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Klaus Iohannis: nem toda a Cortina de Ferro continua a ser de ferro

A abertura das portas da União Europeia aos países que fizeram parte da Cortina de Ferro – que tinha por função ser a primeira fronteira e se necessário a primeira zona de defesa da antiga União Soviética – foi uma decisão que a própria União se impôs depois de ter sido um dos contribuintes líquidos para o fim do mundo comunista.

A abertura das portas da União Europeia aos países que fizeram parte da Cortina de Ferro – que tinha por função ser a primeira fronteira e se necessário a primeira zona de defesa da antiga União Soviética – foi uma decisão que a própria União se impôs depois de ter sido um dos contribuintes líquidos para o fim do mundo comunista. De algum modo, não podia ser de outra maneira: depois de décadas a acenar-lhes com os benefícios, todos eles felizes, da sociedade de consumo ocidental – a vontade de poder sujar uma camisa Yves Saint Lorent com o molho de um hambúrguer da McDonald’s teve mais impacto no fim do comunismo que o medo suscitado pelos mísseis Pershing-2 instalados no antigo território da República Federal da Alemanha – a Europa Ocidental não podia impedir a sua congénere Oriental de se sentar à mesa do banquete.
Há quem diga que foi uma precipitação: é que, atrás da rejeição do comunismo como princípio político, escondia-se uma visão redutora ou apenas simplesmente pouco esclarecida do que deve ser a democracia, e os choques entre dois mundos separados por décadas de um passado civilizacional divergente fizeram sentir-se em pouco tempo. E ainda hoje se sentem: não é por acaso que Bruxelas, apesar de todos os esforços despendidos, não consegue silenciar as tentações autocráticas sobejamente reconhecidas nas sociedades húngara, polaca, búlgara ou eslovena, entre outras. Por estes dias (este verão), e mais uma vez, Bruxelas voltou a lançar processos de infração à Hungria e à Polónia para “proteger os direitos fundamentais” europeus, após os dois países terem introduzido medidas legislativas que põem em causa direitos de género. Estes processos, que já não se contam apenas com o recurso a uma das mãos – mas principalmente o facto de eles servirem para pouco mais que para aumentar tensões internas na própria União – demonstram que as divergências civilizacionais são mais fundas que os buracos causados por qualquer míssil terra-ar.

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