Fechada mais uma edição do Fórum realizado pelo Banco Central Europeu (BCE) em Sintra, a presidente Christine Lagarde enalteceu a importância dos tópicos debatidos, sobretudo dado o atual panorama de elevada incerteza e pressões inflacionistas ainda exacerbadas. A relação entre decisores e investigadores esteve em destaque e a presidente do BCE deixou ainda fortes elogios à organização portuguesa do evento.
“Identificamos de forma muito bonita a relação entre o mundo académico e os decisores políticos num espírito agradável, cordial e, ocasionalmente, consensual”, começou por afirmar a presidente do BCE no encerramento do evento que reuniu por três dias os banqueiros centrais ocidentais em Sintra.
Para Lagarde, os tópicos abordados no fórum não só ajudam a “analisar o passado e preparar o futuro”, como também servem de base para a continuação do debate sobre os determinantes da inflação e o caminho a percorrer pelos bancos centrais.
Além dos painéis mais diretamente relacionados com política monetária, a presidente ressalvou a importância de tópicos como o ambiente, a inteligência artificial ou as tensões geopolíticas na economia, justificando a atenção dada no evento a temas que serão “cruciais” nas próximas décadas.
Antes, o dia havia sido dominado por apresentações e debates sobre articulação dos bancos centrais e o poder da inteligência artificial como um estímulo à produtividade europeia.
Na abertura do evento, Lagarde havia procurado sublinhar que a luta contra a inflação não está ganha, alertando que falta ainda garantir a aterragem suave almejada – ou seja, o retorno da inflação ao objetivo sem uma recessão no bloco euro.
Já no painel de terça-feira à tarde, com os homólogos norte-americano e brasileiro, a líder do BCE afastou qualquer trajetória específica para os juros até ao final do ano, mostrando-se, ainda assim, razoavelmente otimista quanto à inflação para o próximo ano. Segundo as previsões da antiga chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), a zona euro deve ver um indicador de preços em torno de “dois e pouco por cento” por esta altura em 2025, em linha com as projeções do banco central.
Bancos centrais articulados
O atual ciclo de política monetária foi o mais curto desde os anos 70 e mostra a maior coordenação entre diferentes bancos centrais, um indício de que os choques globais tiveram maior impacto na definição dos juros do que a situação interna de cada economia, sugere um estudo apresentado esta quarta-feira no Fórum do Banco Central Europeu (BCE), em Sintra.
A análise, da autoria de Kristin Forbes, professora no Massachusetts Institute of Technology (MIT), foca-se nos ciclos de política monetária em 24 economias desenvolvidas, desde 1970 a maio de 2024, e conclui que “a política monetária parece estar mais sincronizada entre países” na mais recente subida de juros. Como tal, e apesar das semelhanças com outros períodos de restritividade, há alguns fatores específicos a esta escalada nas taxas diretoras.
“Nunca houve um ciclo como este, que, em muitas formas, é sem precedentes”, explicou a autora, olhando especificamente para a sua duração e coordenação entre países. Por um lado, o intervalo entre a fase de subidas dos juros e o alívio dos mesmos foi o mais curto do período estudado; por outro, os bancos centrais agiram de forma sincronizada, tomando decisões muito semelhantes em períodos próximos.
“Tal sugere que os choques globais têm uma importância cada vez maior” na definição da política monetária, continuou, uma mudança de paradigma em relação a ciclos anteriores, definidos sobretudo pela situação interna de cada economia. Segundo o estudo, os eventos de impacto global explicaram mais de 50% das mexidas nas taxas de juro, sendo a primeira vez que tal se verificou.