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Positivismo psicadélico e aberto ao mundo

Exposição : As obras de Okuna San Miguel celebram a vida, a diversidade e a coabitação harmoniosa entre humanos, mas também animais e todos os seres que brotam da sua imaginação. Para ver na Underdogs, em Lisboa.

Quem conhece o trabalho do artista espanhol Óscar San Miguel Erice, conhecido como Okuda San Miguel ou simplesmente Okuda, sabe que um encontro com as suas obras é mergulhar nos universos vibrantes que saem da sua frenética imaginação. Okuda regressa à Underdogs, em Lisboa, com uma exposição individual, intitulada “Interdimensional Landscape”.
E foi pelas paisagens mentais, pelas memórias da infância que começou a conversa deste artista urbano, escultor e designer nascido em Santander, Espanha, com o JE. Diz-nos que os pais tinham um pequeno restaurante de bairro, que lhes roubava grande parte do tempo, e que isso o deixou livre para crescer entre jogos de futebol e corridas de patins na rua. Acredita que foi essa vivência que fez dele uma pessoa “muito sociável”. Isso e o convívio com “as prostitutas e os estudantes universitários”, explica, para sublinhar outro traço de carácter: a sua paixão por pessoas, pela diversidade, por tudo o que o rodeia e lhe serve de inspiração.
Das viagens ao cinema, passando pelas peças de teatro de amigos seus, tudo pode alimentar o seu processo criativo, que tem como combustível o multiculturalismo, a identidade, o sentido da vida e da liberdade.
Sem abdicar das contradições inerentes ao ser humano, Okuna abre-se a experimentações com os materiais que lhe despertam a curiosidade e que se tornam ferramentas para novas criações. Como a Inteligência Artificial (IA), que tem vindo a explorar e que usou em algumas das obras criadas expressamente para esta exposição. “O que eu faço é treinar, programar, a IA para ser como eu. Introduzo as palavras chave para ela criar para mim e, depois, distancio-me e é o artista que faz tudo”. Por outras palavras, “a IA nunca nunca será a minha pessoa, mas é uma ferramenta muito divertida”. Ou seja, não recusa as novas tecnologias, antes as incorpora nas suas obras para aprofundar caminhos que lhe interessam, como a inspiração que a música, em particular o techno, lhe suscita. “Até porque a vivo e faz parte de mim”, acrescenta Okuda.
As resinas e as impressões 3D são outro must explore para o artista, que não renega o academismo (formou-se em Belas-Artes), antes o torna poroso a um certo surrealismo pop, que a sua veia de grafitter exponenciou. Nos dias que correm, porém, considera que o seu trabalho está mais próximo da arquitetura do que da pintura. Uma aproximação que diz ter iniciado quando começou a fazer escultura. “Foi aí que me apercebi que o volume é mais orgânico. E embora tudo venha da pintura, a geometria é mais arquitetónica e escultural”, salienta apontando para os corpos e rostos com padrões geométricos multicoloridos nas várias telas.
A sua grande ambição, admite ao JE, é que as suas obras celebrem a diversidade de etnias, géneros, identidades e crenças, e a possibilidade de coabitação num ecossistema harmonioso. As tais paisagens interdimensionais a que o título da exposição na Underdogs alude, onde os seus “habitantes” irradiam positividade e aceitação, e a fluidez entre realidade, imaginação, espiritualidade e digitalidade se encontram na “nossa casa comum”, diz Okuda, rasgando um sorriso. “Gosto deste novo mundo entre o figurativo e o abstrato, entre o mundo físico e o mundo virtual, o mundo espiritual e a realidade. Como a minha geração também está a viver esta mudança, sinto-me responsável por reflecti-la na minha arte”, diz ao JE. A exposição apresenta 17 obras inéditas, entre pinturas e esculturas, todas produzidas exclusivamente para esta mostra.

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