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Abranhos e a Nau Catrineta

Quando um ministro decide demitir um almirante porque este não vai ao mesmo alfaite do que ele e acha que está a reformar a tropa é porque julga que está a comandar uma Nau Catrineta. E não é o caso.

Alípio Abranhos inaugurou uma nova forma de fazer política em Portugal. A genial criação de Eça de Queiroz demonstrou que não era necessária competência para um cargo: bastava comprar uns patinhos de plástico para que um político se mantivesse à tona de água, entre uma intriga e uma declaração sonante. A sua sofisticação política passava por não saber, ao fim de 18 meses como ministro da Marinha e do Ultramar, onde ficava Timor (o seu secretário elogia-o porque “o que prova isso, senão que a sua vasta inteligência, toda voltada para os altos problemas políticos, não dava valor a essas pequenas ciências de exactidão local?”). E não poupa farpas a quem, por ingenuidade, o corrigiu porque Abranhos dissera que Moçambique ficava na costa ocidental de África (“Que fique na costa ocidental ou na costa oriental, nada tira a que seja a doutrina que estabeleço. Os regulamentos não mudam com as latitudes!”, escreve Zagallo). Hoje há muitos ministros que são injustamente acusados de serem cópias de Alípio Abranhos. Nada de mais exagerado. Abranhos só houve um.

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