sul diz que já são 560 despedimentos.
De acordo com os dados disponíveis na Coordenadora das CT, além dos 100 trabalhadores precários dispensados pela Autoeuropa, também há despedimento de trabalhadores temporários ou contratados a termo nas empresas Benteler (40), Faurecia (3), KWD (28), Palmetal (20), SAS (40), Simoldes (20) e VANPRO (40), o que perfaz, assim, um total de 291 despedimentos.
A coordenadora das CT do parque industrial admite também que o número de despedimentos de trabalhadores precários poderá aumentar de forma significativa uma vez que ainda não há dados disponíveis por parte de empresas como a Rangel, Isporeco, Nova Coat e Schnellecke, bem como de outras de menor dimensão.