O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu mudou de discurso: depois de ter passado os últimos dois meses a reclamar o apoio da comunidade internacional – tendo afirmado, entre outras coisas, que as democracias deviam estar do lado certo da história – esta quarta-feira descartou esse apoio e afirmou que “nada nos impedirá de destruir o Hamas”, descartando assim, segundo a imprensa israelita, a necessidade desse apoio.
As declarações foram ditas numa visita a um centro de detenção no sul de Israel, onde agentes do Hamas detidos na Faixa de Gaza estão a ser interrogados por uma unidade de inteligência das forças de defesa (IDF), a IDF’s 504 Human Intelligence Unit.
De acordo com o gabinete do primeiro-ministro, Netanyahu foi ‘briefado’ sobre o trabalho da unidade e os procedimentos de interrogatório, tendo depois afirmado aos envolvidos que “continuamos até o fim, até à vitória, até à eliminação do Hamas" – mesmo diante da pressão internacional. "Nada vai parar-nos".
Nenatyahu também expressa apreço pelo trabalho dos militares em Gaza, acrescentando que "ontem tivemos um dia muito difícil", quando dez soldados foram mortos numa emboscada do Hamas no norte do enclave.
Alinhado no mesmo desígnio, o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Eli Cohen, disse que a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza continuará "com ou sem apoio internacional". " Um cessar-fogo no estágio atual do conflito é um presente para a organização terrorista e permitirá que o Hamas regresse e ameace israelitas", disse, de acordo com um comunicado divulgado pelo seu ministério.
Entretanto, Estados Unidos e Reino Unido anunciam novas sanções contra elementos do Hamas. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos impôs medidas sancionatórias a oito membros ou apoiantes do Hamas que têm promovido o financiamento do grupo radical a partir do exterior. É a quarta ronda de sanções, que atingem pessoas de Gaza, da Cisjordânia, mas também libaneses e os turcos.
"O Hamas continua a depender fortemente de redes de apoiantes bem posicionados, explorando jurisdições aparentemente permissivas para direcionar campanhas de recolha de fundos e canalizando esses recursos ilícitos para apoiar as suas atividades militares em Gaza", disse o subsecretário do Tesouro para Terrorismo e Inteligência Financeira, Brian Nelson.
Do seu lado, o Reino Unido sancionou o cofundador do Hamas, Mahmoud al-Zahar, residente em Gaza, bem como outras seis pessoas. "O Hamas não pode ter futuro em Gaza", disse o ministro britânico das Relações Exteriores, David Cameron, citado pelos jornais do Reino Unido. "As sanções contra o Hamas e a Jihad Islâmica continuarão a cortar o seu acesso ao financiamento e a isolá-los ainda mais". "Continuaremos a trabalhar com os nossos parceiros para chegar a uma solução política de longo prazo para que israelitas e palestinianos possam viver em paz", concluiu.
Por outro lado, uma sondagem dada à estampa pela Al Jazeera afirma que 92% dos palestinianos que vivem na Cisjordânia querem a renúncia do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas. A sondagem já teve mais importância: de facto, nas primeiras semanas da guerra, Abbas era apontado como um possível futuro presidente do enclave – que passaria a funcionar em conjunto com a Cisjordânia – mas essa fase foi ultrapassada.
Será de recordar que o embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira – e como ele com certeza toda a rede de embaixadores israelitas espalhadas pelo mundo – que Mahmoud Abbas tinha autoridade necessária e suficiente para responder pelos palestinianos, dada a sua legitimidade política, que emanava de eleições (mais ou menos) democráticas. Mas também neste particular o governo de Israel mudou: na semana passada, o primeiro-ministro disse que a Autoridade Palestiniana era uma espécie de versão ‘soft’ do Hamas – com a diferença de que o grupo radical queria destruir Israel de imediato e a Autoridade Palestiniana aos poucos. Ou seja, Israel acabava de descartar Abbas como possível interlocutor para o pós-guerra.
A sondagem vem dar razão aos analistas, que há muito afirmam que Abbas deixou de ter qualquer legitimidade política. Para isso apontavam, aliás, sondagens de 2021 que afirmavam que a Autoridade Palestiniana não tinha qualquer hipótese de ganhar ao Hamas nas eleições que estavam previstas para maio de 2021 e que nunca chegaram a realizar-se.