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“Para serem competitivas e relevantes, as instituições têm de abraçar a disrupção”

Sector Financeiro: A nova líder da área de banca e seguros da EY, Rita Costa, considera que as instituições financeiras devem estar focadas em construir um “ecossistema melhor”, de forma a poderem crescer de forma sustentada. E, para isso, será fundamental “abraçar a disrupção”.

Quais as suas perspetivas para a área de banca e seguros na EY este ano?
Vamos continuar a assistir quer na nossa praça financeira, como no resto da Europa e dos Estados Unidos, ao aumento da regulamentação e de supervisão, como a evolução prudencial, a resolução e a recuperação, e o crime financeiro que se intensificou na sequência dos recentes acontecimentos nos mercados. Além deste panorama em mutação, as instituições financeiras vão continuar a dar prioridade ao impacto nos clientes, aos activos digitais, à digitalização dos serviços financeiros, à inteligência artificial, à resiliência operacional e ao ambiente, ao social e à governação (ESG). Um maior foco nas pessoas, processos, dados e tecnologia vai permitir que as instituições financeiras sejam bem sucedidas num ambiente regulamentar imprevisível, mas oportuno.
 
Espera-se uma descida nas taxas de juro nos próximos meses, o que terá impacto na margem financeira dos bancos. O que se espera para os próximos tempos?
A economia mundial está a recuperar de uma série de eventos de stress - a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação elevada durante décadas. No entanto as tensões geopolíticas, incluindo o conflito no Médio Oriente e os ataques no Mar Vermelho, estão a criar ruídos no mercado. As perspectivas em 2024 são mistas, com o crescimento a abrandar nos EUA, mas a aumentar na zona euro e no Reino Unido. Prevê-se que o BCE e a Fed iniciem um ciclo de flexibilização durante o último trimestre do ano, com as taxas a terminarem o ano cerca de um ponto percentual abaixo dos níveis atuais.

As seguradoras enfrentam novos riscos, por exemplo as alterações climáticas. Em que medida vão impactar o modelo de negócio dessas empresas?
As catástrofes naturais têm um efeito prejudicial na sociedade e causam perdas significativas. A maior ocorrência de fenómenos de natureza climática torna os nossos bens e atividades mais suscetíveis a riscos de cheias, incêndios, secas, calor, frio, tempestades... E isso afeta diretamente um mercado que existe para proteger as pessoas e empresas de riscos: os seguros. As seguradoras estão a desenvolver ações que visam sensibilizar a sociedade para os benefícios da prevenção de riscos i.e. na aquisição de maior cobertura nos seus seguros e informar e incentivar os consumidores a investirem em medidas de prevenção de riscos. As seguradoras enfrentam uma procura crescente de maior âmbito e pormenor nos seus relatórios de mercados relacionadas com o clima. Por conseguinte, a questão mais premente para elas nos próximos anos centrar-se-á na forma como os seus riscos e respostas estratégicas se refletem nas suas demonstrações financeiras. Aqui os riscos das alterações cilmáticas assumem uma relavante importância – pois podem afetar tanto o valor do ativo como o do passivo. O fenómeno já está a aumentar o preço de alguns seguros e a algumas seguradoras estão a implementar tecnologia para reduzir as suas exposições a esta tipologia de riscos. Por outro lado, os supervisores estão a aplicar medidas para incentivar a fixação transparente de preços baseados no risco por parte das seguradoras e estão a avançar para assegurar não só as seguradoras, mas também os bancos identifiquem as exposições ao risco das alterações climáticas, estabeleçam estratégias e ajustem os modelos de negócio para as gerir.
 
Quais serão os principais desafios da banca e seguros em 2024/2025?
Um dos maiores desafios continuaram a ser a qualidade dos dados, para que as implementações tecnológicas assumam um papel central e mais eficiente  até 2025 e passem a incluir a autenticação biométrica, a inteligência artificial e a aprendizagem automática. Estas inovações ajudarão os bancos a tornarem-se mais eficientes, ao mesmo tempo que proporcionam uma melhor experiência ao cliente.

Até 2025, a transformação digital impulsionada pela tecnologia irá hiperconectar as empresas de serviços bancários e financeiros nas áreas de front, middle e back office. A Gen AI, blockchain e as conversational analytics impulsionarão a inovação para uma melhor resiliência e capacidade de resposta. O sector bancário e segurador equilibrará o lucro com o objetivo, através de plataformas e serviços da próxima geração, para permitir que as pessoas utilizem o seu património para um impacto ambiental e social positivo.

A disrupção está a criar oportunidades e desafios para o mercado finananceiro global. Embora a agenda de proteção dos riscos e da regulamentação continue a ser uma prioridade, as instituições financeira devem também desenvolver as suas perfomances financeiras e irem de encontro às expectativas acrescidas dos clientes e dos investidores, à medida que reformulam e optimizam os modelos operacionais e de negócio para obterem retornos sustentáveis. A inovação e a transformação orientada para as empresas serão fundamentais para o crescimento futuro. Para se manterem competitivas e relevantes, todas as instituições financeiras devem abraçar a disrupção e construir estrategicamente um ecossistema melhor - e não um banco maior.