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Lisboa: Da fábrica de gás da Matinha vai nascer um projeto imobiliário de 320 milhões

Mais de 700 fogos, escritórios, hotel e um parque urbano estão previstos para a segunda fase de urbanização da Matinha, em Lisboa. Antigo terreno industrial vai ser alvo de um processo de descontaminação de solos. As duas primeiras fases preveem um investimento de 570 milhões e a construção de mais de 1.470 fogos.

A fábrica de gás da Matinha, em Cabo Ruivo, Lisboa, esteve operacional durante mais de 50 anos. Foi inaugurada em 1944 e encerrada em 1999, tendo sido demolida em 2006.

Uma pequena parte da sua estrutura ainda está de pé e já forma parte da paisagem da zona oriental de Lisboa, área que foi toda requalificada para a Expo 98, tendo sido criada uma nova Lisboa na antiga zona industrial.

A fábrica foi inicialmente detida pelas Companhias Reunidas de Gás e Electricidade (CRGE), com o seu último proprietário a ser a Lisboagás.

Agora, a urbanização desta área continua e o promotor imobiliário responsável pela Matinha elabora nova fase do projeto.

A VIC Properties prepara um investimento de 320 milhões de euros para a segunda fase de construção na Matinha, na zona oriental de Lisboa, junto ao rio Tejo.

O Estudo do Impacte Ambiental (EIA) do Loteamento B do Plano de Pormenor da Matinha (PPM) encontra-se em consulta pública até 27 de setembro.

Para o futuro, estão previstas as 3ª e 4ª fases (loteamentos C e D). A entidade licenciadora é a Câmara Municipal de Lisboa (CML).

A primeira fase (Loteamento A) recebeu uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada, em dezembro de 2019, tendo sido prorrogada até 23 de dezembro de 2027. Nesta fase, o promotor prevê a construção de 771 fogos em mais de oito hectares, com um investimento previsto de 250 milhões de euros, segundo o EIA datado de 2019.

A duração da fase de construção do projeto deverá ter a duração de seis anos, decorrendo de forma faseada, prevendo a construção de 702 fogos, com a "superfície de pavimento máxima total nos novos lotes" a ser superior a 127 mil m2, repartidos por habitação (73% do total), sector terciário (16%) e uso turístico (12%).

"O Loteamento B constitui uma das fases integrantes da operação programada de requalificação urbana, onde se pretende operar a reconversão de espaços industriais abandonados em novas áreas habitacionais, estabelecendo uma continuidade urbana entre a zona sul do Parque das Nações e a área histórica da Zona Ribeirinha de Lisboa", disse o promotor no documento.

O Parque Urbano previsto no projeto, será "perpendicular ao rio, que ocupará o espaço desde os gasómetros até à frente rio".

A estrutura urbana proposta para a área caracteriza-se por uma "orientação norte/sul, quer dos eixos viários principais, quer da implantação predominante dos edifícios nos diversos lotes, permitindo acompanhar o declive natural do terreno e valorizar as vistas para o rio".

Na área a norte, está prevista a zona poente do Parque Urbano, na qual se "inserem duas parcelas, uma destinada a uso turístico e outra destinada a um equipamento de utilização coletiva". Será aqui que serão reutilizados elementos da estrutura dos gasómetros, "como memória da ocupação industrial anterio", com duas das estruturas a serem reutilizadas para uma "atividade geradora de receitas que possa assegurar economicamente a sua manutenção".

Na zona a nascente, vão nascer seis quarteirões predominantemente residenciais com edifícios de sete pisos mais um recuado e orientação norte/sul. Nos quarteirões a nascente são propostas "áreas destinadas a atividades económicas, nomeadamente comércio e serviços, no piso térreo. Os interiores dos quarteirões deverão corresponder a espaços de uso privado e o espaço entre quarteirões, embora de acesso livre, será vocacionado para fruição dos moradores".

Na zona a poente, da Rua I até à Rua do Vale Formoso de Baixo: "corresponde a quatro parcelas com edifícios de orientação norte/sul. Estas parcelas são constituídas por um embasamento de 2 pisos destinado a atividades económicas e habitação e quatro torres de 18/22 pisos, também destinadas a habitação. No lote 24, está previsto um parque de estacionamento público. Junto à Rua do Vale Formoso de Baixo sobram duas parcelas reservadas a equipamentos de utilização coletiva, a ceder ao Município".

Na zona a sul da rua B: "corresponde a duas parcelas, a poente e a nascente. A parcela a poente, reservada para um equipamento de utilização coletiva, a parcela a nascente, junto à Rua de Cintura do Porto, reservada para um edifício com 5+1 pisos, destinado exclusivamente a atividades económicas. A parcela a poente também é cedida ao Município".

A VIC Properties mudou de mãos em março de 2023. A Aggregate vendeu a totalidade da promotora imobiliária a um grupo liderado por diversos investidores institucionais (AlbaCore Capital Group, Mudrick Capital Management, L.P. e a Owl Creek Asset Management, L.P.) e a equipa de gestão da VIC. O negócio foi avaliado em mais de 670 milhões de euros e previu um reforço de capital.

Além do projeto da Matinha, a promotora também desenvolve o Prata Riverside Village, situado também na zona oriental ribeirinha da capital. O terceiro projeto é o do Pinheirinho, localizado entre a Comporta e Melides.

"Na sua globalidade, estes projetos têm uma área bruta de construção combinada de 570.000 m2 e, após estarem totalmente licenciados e desenvolvidos, irão fornecer aproximadamente 3.000 novos apartamentos à cidade de Lisboa e variadíssimas unidades residenciais e turísticas, incluindo oferta hoteleira de altíssima qualidade, na região entre a Comporta e Melides", disse em 2023 a empresa liderada por João Cabaça.

Descontaminação

No estudo também é abordada a questão da descontaminação destes antigos solos industriais. O promotor salienta que a fase de descontaminação deverá durar cerca de 12 meses.

"A área do PPM localiza-se numa área de antigas ocupações industriais, tendo sido esta área profundamente intervencionada, não sendo, por isso, possível caracterizar os solos do ponto de vista da Pedologia. Os terrenos encontram-se severamente afetados pelos processos industriais poluentes do passado recente, sendo que, é necessário efetuar a sua descontaminação e garantir a devolução destes ao uso urbano em condições seguras para a saúde pública e o ambiente. A descontaminação deverá seguir um Plano de Descontaminação que está em elaboração. O volume total estimado de solos contaminados é de 49.581m3", pode-se ler no documento.

A empresa estima que sejam criados 400 postos de trabalho temporários durante as fases de descontaminação dos solos e de construção das infraestruturas gerais e dos edifícios. Já na fase de exploração, prevê a criação de cerca de 1.450 postos de trabalho, "orientados sobretudo para a ocupação terciária prevista no loteamento (1.400 postos de trabalho) e contemplando também os postos de trabalho associados aos serviços e à manutenção das áreas de habitação (50 postos de trabalho)".

Impactes positivos versus negativos

No seu estudo, o promotor identifica os impactes positivos e negativos deste projeto: "Muitos destes impactes positivos refletem-se em determinantes ambientais e sociais, com efeitos positivos na saúde humana. Relativamente aos solos contaminados em particular, aspeto relevante neste projeto, considera-se que as ações de descontaminação/remoção da fonte poluente, a executar numa fase anterior à operação urbanística proposta, permitirão devolver o espaço ao uso urbano em condições seguras para a saúde pública e o ambiente".

  • "Descontaminação de solos, de acordo com o que vier a ser definido no plano de descontaminação (positivo);
  • Melhoria da qualidade da massa de água subterrânea, pela retirada dos solos contaminados (positivo);
  • Aumento dos níveis sonoros em recetores sensíveis (negativo);
  • Revitalização urbana na área de intervenção e na envolvente a sul (positivo);
  • Dinamização do emprego e das atividades económicas (positivo);
  • Demolição das ocorrências patrimoniais EP4 e EP5 (negativo);
  • Demolição, desmontagem e relocalização dos gasómetros (negativo);
  • Alteração estrutural da paisagem pela presença do loteamento, à exceção das torres (positivo)".

 

 
Loteamento B da Matinha a vermelho 
 
 Extrato da Planta de Implantação do PPM
 
Esquema de zonamento do Loteamento B
 
 
Antigas fábrica de gás da Matinha e refinaria de Cabo Ruivo. Fonte: Fundação Galp Energia