O consórcio português do sector dos videojogos prepara a presença na Gamescom, a maior feira do sector que decorre entre 21 e 25 de agosto em Colónia, na Alemanha.
"O eGames Lab procurará atrair investidores estratégicos com um forte interesse na indústria dos videojogos. procuramos tanto investidores de capital de risco, que procurem apoiar projetos inovadores com elevado potencial de crescimento, como investidores institucionais e corporativos interessados em expandir o seu portefólio na área dos videojogos", explica Cláudio Telo Pestana, project manager deste consórcio, ao JE. Além disso, este responsável garante que o consórcio está focado em captar a atenção de parceiros internacionais, incluindo os principais publishers de videojogos, que possam contribuir com conhecimentos, tecnologias ou acesso a novos mercados.
O que está na génese deste consórcio eGames Lab? Com que objetivo foi criado?
A génese do eGames Lab está alicerçada na visão de fortalecer e diversificar o tecido empresarial português, inserindo-o num dos sectores com maior crescimento e rentabilidade a nível global. A indústria dos videojogos. O sector, que em 2023 alcançou um valor estimado de 200 mil milhões de dólares em receitas globais, destaca-se como uma das indústrias mais lucrativas e dinâmicas do mundo e este facto tem sido descurado pelo tecido empresarial português. Os próprios empresários do sector, não raras vezes, e não obstante o árduo trabalho que têm feito, são tidos como parentes pobres da economia portuguesa. O eGames Lab nasce também para afirmar Portugal como um elemento ativo também no panorama internacional.
O eGames Lab tem o objetivo de catalisar a inovação, impulsionar a investigação e fomentar o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções criativas, que possam traduzir-se em produtos e serviços competitivos no mercado global. Ao unir esforços entre universidades, empresas tecnológicas, criadores de conteúdo e outros parceiros estratégicos, o consórcio pretende não apenas estimular a criação de novas empresas e oportunidades de negócio, mas também robustecer as empresas existentes, proporcionando-lhes acesso a um mercado em rápida expansão.
Além disto, ao munir o tecido empresarial português com novas competências e tecnologias, o eGames Lab visa assegurar que Portugal não só participe, mas também se destaque num sector que, além do elevado potencial de lucro, apresenta uma enorme capacidade de resiliência e adaptação às transformações digitais e tecnológicas do futuro. Este enfoque na diversidade e robustez empresarial é fulcral para o fortalecimento económico do país, particularmente numa economia global em constante evolução, na qual o país precisa de se afirmar rapidamente.
O que tem Portugal para oferecer de mais-valia à competitiva indústria de videojogos?
Portugal tem várias mais-valias a oferecer à competitiva indústria de videojogos, que o posicionam como um ator relevante e promissor do sector em causa.
Portugal possui um crescente mercado de talentos nas áreas de desenvolvimento de software, design gráfico, animação e engenharia informática, entre muitos outros, formados em universidades e institutos politécnicos reconhecidos pela sua qualidade. Alguns portugueses, outros estrangeiros. Este capital humano, o qual se poderá afirmar ser altamente qualificado e com uma forte capacidade de adaptação, é um dos maiores trunfos do país na indústria dos videojogos. Lamentavelmente, muitos destes ativos, encontram porto seguro fora do seu país devido à falta de oportunidades que o país oferece. Ao invés de encontrar solução na emigração, o país tem condições de reter os seus talentos.
Comparado com outros países europeus, Portugal oferece um ambiente empresarial com custos operacionais relativamente baixos. Entre estes podemos considerar os salários (apesar de ser também um obstáculo à contratação e retenção de talentos no país), alugueres e outros custos de infraestruturas. Esta competitividade de custos torna o país atraente para empresas internacionais que procuram qualidade a preços mais acessíveis.
Portugal tem uma herança cultural riquíssima e um ambiente absolutamente vibrante que inspira a criatividade dos agentes em causa. A diversidade cultural e a capacidade de absorver influências das mais várias partes do mundo resultam numa abordagem única ao design de jogos e na criação de conteúdos que ressoam a nível global.
No que diz respeito aos incentivos governamentais, o governo português tem vindo a desenvolver políticas de apoio ao sector tecnológico, incluindo a indústria dos videojogos, através de alguns incentivos fiscais, subsídios à inovação, e programas de financiamento para startups e projetos de I&D. Há ainda o Portugal 2030, entre outros programas abertos. Estes incentivos tornam Portugal um destino atrativo para novos investimentos no sector.
A infraestrutura tecnológica porque Portugal dispõe de uma infraestrutura tecnológica de qualidade, com uma das melhores redes de fibra ótica da Europa e uma crescente rede de incubadoras e parques tecnológicos dedicados ao desenvolvimento digital. Esta infraestrutura tem vindo a se robustecer ao longo dos anos e facilitado a implementação e crescimento de projetos tecnológicos, incluindo o próprio sector dos videojogos.
A conexão com o mercado global já que a própria posição geográfica de Portugal, aliada ao seu historial como ponto de conexão entre a Europa, África, e as Américas, proporciona às empresas portuguesas de videojogos um acesso facilitado a diversos mercados internacionais, potenciando a internacionalização de produtos e serviços. Desde logo estamos dentro da Europa com facilidade de ligação às Américas quer seja pela proximidade geográfica de Madeira e Açores, quer seja pelos excelentes laços de amizade e fraternidade com este continente. Por outro lado, os laços históricos que nos ligam à Ásia e África que ainda hoje servem como cordão umbilical que nos conecta ao Oriente e a diversos países africanos de língua oficial portuguesa. Portugal é um centro de ligações internacionais que nunca foi abandonado e nunca deixou de manter laços históricos com o mundo. Os empresários que cedo compreendem esta possibilidade de conexão com o mercado global, vingam e estabelecem-se.
Estas mais-valias fazem de Portugal um ambiente propício para a criação e desenvolvimento de videojogos, oferecendo uma combinação atrativa e harmoniosa de talento, competitividade, criatividade, e suporte governamental que são essenciais para prosperar nesta indústria global altamente competitiva.
Que expectativas tem o consórcio para a maior feira de videojogos do mundo que irá decorrer na Alemanha?
O eGames Lab tem grandes expectativas para a sua participação na maior feira de videojogos do mundo, que se realizará em Colónia, na Alemanha. Este evento é tido como sendo uma oportunidade única para as empresas do consórcio, tanto em termos de demonstração de resultados tendo em consideração a visibilidade internacional como de estabelecimento de parcerias estratégicas que desta demonstração possam resultar. A feira oferece uma plataforma global para divulgar os projetos que têm sido desenvolvidos pelo eGames Lab e pelas empresas portuguesas associadas, permitindo aumentar a visibilidade do talento e da inovação portuguesa no sector dos videojogos. Além disso, o consórcio almeja atrair possíveis parceiros e investidores internacionais e formar alianças estratégicas com outros agentes da indústria, o que poderá impulsionar significativamente os seus projetos e expandir o seu alcance no mercado global.
Outro aspeto relevante é a oportunidade de explorar as mais recentes tendências e inovações tecnológicas na indústria dos videojogos. Esta imersão num ambiente internacional permitirá ao consórcio identificar novas oportunidades de colaboração e orientar os seus projetos futuros em consonância com as tendências emergentes do sector. A participação na feira reforçará ainda a imagem de Portugal como um polo emergente na indústria dos videojogos, contribuindo para consolidar a reputação do país como um local de inovação, talento e qualidade, capaz de competir à escala global. A este propósito é importante salientar que o eGames Lab estabeleceu uma parceria com a APVP (Associação de Produtores de Videojogos Portugueses) para juntos impulsionarem o primeiro pavilhão português naquela que é a maior feira B2C (Business to Consumer) do mundo, a Gamescom. Este primeiro Pavilhão, esta primeira exposição, dá pelo nome de Portugal Games.
Além de tudo o que já mencionei, o consórcio pretende aproveitar a feira para recolher feedback direto de consumidores e especialistas da indústria sobre os produtos e serviços que está a desenvolver. Este retorno reveste-se de uma importância fundamental para ajustar e melhorar os projetos, garantindo que estão alinhados com as expectativas e necessidades do mercado internacional. Em suma, o eGames Lab vê esta feira como uma oportunidade estratégica para impulsionar os seus projetos, expandir a sua rede de contactos e contribuir para afirmar a posição de Portugal na indústria global dos videojogos, como já o temos vindo a fazer noutras grandes feiras.
Que tipo de investidores esperam atrair para este consórcio? Que valores esperam angariar?
O eGames Lab procurará atrair investidores estratégicos com um forte interesse na indústria dos videojogos. procuramos tanto investidores de capital de risco, que procurem apoiar projetos inovadores com elevado potencial de crescimento, como investidores institucionais e corporativos interessados em expandir o seu portefólio na área dos videojogos. Além disso, o consórcio está focado em captar a atenção de parceiros internacionais, incluindo os principais publishers de videojogos, que possam contribuir com conhecimentos, tecnologias ou acesso a novos mercados.
Um exemplo de grande sucesso desta estratégia ocorreu na última participação do consórcio na Game Developers Conference (GDC) em São Francisco, onde a One Way Eleven — uma união das empresas WOWSystems e Fapptory, ambas parte do consórcio — conseguiu atrair grande interesse dos principais publishers internacionais, tendo um dos seus produtos sido selecionado para o GDC Pitch 2024 ente centenas de candidaturas. Este caso demonstra o potencial do consórcio em atrair grandes players da indústria e estabelecer parcerias estratégicas que podem alavancar os seus projetos a nível global.
É importante sublinhar que o eGames Lab não está focado em angariar valores diretos, uma vez que o objetivo principal não é a venda imediata de produtos. Embora o objetivo final seja, naturalmente, a venda dos jogos ao consumidor final, muitos destes jogos desenvolvidos pelo consórcio já estão disponíveis em plataformas de streaming. Assim, o foco na feira está em promover a demonstração dos resultados, assegurar investimentos que possam apoiar o desenvolvimento contínuo dos projetos e ampliar a rede de contactos e parcerias, garantindo o maior impacto possível no mercado nacional e internacional.
Que jogos com o selo “made in Portugal” começam a tornar-se conhecidas neste meio? Que mercados esperam impactar?
Nos últimos anos, vários jogos e produtos tecnológicos com o selo "made in Portugal" têm começado a destacar-se na indústria global dos videojogos. Os estúdios responsáveis têm demonstrando a criatividade e inovação do tecido português. Entre os títulos mais promissores e ferramentas inovadoras do eGames Lab, estão:
“Hanno” - Desenvolvido pela One Way Eleven, uma colaboração entre estúdios madeirenses WOWSystems e FAPPtory, é um jogo que já começou a ganhar atenção internacional, especialmente depois de ter sido finalista do GDC Pitch em março e ter contrato firmado com um grande publisher durante o evento em São Francisco. O jogo é conhecido pela sua narrativa envolvente e design visual único, posicionando-se como uma forte oferta no mercado global.
“KEO” e “Hovershock” - Ambos desenvolvidos pelo estúdio açoriano REDCATPIG é um jogo de combate veicular futurista que combina ação intensa com táticas estratégicas, enquanto Hovershock oferece uma experiência emocionante de corrida e combate em ambientes futuristas. Estes jogos estão progressivamente a ganhar tração no mercado, especialmente nos mercados europeus e norte-americanos, onde a procura por experiências multijogador competitivas é muito alta.
“Linea” - Criado pela Infinity Games, sediada em Lisboa, é um jogo de puzzles minimalista que já conquistou uma base de fãs bastante significativa devido ao seu design simples e jogabilidade relaxante. O jogo tem tido sucesso particular nos mercados europeus e asiáticos, onde os jogos de puzzles acessíveis e visualmente apelativos são muito populares. A própria Infinity Games tem uma novidade a ser lançada muito em breve.
“Waste Rush” - Desenvolvido pela Walkme Mobile no âmbito da Agenda Mobilizadora, é um jogo mobile, totalmente gratuito, de estratégia que desafia os jogadores a gerir a logística de resíduos numa cidade futurista, promovendo a sustentabilidade através da jogabilidade. Este título tem sido bem recebido, destacando-se pela sua combinação de entretenimento e mensagem ambiental, e espera-se que impacte principalmente o mercado europeu, onde há uma crescente sensibilidade para temas ecológicos.
Além destes jogos, o eGames Lab também se destaca pelo desenvolvimento de ferramentas tecnológicas inovadoras que apoiam a indústria dos videojogos:
fourt.io - É uma plataforma projetada para otimizar a criação e gestão de conteúdos digitais, sendo especialmente útil para estúdios de videojogos. A fourt.io facilita a criação de ambientes de jogo complexos e a integração de elementos dinâmicos, aumentando a eficiência dos processos de desenvolvimento.
FootAR - Um produto inovador que utiliza tecnologia de realidade aumentada para melhorar a experiência de visualização de jogos de futebol em tempo real. Embora não seja um jogo, a FootAR demonstra o potencial de Portugal em criar soluções tecnológicas que cruzam o entretenimento com as novas tecnologias, tendo aplicações que podem ser adaptadas a várias formas de interatividade digital.
Com estes títulos e ferramentas, os estúdios e empresas tecnológicas portuguesas estão a ganhar um lugar de destaque nos mercados internacionais. Focados em mercados como a Europa, América do Norte e Ásia, os desenvolvedores portugueses estão a construir uma reputação sólida de inovação, qualidade e capacidade técnica, essenciais para competir numa indústria global cada vez mais exigente. Além destes jogos e tecnologias mencionadas, O Portugal Games terá muitos outros estúdios portugueses em destaque e exposição na Gamescom, alguns dos quais, estúdios de craveira internacional.
De que forma pode crescer este consórcio ao nível dos postos de trabalho e de valor investido?
Desde o início da Agenda Mobilizadora em 2022, o consórcio eGames Lab tem registado um crescimento assinalável, tanto ao nível dos postos de trabalho como do valor investido. Até à data, o consórcio já efetuou 120 novas contratações, refletindo a sua expansão contínua e o impacto positivo no mercado de trabalho. Destaca-se que, destas novas contratações, 79 são do género feminino, sublinhando o compromisso do eGames Lab com a promoção da diversidade e a inclusão no sector tecnológico, mas também vincando o papel das mulheres também nesta indústria.
Com um total de 195 recursos humanos envolvidos, o consórcio tem procurado demonstrar a sua capacidade de atrair e reter talentos qualificados, essenciais para o desenvolvimento dos seus projetos inovadores. Este crescimento não só reforça a posição do eGames Lab como um player relevante na indústria dos videojogos, como também evidencia o seu potencial para continuar a expandir e fazer de Portugal um país cujo tecido empresarial sai mais robusto por via da aposta no sector dos videojogos.
Além disso, o investimento total do consórcio até à data ronda os 10 milhões de euros, um valor que reflete o forte compromisso com a inovação e investigação, o desenvolvimento tecnológico e a criação de novas oportunidades no sector dos videojogos. Este nível de investimento tem sido crucial para sustentar o crescimento do consórcio e posicioná-lo como um motor de desenvolvimento económico na região e no país.
Que importância tem o PRR no sucesso deste consórcio?
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) tem desempenhado um papel fundamental no sucesso do eGames Lab, atuando como uma alavanca vital para o seu crescimento e desenvolvimento. Através do PRR, o consórcio tem tido acesso a fundos e apoios financeiros cruciais para a implementação e expansão dos seus produtos e projetos, permitindo-lhe não só acelerar a inovação tecnológica, mas também fortalecer a sua capacidade de competir num mercado global extremamente competitivo.
A importância do PRR reside na sua capacidade de fornecer os recursos necessários para que o eGames Lab possa investir em áreas estratégicas como a investigação e desenvolvimento, a internacionalização, mas também na formação de recursos humanos altamente qualificados. Este último caso tem estado estagnado, mas estamos em crer que muito em breve avançaremos com as formações. Este apoio tem sido, e continuará a ser, decisivo para o consórcio alcançar marcos importantes, como as 120 novas contratações realizadas até à data, e o investimento total de cerca de 10 milhões de euros.
Saliente-se ainda que o PRR tem permitido ao eGames Lab alinhar os seus objetivos com as prioridades nacionais e europeias em termos de digitalização e inovação, facilitando o acesso a tecnologias de ponta e a parcerias estratégicas. Este alinhamento não só visa fortalecer a posição do consórcio no sector dos videojogos, mas também contribuir para a revitalização económica do país, promovendo a criação de empregos qualificados e desenvolvimento sustentável.
Em resumo, o PRR tem sido um catalisador essencial para o crescimento e sucesso do eGames Lab, proporcionando os recursos e o suporte necessários para que o consórcio continue a inovar, a expandir-se e a consolidar a sua posição como um dos principais players na indústria dos videojogos em Portugal. No que depender do eGames Lab, Portugal não olhará para os negócios internacionais à sua escala geográfica, mas sim à escala do seu potencial histórico.